Sem emenda - Às armas!
Por António Barreto
Aqui estamos, mais uma vez, a
bramar “às armas!”. Como sempre. Como noutros séculos. Quando os Portugueses,
alguns Portugueses, não encontram desculpas para as suas asneiras, recorrem ao
patriotismo. Quando os governantes não sabem resolver os problemas que herdaram
ou criaram, entoam hinos. Quando os dirigentes querem escapar, atribuem as
responsabilidades ao inimigo externo. Mas sobretudo quando não têm meios nem
razão, logo apontam o dedo a um perigo estrangeiro. Já foi a Espanha dos
Filipes, já foi a Inglaterra dos Piratas e já foi a França do Terror e de
Napoleão. Também já foram os americanos. E os comunistas, russos de
preferência. Já foi o petróleo e os dólares. Agora, são os Europeus. Os de
Bruxelas, em geral. Os da Alemanha, em particular. Os da direita, da banca e
das finanças, mas estrangeiros. São eles os responsáveis pelas nossas dívidas,
os causadores das nossas perdas, os obreiros da nossa crise e os culpados das
nossas dificuldades!
Em vez de procurar valorizar o
que temos, de aproveitar o que sabemos e de organizar a economia; em vez de
investir, de diminuir o desperdício e de fazer obra útil; em vez de apenas gastar
o que temos, de atrair investimento externo e de trabalhar e poupar; em vez de
estudar, de nos governarmos com mais sabedoria e de fazer com que o Estado
respeite os cidadãos, em vez disso, procuram as autoridades comover os
sentimentos, confundir os espíritos e mobilizar contra alguém, o inimigo, o
adversário, a ficção dos que querem mandar em nós, a invenção dos que não
respeitam os Portugueses e a fantasia dos que não honram uma nação com oito
séculos de história!
António Costa, o seu Governo e os
partidos que o apoiam estão envolvidos num processo perigoso que vai acabar
mal. Desencadearam uma guerra contra a União. Atiraram-se à Europa. Batem o pé,
como gostam de dizer. Levantam a voz ou falam com voz grossa, como prometem em
comícios vulgares. Não aceitam a chantagem europeia, declaram em tom marialva.
Não estão cá para obedecer à Europa! Garantem que em Portugal são os
Portugueses que mandam e não aceitam lições de ninguém!
O Governo recusa mostrar à
Comissão um rascunho de orçamento que, aliás, ninguém lhe pediu! Insiste em
gastar e distribuir. Não corta na despesa. Contraria a Espanha e o Reino Unido.
Critica a Alemanha. Procura aliados na extrema-esquerda, coisa pouca. O Governo
não tem meios, nem força interna, nem aliados externos que lhe permitam esta
espécie de “baroud d’honneur”,
o último combate de uma guerra perdida! De luta simbólica para dar o exemplo.
De sacrifício que faça um mártir e nos transforme em heróis! Portugal não tem
riqueza, nem recursos, nem capacidade para, sozinho, contrariar as regras da
economia europeia e mundial, obter os créditos de que necessita, conseguir os
investimentos de que carece. Não se deve cantar mais alto do que a sua
garganta. Nem dar passos maiores do que os seus pés. Muito menos cantar de galo,
quando não se tem voz nem poleiro. António Costa e o Governo estão a
preparar-se para desencadear uma luta para a qual não têm meios, nem força. E
nem sequer razão.
É claro que a União Europeia está
em apuros e não sabe qual é o seu destino. Há anos que se espera pela crise em
que vivemos hoje. A União Europeia está à beira de morrer na praia, como diz o
lugar comum. Foi longe de mais e não foi suficientemente longe. Não é
equitativa, distingue entre grandes e pequenos. Não é justa, só castiga os
fracos. Não é igualitária, segue as directivas alemãs. Longe de mais para dar
paz e democracia. De menos para a segurança e a disciplina. Mas nada justifica
que o governo português invente uma guerra contra a União. Será sempre uma
guerra contra si próprio.
-
DN, 17 de Julho de 2016
Etiquetas: AMB
1 Comments:
A União Europeia está à beira de morrer na praia...E com ela a esperança de um mundo melhor O que vai restar?A ditadura de um "capitalismo selvagem" dirigido pelo Goldman Sachs e quejandos
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