As eleições e o futebol
Por C. Barroco Esperança
A proibição de jogos de futebol, em dias de eleições, seria uma medida injusta e decerto contraproducente. A cidadania não se defende por decreto, nem se impõe, por coação, o cumprimento das obrigações cívicas. Por que motivo, aliás, se impediria uma atividade desportiva e se excluiria a missa, a praia ou qualquer outro espetáculo?
Para quem não tem consciência cívica e se alheia da ‘res publica’, não é o futebol que o afasta das urnas, e é duvidoso que o voto obrigatório, diminuindo o nível de abstenções, seja a forma mais adequada à pedagogia da cidadania. Não é levando os eleitores presos pela arreata que se promove a consciência cívica.
É evidente que, no dia das próximas eleições autárquicas, a marcação de um jogo entre duas grandes equipas de futebol, das duas maiores cidades, com numerosos adeptos que vibram apaixonadamente pelos seus clubes, não facilita o cumprimento das obrigações cívicas de quem empreende uma longa viagem.
Há, para os adeptos de uma das equipas, muitas centenas de quilómetros a separá-los da cidade onde o jogo se realiza e onde não querem faltar com o seu apoio. Cada um sabe o que lhe dá mais prazer e não é de censurar quem troque a obrigação pela devoção.
Não se esperando que a Liga de Futebol Profissional fosse propriamente uma instituição preocupada com a intervenção cívica e o exercício democrático eleitoral, é de crer que a agilização do ato de votar é necessária, não apenas para os amantes de futebol, mas para todos o que são obrigados a ausentar-se do seu domicílio em dias de eleições.
Se não me trai a memória, a marcação de um jogo amigável entre o SCP e o Benfica, no tempo da ditadura, em Lisboa, sabotou uma manifestação dos empregados de escritório, antecipadamente marcada para a mesma hora.
Eis uma boa razão para ser permitida uma forma mais expedita para o exercício do voto. O voto antecipado ou outras soluções eventualmente possíveis, desde que fiáveis e com garantia de secretismo, são desejáveis para combater a abstenção. Assim fosse confiável o voto dos emigrantes nas eleições legislativas.
Confiar a defesa da democracia à Liga de Futebol Profissional é como esperar a isenção partidária da direção do Automóvel Clube de Portugal.
Etiquetas: CBE
3 Comments:
Hum! O voto antecipado, faz-me espécie, ou melhor, não consigo confiar em quem o haveria de guardar...
Mas se já podemos fazer operações bancárias e lidamos com as finanças através da "net" em boa segurança, não percebo como não se arranja uma maneira fiável e segura de votar electronicamente.
Se fosse para os cidadãos pagarem, já estava feito...
Quanto ao resto, sim, concordo.
José Batista:
Eu próprio manifestei reservas por saber as desconfianças que merecem os votos da emigração.
Sendo a participação eleitoral o que me move, apenas procuro que uma solução fiável, sem proibições.
Obrigado pelo comentário, e também penso que há soluções técnicas que eu desconheço para resolver o problema.
Concordo com o CBE
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