CAMINHOS PARALELOS
Por Joaquim Letria
O meu
querido amigo Tony de Matos cantava uma famosa canção de amor daquela época que
falava dos desacertos que todos conhecemos, em que às tantas dizia que “as
nossas vidas são dois caminhos paralelos”. Hoje, quando se fala nessa genial
realidade geométrica, ou nos estamos a referir às economias subterrâneas ou a
um aparelho de ginástica aplicada.
Um estudo da
Universidade de Linz, na Áustria, usa um indicador seguro para avaliar a
situação das ilegalidades financeiras: a chamada economia paralela ou
actividades económicas clandestinas. Após pesquisarem e analisarem, com a ajuda
da revista britânica The Economist, chegaram a conclusões supreendentes, como
aquela que estabelece a Espanha e a Itália no topo desse campeonato.
Ambos os países
têm mais de 20 por cento dos respectivos PIBs (Produto Interno Bruto) em
economia paralela, ou seja, em actividade produtiva não contabilizada. O estudo
debruça-se sobre 17 países cujas economias são cotejadas, baseando-se no
pressuposto de que a economia paralela funciona de dinheiro na mão (cash,
efectivo, papel) como forma de evitar o controle do fisco.
O curioso é o
estudo estabelecer que o reino de Espanha é o rei do paralelo e a nossa querida
e vizinha Galiza a sua amada raínha. Segundo os analistas que conferem os
prémios nesta classificação, a Galiza está destacada bem à frente do resto de
Espanha graças ao contrabando, actividade tradicional dos nossos irmãos
galegos.
25 por cento do
PIB da Itália são gerados em actividades clandestinas (lembremo-nos da Cosa
Nostra, Andrigueta e Gomorra, mais os independentes e os pequenos “empresários”, além de todo o resto dos italianos), seguem-se-lhe a Espanha e a Bélgica, bem
acima dos 20 por cento.
A Alemanha, país
com fama de cumpridora e de rectos cidadãos respeitadores das leis, em cada
sete marcos um foge ao Fisco, valor semelhante ao registado em França. Abaixo
dos 10 poor cento só temos os Estados Unidos, o Japão a Áustria e a Suiça.
Pena que Portugal não apareça no
estudo. Mas tão apertadinhos que nós andamos, mesmo tirando as feiras e a venda
à beira das estradas e os arrumadores de automóveis não deve escapar grande
coisa aos cofres do Estado. Só aquilo que o Estado quer que escape e convém a alguém.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
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