27.4.18

CAMINHOS PARALELOS

Por Joaquim Letria
O meu querido amigo Tony de Matos cantava uma famosa canção de amor daquela época que falava dos desacertos que todos conhecemos, em que às tantas dizia que “as nossas vidas são dois caminhos paralelos”. Hoje, quando se fala nessa genial realidade geométrica, ou nos estamos a referir às economias subterrâneas ou a um aparelho de ginástica aplicada.
Um estudo da Universidade de Linz, na Áustria, usa um indicador seguro para avaliar a situação das ilegalidades financeiras: a chamada economia paralela ou actividades económicas clandestinas. Após pesquisarem e analisarem, com a ajuda da revista britânica The Economist, chegaram a conclusões supreendentes, como aquela que estabelece a Espanha e a Itália no topo desse campeonato.
Ambos os países têm mais de 20 por cento dos respectivos PIBs (Produto Interno Bruto) em economia paralela, ou seja, em actividade produtiva não contabilizada. O estudo debruça-se sobre 17 países cujas economias são cotejadas, baseando-se no pressuposto de que a economia paralela funciona de dinheiro na mão (cash, efectivo, papel) como forma de evitar o controle do fisco.
O curioso é o estudo estabelecer que o reino de Espanha é o rei do paralelo e a nossa querida e vizinha Galiza a sua amada raínha. Segundo os analistas que conferem os prémios nesta classificação, a Galiza está destacada bem à frente do resto de Espanha graças ao contrabando, actividade tradicional dos nossos irmãos galegos.
25 por cento do PIB da Itália são gerados em actividades clandestinas (lembremo-nos da Cosa Nostra, Andrigueta e Gomorra, mais os independentes e os pequenos “empresários”, além de todo o resto dos italianos), seguem-se-lhe a Espanha e a Bélgica, bem acima dos 20 por cento.
A Alemanha, país com fama de cumpridora e de rectos cidadãos respeitadores das leis, em cada sete marcos um foge ao Fisco, valor semelhante ao registado em França. Abaixo dos 10 poor cento só temos os Estados Unidos, o Japão a Áustria e a Suiça.
Pena que Portugal não apareça no estudo. Mas tão apertadinhos que nós andamos, mesmo tirando as feiras e a venda à beira das estradas e os arrumadores de automóveis não deve escapar grande coisa aos cofres do Estado. Só aquilo que o Estado quer que escape e convém a alguém.

Publicado no Minho Digital

Etiquetas: