Sem emenda - Mistérios por desvendar
Por António Barreto
Hoje é Dia de Portugal! Dia das
Comunidades! Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas! Dia da
Raça! Dia da Raça portuguesa! Dia de Camões! Cada designação vale um regime, um
tempo e uma moda. Uma boa maneira de comemorar o país seria conhecer melhor e
estudar mais. E desvendar mistérios.
Onde estão realmente as fontes da profunda desigualdade social em
Portugal? Na lei? Na propriedade? Nos sistemas de sucessão e herança? No fisco?
Nos costumes? Na religião? Na falta de liberdade? No analfabetismo? Na pobreza?
Por que razões Portugal é mais desigual do que países com menos rendimento
(Polónia, Roménia), parecidos (Grécia e República Checa) e com mais rendimentos
(Reino Unido, França)?
Por que razões a mobilidade social é tão reduzida em Portugal? Por que é
tão difícil “subir na vida”? Por que motivos o crescimento do produto, tão
impressionante nos últimos quarenta anos, teve tão pouca influência na
diminuição dos graus de desigualdade?
Por que motivos teve Portugal taxas de analfabetismo únicas na Europa em
1900 (80%, contra 2% a 10% nos países do Norte) e até aos anos 1960 (mais de 35%)?
E ainda está hoje em último lugar entre todos os países industrializados? Onde
estão as causas? Pobreza? Catolicismo? Ausência de Reforma? Atraso geral?
Ignorância das elites? Ruralidade? Falta de indústria? Fraqueza da sociedade
civil? Centralismo do Estado?
Como se explica o facto de a Justiça em Portugal não se ter reformado
nem modernizado depois do 25 de Abril? E por que razão foi tão difícil ou
impossível a Justiça adaptar-se à democracia, ao Estado de Direito, à
integração europeia, ao capitalismo e à economia de mercado?
Quem são hoje os militares em Portugal? Que influência têm na sociedade
e na política? Que pensam dos assuntos públicos? Exercem cargos ou funções de
poder? Serão simples burocratas ou funcionários públicos? São meros contratados?
Há que recear alguma intervenção política dos militares nos próximos anos? Ou
há que desejar uma sua intervenção?
Como se explica o facto de não haver liberalismo em Portugal? Nem
liberais? Nem partidos liberais? E o facto de “liberal” ser mesmo um insulto
político?
Por que nunca se contou, com investigação rigorosa e completa, a
história das reprivatizações em Portugal, com passagens de pessoal dos partidos
para as empresas e vice-versa, com homens de palha e testas de ferro dos
partidos que eram mandatários de capitalistas, com “barrigas de aluguer” da
política portuguesa que serviam de intermediários de aventureiros que não
podiam concorrer directamente? Por que ainda não se fez um verdadeiro “Gotha” dos
governantes, deputados e gestores que fizeram carreira na política, nos
partidos, nas empresas públicas e depois, alternada ou sucessivamente, nas
empresas privadas que eles próprios reprivatizaram?
Por que não se sabe realmente o que se passou com as escutas telefónicas
(relativas a Sócrates) mandadas destruir por Noronha do Nascimento e Pinto
Monteiro? Quem ficou a ganhar com tal destruição? Se não tinham importância,
por que foram destruídas? Se eram muito importantes, por que se destruíram?
Por que se diz hoje com tanta insistência que, afinal, não foram destruídas?
Quem foram os responsáveis pela quase destruição do BCP, da PT, da CIMPOR,
do BPN, do BPP, do BANIF?
Como foi realmente possível fazer um buraco de mais de 5 mil milhões no
BPN? Onde está esse dinheiro? Como foi possível fazer um buraco de mais de 9
mil milhões no Grupo Espírito Santo? Onde está esse dinheiro? Como foi
possível que, já depois da “resolução”, ainda tivessem fugido do BES mais de
três mil milhões de euros?
Quanto é que a CGD gastou, empatou e perdeu em negócios estranhos
levados a cabo por decisão política, designadamente no BCP, no BES, no GES, no
BPN, no BPP e na PT?
Por que nunca se fez um “atlas” ou um elenco completo de todas as
Parcerias Público Privadas, uma a uma, com indicação dos beneficiários, dos
bancos envolvidos, dos sobrecustos suportados pelo Estado, dos riscos atribuídos
sempre ao Estado e dos benefícios sempre concedidos às das empresas privadas?
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4 Comments:
Sempre muito lúcido, Sr. Professor.
Tanta pergunta e tanta falta de resposta. Aflitivo!
As perguntas que muitos farão em surdina,pois se as fizessem em voz alta,ninguém os ouviria e portanto não teriam resposta
Muitas e boas perguntas, que os nossos deputados (ou não serão nossos? talvez sejam - e são - dos «chefes» dos partidos...) a que nunca fomos capazes de exigir respostas. Tem sido assim, a nossa pobre democracia.
Ui, que coisa mal escrita, aquele meu comentário.
Poderia ter sido escrito mais ou menos assim:
«Muitas e boas perguntas, a que os nossos deputados (ou não serão nossos? talvez sejam - e são - dos «chefes» dos partidos...) nunca foram capazes de exigir respostas. Tem sido assim, a nossa pobre democracia.»
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