6.1.19

O Celibato dos Padres

Por Filomena Mónica
Em Fevereiro próximo, terá lugar no Vaticano uma reunião sobre os casos de pedofilia envolvendo sacerdotes. Diante dos presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, o Papa dirá de sua justiça. 
A pedofilia no interior da Igreja Católica tem séculos de existência. Acontece que a hierarquia escondeu dos fiéis este fenómeno, tendo muitas vezes – escândalo ainda mais grave – pago às vítimas com o intuito de as silenciar. Segundo fontes bem informadas, o grande responsável por tudo o que recentemente se passou foi o Papa João Paulo II, que, durante cerca de vinte anos, optou por meter o escândalo debaixo do tapete. Nos EUA, entre meados de 1980 e 2004, a Igreja entregou 2,6 biliões de dólares às vítimas que pretendiam levar os seus casos a tribunal. Seguiram-se idênticos fenómenos na Irlanda, na Austrália, em Inglaterra, no Canadá e no México.
Até tarde na vida, não fazia a menor ideia de que isto envolvesse sacerdotes altamente colocados. Sempre que, falando com católicos, mencionava tal facto diziam-me tratar-se de calúnias. Até que começaram a aparecer, nos países onde a liberdade de expressão é tomada a sério, notícias sobre os abusos de menores praticados por padres importantes. Fiquei atenta. 
No passado dia 14 de Agosto, um tribunal da Pensilvânia divulgou o que, ao longo de décadas, se tinha passado não só com padres mas com o Cardeal McCarrick. Nos anos 1980, haviam começado a circular rumores de que este tinha por hábito convidar jovens seminaristas para a sua casa de praia e que, uma vez lá, lhes pedia para irem para a cama com ele. Apesar disto ser do conhecimento do Papa, João Paulo II nomeou-o arcebispo de Washington. 
E que se passa no nosso país? Tal como sucede com a Conferência Episcopal espanhola, a portuguesa tem mantido um silêncio cúmplice sobre o assunto. D. Manuel Clemente, que preside à Conferência Episcopal portuguesa, afirmou recentemente que «o número de casos de abuso sexual de menores por membros do clero católico em Portugal não é comparável ao de outros países» (Público 18.11.2018). Disporá ele de números? Se sim, por que não os revela? Já agora lembro que, no encontro de Natal com os funcionários do Vaticano, o actual Papa agradeceu aos jornalistas internacionais o terem tido a coragem de revelar a podridão no seio da Igreja Católica. 
Uma coisa é o cenário de párocos rurais que mantêm «governantas» que satisfazem os seus instintos libidinosos ou as tradicionais donas de pensão que albergavam padres, o que era tolerado pelos fiéis: basta lembrar o caso de São Joaneira, a amante do cónego Dias no romance O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós. Outra, os abusos de inocentes praticados por quem por eles deveria velar.
Estranhamente, poucos católicos relacionam os casos de pedofilia e, já agora, os de homossexualidade, com o facto de os padres católicos não se poderem casar. A maioria pensa ser tal facto um dogma, mas bastar-lhes-ia estudar a História da Igreja para ficarem a saber que só no século XII foi o celibato dos padres decretado obrigatório.
Expresso de 5 Jan 19

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3 Comments:

Blogger Ilha da lua said...

O ano está a começar da melhor maneira!
É, com imensa satisfação, que vejo regressar ao Sorumbático a Maria Filomena Mónica.

6 de janeiro de 2019 às 14:42  
Blogger SLGS said...

Bom regresso MFM. Uma voz inteligente, quase sempre polémica,mas muito necessária. Bem-vinda.

6 de janeiro de 2019 às 17:05  
Blogger José Batista said...

Saúdo o regresso de Maria Filomena Mónica, e com um tema cheio de pertinência e actualidade, tratado com a clareza de sempre. Felicito-a e agradeço-lhe.
Bom ano e muitos textos.

6 de janeiro de 2019 às 18:41  

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