Uma comovente história de amor
Por Joaquim Letria
A mulher do presidente do banco Caixa Agrícola recebia uma subvenção de dois mil e picos euros só para estar ao lado do marido, apoiando-o moral e animicamente, enquanto ele galhardamente desempenhava o seu papel de banqueiro.
Licínio Pina não só explicou isto como justificou a subvenção com o facto de necessitar da companhia e acompanhamento da mulher no seu dia a dia. E justificou que teria apresentado esta exigência no dia em que foi convidado para o cargo que desempenha. A D. Maria da Ascensão Pina, que era professora de profissão, sacrificou-se assim a continuar a ser o ai Jesus do Engenheiro Pina, mandando os dilectos alunos às urtigas. Uma coisa destas não se faz de ânimo leve, daí a subvençãozinha de dois mil e tantos euros para compensar a D. Maria da Ascensão do sacrifício.
Tudo isto andou bem até alguém ter informado o Banco de Portugal do que se estava a passar. O Engº Licínio disse que isso eram boatos e cartas anónimas e chegou mesmo a dizer aos jornais que o interrogaram que nada disso era verdade e que a D. Maria da Ascensão era uma abnegada professora. Mas alguém que percebe de contas foi ver melhor e então o Engº Licínio passou a dizer que, afinal, sim senhor: precisava da mulher junto dele, mas a subvenção que a Caixa agrícola lhe pagava era retirada do seu salário bruto.
Mas a questão não ficou esclarecida por um simples pormenor: é que o vencimento do Engº Pina, no desempenho daquela função, era de trezentos e muitos mil euros por ano quando começou. E depois o Engº Pina passou a receber quatrocentos e muitos mil euros por ano donde retirará o diminuto estipêndio para a D. Maria da Ascensão.
Creio que S. Exa. O Presidente da República, tão justamente preocupado com a injustiça da situação dos curadores, que bem merecem ser compensados pelo seu real sacrifício, ficará animado com este exemplo. Não é que a D. Maria da Ascensão tenha de dar os comprimidos, limpar o rabinho e mudar as fraldas do Engº Licínio. Mas decerto que faz muito por ele e pelo sistema bancário.
Enfim, o que as más línguas não conseguem destruir, por pior que digam deste casal de mão dada, é esta comovente história de amor.
Publicado no Minho Digital
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