24.7.20

A inesquecível Maria de Lurdes Modesto

Por Joaquim Letria
Maria de Lurdes Modesto, a inesquecível autora dos programas de televisão e de livros de culinária que ainda hoje ninguém igualou nem esqueceu, completou, no passado dia 1 de Junho, 90 anos de idade.
Foi em 1958 que Maria de Lurdes Modesto se estreou na televisão com um programa que de imediato se tornaria num dos mais vistos no país, atraindo com a sua simpatia e conhecimento tanto mulheres como homens.
A mais famosa gastrónoma do País, título que ainda hoje ninguém lhe arrebatou, depressa se converteu em concorrente de Berta Rosa Limpo, autora do fascinante livro de culinária, “O Pantagruel”, uma espécie de Bíblia dos gastrónomos.
Todavia, não foi como gastrónoma que Maria de Lurdes Modesto se estreou na televisão, meio que conquistaria até hoje. Foi como actriz numa Noite de Teatro da RTP que Maria de Lurdes Modesto enfrentou as câmaras pela primeira vez, ao representar em directo a peça “Monsieur de Pourcecaugnac” numa produção do Liceu Francês com encenação da RTP.
Maria de Lurdes saiu-se tão bem na sua estreia televisiva que depressa foi convidada a vir para Lisboa e  a participar  em programas televisivos, deixando a sua cidade natal de Beja. Como condição disse: “Só se for um programa para mulheres.” E foi dessa maneira que a professora de trabalhos manuais do Liceu Charles Lepierre se estrou a cozinhar em directo, sem teleponto e carregada de nervos que depressa se convertiam em experiência, conhecimento e saber do que mostrava e falava.
Por simples curiosidade, deixem-me que lhes diga que o seu primeiro prato seria algo de estranhar para a maioria do paladar tradicional dos espectadores: um prato de alcachofras que foi um estranho sucesso... Só passados anos de programas a seguir ao telejornal, naquela TV triste e a preto e branco é que Maria de Lurdes Modesto se atreveu a publicar o seu primeiro livro, “As Receitas da TV”. Maria de Lurdes Modesto recebia caixotes de cartas de espectadoras que se lhe dirigiam e nesse seu livro confessava com modéstia: “Ao preparar os meus programas não é difícil decidir-me por uma receita. Basta atender os numerosos pedidos das senhoras espectadoras”.
Simples, simpática, culta e conhecedora daquilo que fazia, Maria de Lurdes Modesto nunca valorizou o seu valor como educadora, como estrela de TV e uma vez num jantar em que ficámos lado a lado disse-me  que “ o meu programa não significa nada de importante”.
Maria de Lurdes Modesto é autora da “Grande Enciclopédia da Cozinha”, e de “Cozinha tradicional Portuguesa", o livro de culinária mais vendido de sempre em Portugal, além duma vasta obra onde sempre teve a preocupação da componente saudável da nossa alimentação. Faz compotas deliciosas e continua desperta e interessada por tudo que anima a nossa vida.
Publicado no "Minho Digital"

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Parabéns a Maria de Lurdes Modesto, pelo seu valor e pelas virtudes raras da simplicidade, da proximidade e da discrição.
E a Joaquim Letria, por no-la recordar.

24 de julho de 2020 às 10:24  
Blogger Ilha da lua said...

Só uma pessoa como JL para recordar é homenagear nesta sua crónica,alguém conhecido e reconhecido na sua arte e que para muitos ditos eruditos é de somenos importância Nunca escreveriam duas linhas sobre ela

24 de julho de 2020 às 17:40  

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