TARDE DEMAIS
Por Joaquim Letria
Crescem e praticamente generalizam-se as críticas de que o Governo actuou tarde e a más horas nos preparativos para enfrentar a nova vaga de COVID-19 que nos afoga.
Não basta atirar números do antes e do depois para nos convencer que o Governo fez, ou tentou fazer, coisas para enfrentar a segunda vaga da pandemia. Obviamente que fez. Mas entre Junho e Setembro descansou e não pode agora disfarçar a desorganização e a impreparação para o que se abate sobre nós, nem desculpar-se com o argumento esfarrapado de que a vaga chegou muito mais cedo do que era aguardada.
Os hospitais estão sem capacidade, há doentes a serem transferidos de Norte para Sul, o pessoal de saúde, médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares está esgotado, sem recursos suficientes, mal pago, mal tratado, grande parte sem sequer ter tempo para ver a própria família e outros sem protecção suficiente para si próprio e até já os hospitais militares foram mobilizados.
A par do drama da saúde há os sectores económicos que mais sofrem com esta crise e que, para além do desgaste das empresas, da falência do resgate das actividades e da possível recuperação para um equilíbrio mínimo do País, oferecem uma mão cheia de nada a pessoas, a famílias inteiras, a jovens desmotivados e sem futuro.
Sem dar a mão a estas actividades, a estas empresas e a estas pessoas, não há forma de mais à frente conseguirmos arrancar para um futuro menos negro. Entretanto, estes sectores afundam-se por ter havido incapacidade, falta de antecipação, e por existir um amontoado crescente de burocracia e incompetência que sufoca e atrasa todos os que procuram agarrar-se a uma tábua de salvação, perdidas que foram a convicção, a confiança e a esperança. Vemos sectores inteiros afundados no sentimento de que não vão conseguir resistir.
Muito poderia ter sido previsto e cuidado antes de milhares de pequenos comerciantes, industriais e trabalhadores terem chegado ao desemprego, à falência, ao desespero.
Pode ser que venha alguma ajuda para alguns. Mas não tenham dúvida de que aquilo que vier, vem tarde demais.
Publicado no Minho Digital
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