25.11.20

Prefácio do meu livro, “AS PEDRAS NA CIÊNCIA E N A CULTURA”, a publicar brevemente pela Âncora Editora


Por A. M. Galopim de Carvalho

O livro «As Pedras na Ciência e na Cultura» é uma «viagem» extraordinária pelo universo das rochas, de que a generalidade das pessoas tem um conhecimento superficial. Numa escrita primorosa, o rigor da informação e a objectividade são conseguidos com uma liberdade de exposição e uma «tonalidade» de escrita só ao alcance de quem possui uma vastidão de conhecimentos e uma capacidade de comunicação fantásticas, baseadas na paixão pelo saber e na vontade de o partilhar com o público.

Muito ganha o leitor ao iniciar esta «viagem». Porque pode seguir como quiser, do início ao fim, ou saltar pelos temas, voltar atrás, ou começar até do fim para o princípio, que não perde por isso. É como se navegasse num livro impresso tradicional, porquanto, cada tema ou capítulo é claro e atractivo em si mesmo e harmoniza-se com os restantes. Pode seguir ou «vaguear» por diversos «percursos», tamanha é a riqueza dos conteúdos, em termos científicos, mas também de cultura geral, onde cabem a explicitação dos étimos, a poesia, os adágios, o conto, a escultura, a arquitectura, a toponímia, ou a referência aos vultos que engrandece(ra)m a História do conhecimento geológico. Em qualquer caso, o leitor é transportado muito para além do estudo específico de minerais e rochas, como sejam as relações de uns e de outras com a economia dos povos e seus usos e costumes – a sua cultura, ou o modo como influencia(ra)m paisagens e seres vivos ao longo dos tempos.

Como se não bastasse, para entendimento do que é esta bola planetária em que nos cabe viver, há ainda a explicação alargada, em linguagem simples, dos impactos de corpos rochosos na Terra e das cicatrizes que deixaram nela, como que a transportar-nos para os limites do entendimento de quem somos no universo. Acresce, a cada passo, a revelação de curiosidades pertinentes que aumentam o prazer da leitura e a bagagem de conhecimentos.

Naturalmente, o livro também se presta valiosamente a visitas curtas ou consultas pontuais, em qualquer altura, aos seus diversíssimos temas ou a algum dos seus dois glossários finais. 

Ao elucidar os fenómenos naturais (e artificiais) da origem e alteração de minerais e rochas, além de explicitar com clareza muitas das condições, das técnicas e das tecnologias com que o ser humano, desde as suas origens, procedeu à sua exploração e emprego, o livro «As Pedras na Ciência e na Cultura» poderia, resumidamente, classificar-se como uma obra de decifração (em linguagem acessível) do que as «pedras» são, da sua importância na litosfera (do grego lithos, rocha, e sphaira, esfera), das suas utilizações possíveis e da informação que nos podem fornecer. Como as «pedras» são o suporte em que a Natureza registou a sua História, não há como estudá-las para se entender o passado da Terra, imensamente anterior ao aparecimento da espécie humana, e conhecer os mecanismos geodinâmicos fundamentais, prevendo ou antecipando, de algum modo, os fenómenos geológicos que podem ocorrer no presente e no futuro, com implicações mais ou menos dramáticas no mundo vivo e nas realizações humanas. Esse estudo importa ainda como meio de alargar os conhecimentos que permitam explorar e transformar sustentavelmente os recursos minerais, assegurando a qualidade ambiental e o respeito pela importância dos geomonumentos. 

É muito importante a divulgação e a compreensão, mesmo pelas pessoas comuns, dos mecanismos básicos e gerais da origem das diferentes rochas e das condições em que podem converter-se umas nas outras, ao longo do tempo geológico, num ciclo (petrogenético) não perceptível à escala temporal dos humanos, porque de uma dimensão muitíssimo mais longa. O Professor Galopim de Carvalho, no seu labor incansável e fecundo, fala-nos de tudo isso com a paixão serena de quem ama o que sabe e se dedica inexcedivelmente a divulgar o que estudou e aprendeu.

E fá-lo como poucos, contagiando com o seu entusiasmo os que tiveram o privilégio de terem sido seus alunos e muitos dos que leem o que escreve (em livros e revistas, em jornais, em blogues diversos ou nas redes sociais) ou ouvem as suas comunicações, sejam crianças de tenra idade, jovens ou adultos.

Por consequência, este livro nasceu com tanto empenho e generosidade, quanto o desejo de aumentar a literacia dos portugueses, numa área em que a preparação geral é tendencialmente fraca. Uma parte muito significativa do público-alvo são (ou deviam ser) os professores do 3º ciclo do ensino básico (7º - 9º anos de escolaridade) e do ensino secundário. Especialmente para esses, a obra surge plena de oportunidade. Da acção pedagógica dos professores depende a formação dos jovens, a qual, no que se refere à Geologia, e devido a factores vários, continua a revelar falhas comprometedoras e notória impreparação geral. Ora, nada melhor que (in)formação rigorosa e fundamentada, de preferência exposta com o dom da clareza, da elegância e da economia de palavras, numa escrita plena de harmonia nos termos e nos conceitos, no discurso, nas ideias e nos conhecimentos, que o saber e a arte do autor tornam próxima e convidativa. Livros assim são como que «acções de formação» (cómoda, fácil, agradável e proveitosa) sobre conteúdos relevantes prontos a assimilar e sempre disponíveis.

Mas o livro «As Pedras na Ciência e na Cultura» pode também ser muito útil no ensino universitário, sobretudo para os estudantes de ciências geológicas e áreas relacionadas dos primeiros anos, quer pelas falhas de preparação de anos anteriores, quer pela visão integrada e global da abordagem às «pedras» que proporciona. 

Assim, ganham todos os leitores interessados numa cultura geral abrangente ou em conhecimentos específicos, desde o fabrico da cal e do cimento, às aplicações artesanais e industriais do barro, à elaboração da calçada portuguesa, à exploração de adubos, do gesso, do sal, do alumínio, do ferro, dos carvões ou das pedras preciosas, passando pela informação fornecida pelo estudo dos meteoritos, tudo isso e muito mais aqui harmoniosamente tratado pela pena do Professor Galopim de Carvalho. E de que ele nos fornece vastíssimos exemplos, por todo o território português ou em quaisquer locais do planeta - a “bola colorida” que é a nossa casa e onde temos que encontrar e gerir responsavelmente tudo o que precisamos para sobrevivermos enquanto espécie biológica.

Em boa hora este livro viu a luz do dia. Lê-lo é um prazer que faz crescer. É essa a sua função. Aproveitemos, em benefício próprio e em homenagem ao Bom Mestre e Homem Bom que o produziu.

Com admiração profunda e sentido agradecimento”.

José Batista d’Ascenção

1 Comments:

Blogger José Batista said...

Este livro é também uma viagem muito bela e esclarecedora pelas palavras: da sua origem ao seu significado actual e, nalguns casos, da sua evolução e relação com outras.
Que maravilhoso seria Portugal, se os portugueses (em geral) lessem (um bocadinho que fosse).

26 de novembro de 2020 às 22:57  

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