23.9.21

“Nova Costa d’ Oiro” de Setembro de 2021

 

ULTIMAMENTE, tenho pensado muito em António Guterres — e vou explicar porquê:

Por estranho que pareça, só muito tarde vim a saber que tínhamos andado juntos no Liceu Camões, em Lisboa, o mesmo sucedendo com Mariano Gago, vindo ambos a ingressar no Técnico em 1965, que eu já frequentava desde o ano anterior. Curiosamente, enquanto eu estabeleci, com o segundo, uma amizade que se prolongou até ao seu falecimento (em 2015), o mesmo não se passou com Guterres, que não frequentava o mundo do associativismo estudantil. No entanto, recordo que ele aparecia de vez em quando na A.E., pedindo-me para fazer uns cartazes — era muito simpático e falador, estava sempre sorridente... mas dele não recordo mais nada, e até nisso posso estar enganado. No entanto, mais tarde, os nossos caminhos ainda se cruzaram: com o Mariano Gago, devido a trabalhos relacionados com a Sociedade da Informação; com Guterres, por causa dos famigerados submarinos, um processo bizarro em que eu estava envolvido, pois trabalhava na Efacec, uma das empresas interessadas nas “contrapartidas”.


Pois bem, nas eleições AUTÁRQUICAS de 2001, os resultados do PS foram maus, e Guterres, a pretexto disso, fugiu do “pântano”, abrindo o caminho a Durão Barroso — e, por aí, a Paulo Portas, que “trespassou” os submarinos ao fornecedor alemão com o apoio do BES... e mais não digo, até porque não é disso que quero falar. O que quero referir é o facto de Barroso ter feito o mesmo que o antecessor (dessa vez com o pretexto de ter perdido as eleições EUROPEIAS de 2004), também ele defraudando os eleitores que, julgando ter votado para escolher quem melhor tratasse da sua terra ou dos interesses do seu país, afinal tinham, nos dois casos, votado para o GOVERNO, como se essas eleições fossem LEGISLATIVAS! Ora, se a ideia é essa, então para quê gastar tempo e dinheiro em três eleições, quando uma daria para tudo? 

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A UM OUTRO nível, Jorge Sampaio e António Costa também não se ensaiaram em abandonar os eleitores de Lisboa que neles haviam confiado para dirigir a respectiva Câmara Municipal, interrompendo os respectivos mandatos para irem fazer pela vida noutro lado, levados pela “atracção de Peter”, pois todo o indivíduo tende a sair de onde está, numa viagem sem retorno até ao seu Nível de Incompetência. Claro que há excepções: o próprio autor do Princípio de Peter explicou que não tinha enunciado uma “lei”, mas sim um “princípio”, pois uma pessoa inteligente consegue resistir à tentação — e talvez estivesse a pensar nos que preferem DESCER em vez de SUBIR, como Calisto Elói, a personagem camiliana de A Queda de um Anjo que abandonou a presidência da sua Câmara Municipal para ir para deputado, abdicando do papel relevante que tinha (sendo a pessoa mais importante da sua terra), preferindo o aconchego de um grupo parlamentar onde, tal como hoje sucede, a vontade própria de um deputado, quando se manifesta, até é notícia na Comunicação Social.

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AQUI chegados, é possível que haja leitores que perguntem o que é que tudo isso tudo tem a ver com Lagos. Se assim for, haja quem lhes explique, pois o espaço de que esta crónica dispõe chegou ao fim.

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(*) –M. C. Escher (1898-1972), holandês famoso pelos seus desenhos ricos em paradoxos, de que se destacam as escadas em que umas tristes personagens não sabem se estão a subir ou a descer.


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