14.10.21

A social-democracia está de volta?

Por C. B. Esperança

Passada a solidariedade, que o fim da guerra (1939/45) exigiu à martirizada Europa, foi-se perdendo o sentido da justiça social. A deriva neoliberal fez caminho com Margaret Thatcher, secundada por Reagan e líderes da América Latina, nomeadamente Color de Melo e Fernando Henriques Cardoso, e exerceu influência deletéria inclusive em órgãos multilaterais, FMI e Banco Mundial.

As últimas três décadas acentuaram o neoliberalismo, na Europa e no Mundo, com a descida ao inferno dos mais carenciados, da Europa e dos EUA à China onde um Estado designado comunista usa a ditadura para o mais desalmado liberalismo económico.

Os partidos conservadores europeus, com exceção da CDU alemã, onde a presença forte da estadista Angela Merkel, evitou desvios nacionalistas, tenderam para uma direita de contornos nacionalistas, fortemente neoliberais e, até, antidemocráticos. O PP espanhol, agora mais próximo do VOX do que da matriz conservadora e democrata-cristã, está a tornar-se um perturbante exemplo ibérico. 

Não parece que a mentalidade dos povos, passada a fase mais aguda da pandemia, onde os Estados tiveram forte intervenção, tenha readquirido o sentido da solidariedade ou que o perigo real da exaustão dos recursos da Terra, com a explosão demográfica, o consumo infrene e a ilusão do crescimento contínuo, tenha despertado o sentido de compaixão.

Há, no entanto, alguns sinais de esperança na Europa que parecia condenada a escolher entre a direita democrática e a extrema-direita. Os últimos resultados eleitorais dos países nórdicos levaram a social-democracia ao poder na Suécia, Dinamarca, Finlândia, Islândia e, agora, também na Noruega, embora com governo minoritário, depois de não conseguir acordo com os partidos mais à esquerda.

Na Alemanha o partido mais votado foi o SPD e, nas recentes eleições locais italianas, o PS e o Partido Democrático melhoraram os resultados.

Estamos longe de ver consolidada uma situação que recupere décadas de neoliberalismo e nos liberte das ameaças nacionalistas e fascizantes que, sobretudo a Polónia e Hungria representam. No plano económico até o governo do Reino Unido, fortemente neoliberal, foi obrigado a uma política social-democratizante durante a pandemia.

Não regressámos ao equilíbrio nem estão consolidadas as tendências recentes, mas é já um motivo de esperança para quem teme a deriva nacionalista, xenófoba e neoliberal que ameaçava dominar a Europa.

Ponte Europa Sorumbático

 

Etiquetas: