27.5.22

SÓ O BERARDO É QUE NOS FALTOU AO RESPEITO?

Por Joaquim Letria

Antes do espectáculo de Joe Berardo no Parlamento já eu tinha falado na garagem do bi-comendador na Madeira, única coisa que se conhece que o homem possui e que terá sido bastante para sacar mil milhões à banca.

Agora toda a gente fala em Berardo e, sobretudo, todos dando mostras de grande indignação.

É verdade que o homem esteve ali a tourear a Assembleia da República e cuspindo para cima de todos nós. Mas a verdade é que já muitos outros fizeram o mesmo ou pior e ninguém se irritou nem quando eles se riem e gabam entre os seus amigos.

Será que a cara de parvo e a falta de memória de Vitor Constâncio não terá sido idêntica à boçalidade de Berardo? Um fulano que é vice-presidente do Banco Central Europeu e não se lembra dos dez anos da sua vida que passou como Governador do Banco de Portugal não está a gozar connosco? É que não se tratou duma ou outra imprecisão, ou duma possível vaga ideia, estamos a falar de amnésia total! É isto algum respeito pelo Parlamento e por todos os cidadãos, acima do desplante de Berardo!?

E o papel de estúpido representado por Zeinal Bava, ex-administrador da PT, que também foi ali garantir que não se recordava das negociatas que fizera com outros em nome daquela que poderia ter sido uma companhia de bandeira, a par da TAP, não terá também sido um desplante, uma falta de vergonha, principalmente quando diz não ter ideia de quando pagou 800 milhões de euros?! E alguém se indignou com esse  papel?!

E quando o ex-ministro da Defesa foi ao Parlamento explicar que não sabia nada do roubo das armas de Tancos e depois também lá vai um general dizer que pensava ter uma ideia como as armas tinham sido entregues por quem as roubou numa palhaçada a que chamaram de achamento não estão a faltar-nos ao respeito?!

Então já não se lembram da Maria Fernanda Barbosa, directora da cadeia de Paços de Ferreira, quando foi explicar aos deputados como na sua prisão os reclusos se divertiam e até chegavam a organizar bailaricos? Não estaria a senhora a gozar com os deputados e a chamar-nos parvalhões!?

O Joe Berardo abusou. Certo. Mas não andaram estas encomendas todas a gozar connosco? E já agora: os fulanos da banca que entraram nestes esquemas a mando de políticos e estes que faziam as jogadas vergonhosas de que nos vamos dando conta tiveram algum respeito por nós? O mal disto tudo é que daqui a uns dias já não se fala nisto. Como se deixou de falar em Pedrógão.

Quando comecei a ser repórter e escrevia sobre casos de crime, havia um velho polícia que me dizia: ”Isto só se resolve metendo todos dentro para averiguações”. Lembro-me muitas vezes dele e hoje acho que ele tinha razão.

Publicado no Minho Digital

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