19.6.22

No “Correio de Lagos” de Maio de 2022


«À medida que uma discussão numa rede social se alonga, a probabilidade de surgirem insultos tende para 100%»

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I — QUEM anda pelas redes sociais sabe perfeitamente que, se afixar um ‘post’ (ou um simples comentário) acerca de política, desporto ou religião, terá de se defrontar, mais cedo do que tarde, com insultos — desde os mais brandos até aos mais soezes —, estranha realidade que pode ser muito boa como terapia para quem tem problemas com a vida, mas que inquina irremediavelmente qualquer troca de opiniões que se pretenda séria e construtiva. Na verdade, e como podemos ver pelo que se passa na nossa terra, está tudo muito bem enquanto os temas são cães e gatos perdidos e achados, fotos do nascer e do pôr-do-sol, procuras e ofertas de trabalho ou de casa... e por aí fora. Mas ai de quem publique, em termos críticos, imagens de lixo não recolhido, de esbanjamento de água em tempos de “seca extrema”, de cortes de palmeiras em “ananás”, ou de uma infestação de algas! Ai de quem proteste contra passeios onde os peões não têm o direito de circular, contra a ocupação abusiva de lugares de estacionamento destinados a deficientes motores... e por aí fora — pois, nessa altura, caem-lhe em cima os que assumem como suas as dores dos incompetentes, misturando palavreado digno de taberna com os mais do que prováveis erros de ortografia, num fenómeno a que tenho chamado “Lei de Godwin à lacobrigense” — expressão porventura pouco adequada, para cuja explicação terei de recuar até aos “anos 90”:

QUEM teve o seu primeiro contacto com a Internet por essa altura, certamente se lembra do Netscape, um “navegador” que tinha 85% da quota de mercado, pois era de utilização fácil, enquanto que, e por incrível que pareça, Bill Gates dizia que a Web não tinha grande interesse, criando até uma rede (paga à parte!) com o nome de “Microsoft Network”, e um “browser” que pouca gente usava. Ora sucedia que esse tal Netscape era a ferramenta ideal para aceder à chamada Usenet, de que os mais velhinhos talvez se lembrem por causa dos “grupos de discussão”, que, sendo os antepassados das nossas redes sociais, eram aos milhares e para todos os gostos e temas. E foi por ser um assunto socialmente muito importante, que um tal Mike Godwin, advogado, se dedicou a estudá-lo, tendo concluído que «À medida que uma discussão ‘online’ se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Hitler ou os nazis tende para 100%» — é essa a “Lei de Godwin”, que, como se sabe, aparece actualmente, em todo o seu esplendor, a propósito da guerra na Ucrânia; mas o autor também constatou que isso era válido independentemente do tema em causa, sendo até possível estabelecer um momento crítico (o chamado “Ponto de Godwin”), que ocorre quando uma pessoa, já falha de argumentos, resolve invocar aquelas sinistras personagens — deixando assim claro que não vale a pena continuar a discutir com ela.

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II – ORA, DE ENTRE os inúmeros exemplos que guardo de situações como as que atrás referi, tenho especial ‘carinho’ pela que documento com uma imagem de 19 de Abril de 2018. E, neste caso, a data é importante porque a situação (uma cratera, com cabos eléctricos desprotegidos, junto à Escola de Sta. Maria e aos parques infantis existentes ao pé dela), que já vinha de trás, se manteve assim até 31 de Maio, quando os ferros e as fitas de protecção (?) há muito tinham sumido, e ali ao lado os insufláveis já estavam montados, prontos para receber os garotos que, no “Dia da Criança”, ali iriam acorrer.
Ora, e como talvez se lembre quem acompanhou o assunto nessa altura, não faltou quem insultasse... não os responsáveis pelo ‘atentado’, mas sim quem repetidamente apelava a uma intervenção que, quando foi feita, apenas suscitou, a esses  “críticos dos críticos”, o inevitável “Mais vale tarde do que nunca!” — uma das muitas máximas que os incompetentes (e os seus amigos) trazem sempre debaixo da língua.

 

 

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