18.11.22

As fofas prisões dos sofás

Por Joaquim Letria

O que acontece num sofá não tem paralelo.

Verdade que se pode igualmente fazer noutro sítio mas não é a mesma coisa do que fazê-lo num sofá.

Pode-se amar, comer, dormir, ler jornais, reler livros, perder o slip, a virgindade ou a paciência, pensarmos que o mundo está louco, irmos à guerra, ouvirmos os marginais, visitarmos os bairros de lata, escutarmos o Presidente a falar só connosco, ganharmos o totoloto, acharmos que a vida está cada vez pior, pensarmos que temos muita sorte de vivermos aqui.

Tudo se encontra e se pode fazer num sofá. O problema é livrar-nos da sua dependência. Nada se perde num sofá. O problema é livrar-nos da sua dependência, a dificuldade reside na dificuldade que reside na capacidade necessária para deixar de ver, ou passar a ignorar, as coisas e loisas mais raras da realidade que escolhem e insistem em nos oferecer, de diversos ângulos e em câmara lenta, de modo a ficarmos só com a realidade alternativa  e virtual, que nos resta e, essencialmente, nos interessa.

Publicado no Minho Digital

Etiquetas: