17.11.22

EUA, Donald Trump e o estado do Mundo

Por C. B. Esperança

Há dois anos o aldrabão contumaz pode ter sido removido definitivamente, até pela sua idade, mas o Trumpismo mantem-se vivo na América, e alastra no Mundo com matizes locais, sendo o mais tosco avatar Jair Bolsonaro, o mais aristocrático Boris Jonhson, e com diversas nuances os da Hungria, Polónia, Sérvia e muitos outros países.

O Trumpismo não é uma ideologia, é um estado de espírito que agrega o negacionismo dos factos, vacinas, resultados eleitorais, direitos individuais, civilização e ciência, com um narcisismo que funde nacionalismo, religião, tradições e violência. 

Derrotado em 2020, com mais 7 milhões de votos do que aqueles com que venceu as eleições em 2016, Trump é a prova insofismável de que os EUA estão doentes, talvez a prenunciar o fim da hegemonia global, com o Planeta a não suportar durante muito mais tempo tantos atropelos contra as florestas, a biodiversidade e o clima, com a população a ultrapassar os 8 mil milhões de habitantes para os quais minguam a água, o oxigénio, os alimentos e a esperança de futuro.

A recandidatura de Trump, anunciada após a recente derrota pessoal contra o partido Democrata, cuja política externa é igualmente oriunda dos interesses do complexo militar industrial dos EUA, terá resistências no seu partido, mas a ideologia, ou a sua ausência, é já o paradigma da direita radicalizada, nos EUA e no Mundo.

A queda acidental de um míssil na Polónia, que a Nato e o PR polaco já atribuíram ao “fogo amigo”, um acidente oriundo de Kiev e não de Moscovo, como desejavam todos os belicistas, ansiosos pela guerra que pode exterminar a Humanidade, revela a insânia dos povos que interiorizaram o ódio, a violência e o espírito de vingança.

As numerosas guerras em curso, os milhões de refugiados em todos os continentes, os mortos, estropiados e famintos, os terramotos, inundações, secas, incêndios e outras catástrofes, com cada vez maior intensidade, frequência e duração, parecem não servir de alerta a quem detém o poder para a tragédia que atingirá os nossos filhos e netos.

Quando se negam as evidências e se vive, numa pequena parte do Mundo, como se não houvesse deveres para com os países pobres, os pobres dos países ricos e as crianças de todos os continentes, é o suicídio coletivo que se procura, ignorando apelos lancinantes do secretário-geral da ONU, do Papa e de outros humanistas, os avisos dos cientistas e os sinais da crescente aproximação do abismo.

A América racista, xenófoba, isolacionista e patriarcal, versão grotesca do mundo do Antigo Testamento, encontrou no robô que soube fugir aos impostos e ganhar dinheiro, o seu modelo. A América sofisticada, culta e cosmopolita é cada vez menor, e o resto do Mundo, talvez por mimetismo, é cada vez mais parecido.

E não há um sobressalto universal contra as guerras, as armas, os ataques aos Direitos Humanos, as desigualdades e os nacionalismos agressivos! 

A primeira geração suicida, a nossa, pode ser a última. A liberdade já está encarcerada.

Ponte Europa / Sorumbático

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