Reflexões sobre a in-justiça
(Cidadãos, de nacionalidade desconhecida, desconfiados da Justiça do seu país...)
I - Para o cidadão-comum, a discussão em torno do tempo que devem durar as férias judiciais parece não fazer muito sentido.
Sendo a Justiça um bem essencial, não será o mesmo que discutir quanto tempo, por ano, deveriam fechar os quartéis de bombeiros, a EDP, a PT ou as urgências dos hospitais (independentemente de, nestas actividades, as pessoas terem - evidentemente - as suas férias)?
Bem... a menos que se considere que, embora essencial, a Justiça não é urgente.
II - Entretanto, já nos esclareceram que se trata de um falso-problema:
Actualmente, "só" os tribunais é que fecham durante dois meses. O resto das actividades de Justiça "só" fecha durante um.
Este "SÓ" merecia um poema! - António Nobre até ficou famoso com um livro com esse título (a nem escreveu mais nenhum...)
III - Imagine-se um carro que tem os pneus estão em baixo, a suspensão partida e o tubo de escape a cair.
Juntam-se várias pessoas para resolver o(s) problema(s), e uma delas diz:
«Antes de mais, vamos tratar dos pneus!».
Os outros, de mãos nos bolsos, torcem o nariz e sentenciam, sabiamente:
«Sim, mas isso, só por si, não basta...» - e, assobiando, afastam-se.
IV - Lê-se no «Correio da Manhã» de hoje:
Quem não partilha do entusiasmo da eficácia desta medida para o funcionamento da Justiça são os diferentes operadores judiciais (...)
O bastonário da Ordem dos Advogados, Rogério Alves, descreveu a medida como “emblemática”, mas salvaguardou que, se não houver outras iniciativas de simplificação processual, a redução das férias nada trará de novo.
No mesmo sentido, Baptista Coelho, da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, considerou que,“só por si, não é solução mágica”.
Pode-se saber se o problema é mesmo «só por si»?
5 Comments:
Artigo de Vital Moreira, em «Causa Nostra», sobre o mesmo assunto:
«Fim de privilégios»
A redução das férias judiciais é justa e só peca por defeito. Não há razão nenhuma para que os tribunais estejam encerrados durante tanto tempo -- se é que se justifica o seu encerramento de todo em todo (sobretudo tendo em conta a morosidade da nossa justiça) -- e que os agentes do sistema de justiça tenham na pratica mais férias do que os demais servidores públicos.
Já agora também não se vê por que é que os funcionários do Ministério da Justiça hão-de ter um serviço de saúde diferente do dos demais funcionários públicos. É mais do que tempo de lhe pôr fim.
De resto, o Governo faria muito bem em proceder a um levantamento abrangente das situações de privilégio existentes no sector público administrativo. A Administração pública não deve confundir-se com um conjunto de feudos ministeriais.
--
(http://causa-nossa.blogspot.com/2005/03/fim-de-privilgios.html
Muito bem! Pelos vistos, este assunto das férias não fica SÓ por aqui. ;-)
Caro senhor:
Faço - lhe SÓ uma pergunta: Alguma vez entrou num tribunal ou acompanhou o seu dia a dia real ?
Talvez - lendo previamente o estatuto das carreiras forenses- no mínimo...- aperceber - se in loco das condições, volume de despachos e sentenças diárias e trabalhos aos fins de semana e volume de horas semanal de trabalho o ajudasse, pelo menos, a dominar um pouco o tema e depois ajuizaria da bondade e/ou insuficiência da "medida" proposta.
E desde logo veria que há uma diferença entre o período legal de férias judiciais e as férias dos juízes e demais intervenientes judiciários, sendo certo que os Tribunais não estão encerrados: sempre há funcionários , juízes e procuradores de turno.
Venham as medidas- já agora depois de «dialogadas»...- mas sem demagogia e interligadas devidamente com as que verdadeiramente interessam.
Com os melhores cumprimentos
Maria da Luz Figueiredo
A opinião de Bacelar Gouveia também é interessante:
http://dn.sapo.pt/2005/03/24/opiniao/reduzir_ferias_judiciais_so.html
Obrigado pela referência.
Vitalm
**********************************
Vital Moreira, professor
Faculdade de Direito, Universidade de Coimbra / Law School, University
of Coimbra
Pátio da Universidade, 3004-545 COIMBRA (Portugal)
E-mail address: vitalm@ci.uc.pt
Weblog: http://www.causa-nossa.blogspot.com/
"O farol é a vida; o paraíso pode esperar" (graffito num farol de
Veneza).
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