10.5.05

O incrível casal Diospiro

TENHO, entre os meus maiores amigos, um casal de sessenta e poucos anos que tem uma interessante particularidade:

Tanto ele como ela têm medo (a palavra certa é «pavor») de tudo o que possa parecer-se com computadores ou que, mesmo muito remotamente, lhes possa fazer lembrar informática.

A tal ponto que, da primeira vez que decidiram utilizar o multibanco, foi um acontecimento na família!

A aventura passou-se assim:

FORAM os dois. Começaram por procurar um terminal que não tivesse ninguém por perto e aproximaram-se da maquineta sorrindo, com um misto de nervosismo e intrepidez...

Depois, no seguimento de algumas tentativas (não esquecer que «há quatro hipóteses possíveis»...) lá introduziram o cartão na ranhura. Em seguida esperaram, ansiosos, pelo que iria acontecer.

Em breve, «com um rangido assustador» (são palavras dele), uma tampa subiu e expôs aos seus olhos duas coisas horrorosas: um teclado e um monitor!

Ainda mal refeitos do susto, um texto intimou-os, então, a introduzir o código!

«Teclas tu? Teclo eu?» - o certo é que começaram ambos a tremer... e o cartão acabou por ser ingloriamente «chupado».

Nunca mais quiseram «tal coisa» e retomaram o processo antigo de ir ao banco, sempre que necessário, levantar dinheiro para as despesas da semana.

O único problema, agora, é quando têm de ir ao estrangeiro, especialmente a países onde o Euro não circula:

Como não podem levar o cartão de débito (pois recusaram-se a pedir aquele ou qualquer outro, e nem querem ouvir falar em cartões de crédito), vão, com calma e tempo, comprar as divisas necessárias.

Depois, e para se precaverem de assaltos durante a viagem, cada um mete as notas numa bolsinha de flanela que ela fez, e que é fixada nas cuecas com alfinete-de-ama.

Um dia destes sucedeu o que eu já esperava: a milhares de quilómetros de casa... o dinheiro acabou-se! E ei-los, a ambos, a comer bolachinhas e a dormir fiado, até que um envio de fundos feito pela família os salvou!

De regresso, perguntei-lhes (com palavras cuidadosamente escolhidas), se não lhes tinha servido de emenda.

«Claro!» - respondeu ele. «Nunca mais voltamos a ser apanhados com falta de dinheiro! A minha mulher já fez duas bolsas novas, que levam mais do dobro das antigas!!».