Raio de crise!
ACHO que já aqui falei dele, mas só agora soube que lhe chamam «o Zé-do-boné» - por andar sempre com um, já se vê.
Tem uns vinte anitos, usa uma argolinha na orelha esquerda, e é encontrável nas Avenidas Novas, que percorre sempre muito depressa como se estivesse em risco de perder o comboio.
E trabalha que se farta, embora a sua única ocupação seja esvaziar parquímetros (o que faz num ápice e à luz do dia, perante a impotência das autoridades, que cobre com o mais espantoso ridículo), tarefa para a qual usa, como ferramenta, um simples palito.
Hoje fui dar com ele, abatido, a falar com um colega de profissão.
Encostados a uma maquineta liam, sem esconder o seu aborrecimento, uma notícia do jornal «metro»:
«COFRES DOS EQUIPAMENTOS VÃO PASSAR A SER ESVAZIADOS MAIS VEZES POR DIA».
«Ora que grande porra!» - comentava o Zé - «Agora, por causa do défice, ainda querem que aumentemos o ritmo de trabalho!»
--
Foi publicada no jornal «METRO» do dia 6 Jun 05 (com grande destaque e fotografia, mas em nome de Carlos Ribeiro) uma versão adaptada, que está em "Comentário-2".
2 Comments:
...aumentar o ritmo de trabalho e a idade da reforma, claro, pois os sacrifícios são para todos!
E.R.R.
Versão publicada no jornal METRO:
---
OSPARQUÍMETROS E O DÉFICE
Chamam-lhe «o Zé do Boné» - por andar sempre com um, já se vê.
Tem uns vinte anitos, usa um brinco na orelha esquerda, e é encontrável com frequência nas Avenidas Novas, que percorre sempre muito depressa como se estivesse em risco de perder o comboio.
E trabalha que se farta!
A sua única ocupação é limpar o dinheiro dos parquímetros (o que faz num ápice e à luz do dia, perante a cobardia dos cidadãos e a impotência das autoridades, que reduz ao mais espantoso ridículo), tarefa para a qual usa como ferramenta apenas um pauzinho do tamanho de um palito.
Hoje fui dar com ele, abatido, a falar com um colega de profissão.
Encostados a um parquímetro liam, sem esconder o seu aborrecimento, a notícia do jornal «metro»:
«COFRES DOS EQUIPAMENTOS VÃO PASSAR A SER ESVAZIADOS MAIS VEZES POR DIA».
«Bolas!» - comentava o Zé - «Deve ser por causa do défice que agora ainda querem que aumentemos o ritmo de trabalho!»
Enviar um comentário
<< Home