29.6.05

A sugestão de Nuno Crato

A Matemática no Brasil:

Uma História do seu Desenvolvimento

COM apresentação de Ubiratan D’Ambrosio, este livro de Clóvis Pereira da Silva (sobre a história das matemáticas no Brasil) é uma reformulação da tese de doutoramento do autor, agora sob a forma de livro.

(Texto completo em "Comentário-1")

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A MATEMÁTICA NO BRASIL: UMA HISTÓRIA DO SEU DESENVOLVIMENTO
CLÓVIS PEREIRA DA SILVA
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(Texto de NUNO CRATO, adaptado do «Expresso)

Com apresentação de Ubiratan D’Ambrosio, saiu a lume a lume uma nova edição do livro de Clóvis Pereira da Silva sobre a história das matemáticas no Brasil. Trata-se de uma reformulação da tese de doutoramento do autor, agora sob a forma de livro. Esta obra, completamente rescrita e completada, constitui o único trabalho sistemático sobre a matemática no grande país sul-americano. Abrange todo o período que se inicia com a criação dos primeiros estabelecimentos de ensino coloniais e que termina nos anos de 1980.

No período a que se refere a primeira parte do livro — todos os primeiros três capítulos — a história da ciência e do ensino científico no Brasil é indissociável da história científica e escolar do nosso país. Os primeiros capítulos têm pois um interesse especial para o leitor português, pois traçam uma panorâmica de evolução das matemáticas em Portugal, em paralelo com uma análise do ensino na antiga colónia. Aprendemos alguns factos pouco honrosos para o colonialismo, tal como a proibição de criação de escolas superiores e de impressão de livros no Brasil até 1808.

Aprendemos também que a criação dos primeiros estabelecimentos de ensino foi obra de jesuítas e que só em 1572 é que o ensino primário passou a incluir uma disciplina de matemática/aritmética. Com obstáculos e limitações várias, o ensino no Brasil desenvolveu-se, mas continuou a ministrar apenas os níveis primário e secundário. Os jovens que o podiam fazer seguiam os seus estudos em Coimbra.
Com as invasões napoleónicas e a deslocação da corte para o Brasil, criou-se em 1810 a Academia Real Militar, que passou a ser o local de estudo privilegiado para as ciências exactas, incluindo a matemática. Muitos mais anos passariam até que, no começo do século XX, começaram a proliferar escolas superiores, um pouco por todo o país. Essas escolas tiveram uma duração efémera e descontínua. Só em 1934 é que seria fundada uma grande universidade, a de São Paulo.

Nas páginas que dedica à viragem do século XIX para o século XX, o autor revela-nos um factor muito negativo no desenvolvimento das matemáticas no Brasil: a influência do positivismo de Auguste Comte. Enquanto em muitos países a ideologia de Comte foi apenas uma curiosidade, no Brasil chegou a dominar o ambiente intelectual, conseguindo evitar o ensino de certas matérias matemáticas, consideradas pelos positivistas como perniciosas. Essa corrente filosófica era inimiga da especulação e da liberdade de explorar vias sem utilidade imediata conhecida. Sabe-se que a ciência em geral e a matemática em particular avançam a partir de conjecturas, singrando vias e completando teorias para as quais muitas vezes não se vislumbra uso directo. A ciência avança quando tem liberdade para especular.

Facto curioso do desenvolvimento do positivismo no Brasil é o carácter místico que esta corrente filosófica veio posteriormente a revestir. No Rio de Janeiro ainda hoje existe e tem vida activa um templo dos seguidores de Auguste Comte. O edifício, de arquitectura neoclássica, designa-se por «Igreja Positivista» e anuncia à porta que, aos domingos, aí se ensina o «catecismo positivista».
O trabalho de Clóvis Pereira da Silva não se queda no século XIX. Prossegue até perto da actualidade, com uma descrição cuidadosa das instituições e personagens que desenvolveram a matemática no Brasil. Na segunda metade do século XX, os matemáticos brasileiros criaram instituições de investigação, nomeadamente o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro, que têm vindo a desenvolver um trabalho de investigação e ensino de elevado nível. A leitura desta história das matemáticas no Brasil é particularmente interessante para nós, portugueses, nesta fase em que pretendemos alcançar novos patamares no nosso desenvolvimento científico.

Nos capítulos finais, o autor descreve brevemente as primeiras teses de doutoramento apresentadas no Brasil, o que confere ao livro um interesse documental para os historiadores. Ao relatar o desenvolvimento das matemáticas em meados do século XX, incluem-se ainda referências pormenorizadas aos matemáticos portugueses que se fixaram no Brasil ou que por lá passaram em consequência da perseguição salazarista. Por mais esta razão, o livro de Clóvis Pereira da Silva é uma obra de interesse para todos os que pretendem conhecer a história da matemática nos dois países.

29 de junho de 2005 às 20:51  

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