«Vai doer muito?»
QUANDO eu era miúdo, os médicos costumavam dizer-nos «Não vai doer nada!» - e, mesmo que depois doesse um pouco, estávamos descontraídos e não levávamos a mal a mentirinha, que era eficaz e «por bem».
Mas, um belo dia, tive uma desagradável surpresa:
Estava eu deitado de barriga para baixo, indefeso e semi-nu, numa marquesa de hospital, quando o médico que se preparava para me lancetar um quisto me avisou: «Olhe que vai doer! Vai até doer até um bom bocado!».
Quase entrei em pânico, e acabei por ficar a odiar o cavalheiro porque, afinal, não doeu nada!
Ao comentar esta peripécia com uma médica minha amiga, ela informou-me que se tratava de uma nova forma recomendada para o relacionamento médico/doente!
Pareceu-me isso uma modernice de uma estupidez sublime, mas também me dizem que, nos EUA, os médicos são obrigados a dizer ao doente o seu verdadeiro estado, mesmo que seja do género «Só tem 6 meses de vida».
Por cá, tem-se em conta o factor psicológico nas possíveis melhoras, e o doente pode ir sendo «enganado», sem que daí (penso eu) venha grande mal ao mundo.
Vem isto a propósito (ainda...) de Campos e Cunha e de Sócrates, pois há poucas dúvidas que foi devido a essas duas concepções de «medicina» que eles se desentenderam (como quando o primeiro disse a verdade a respeito dos impostos ainda antes de tomar posse - enquanto o segundo, mesmo já à frente do governo, continuava a garantir o contrário!).
Imagino que, em muitos outros casos (no recato dos gabinetes ou do Concelho de Ministros), essa luta entre as duas «concepções de relacionamento com o doente» tenha sido épica. O epílogo foi agora, como se sabe, com os investimentos do TGV e da OTA.
Entretanto, o povão lá vai perguntando se vai doer muito - mas é claro já sabe a resposta, pois não tem quaisquer dúvidas sobre qual dos dois médicos lhe dizia a verdade...
Mas, um belo dia, tive uma desagradável surpresa:
Estava eu deitado de barriga para baixo, indefeso e semi-nu, numa marquesa de hospital, quando o médico que se preparava para me lancetar um quisto me avisou: «Olhe que vai doer! Vai até doer até um bom bocado!».
Quase entrei em pânico, e acabei por ficar a odiar o cavalheiro porque, afinal, não doeu nada!
Ao comentar esta peripécia com uma médica minha amiga, ela informou-me que se tratava de uma nova forma recomendada para o relacionamento médico/doente!
Pareceu-me isso uma modernice de uma estupidez sublime, mas também me dizem que, nos EUA, os médicos são obrigados a dizer ao doente o seu verdadeiro estado, mesmo que seja do género «Só tem 6 meses de vida».
Por cá, tem-se em conta o factor psicológico nas possíveis melhoras, e o doente pode ir sendo «enganado», sem que daí (penso eu) venha grande mal ao mundo.
Vem isto a propósito (ainda...) de Campos e Cunha e de Sócrates, pois há poucas dúvidas que foi devido a essas duas concepções de «medicina» que eles se desentenderam (como quando o primeiro disse a verdade a respeito dos impostos ainda antes de tomar posse - enquanto o segundo, mesmo já à frente do governo, continuava a garantir o contrário!).
Imagino que, em muitos outros casos (no recato dos gabinetes ou do Concelho de Ministros), essa luta entre as duas «concepções de relacionamento com o doente» tenha sido épica. O epílogo foi agora, como se sabe, com os investimentos do TGV e da OTA.
Entretanto, o povão lá vai perguntando se vai doer muito - mas é claro já sabe a resposta, pois não tem quaisquer dúvidas sobre qual dos dois médicos lhe dizia a verdade...
2 Comments:
Reconheço que este texto revela algum confusão de sentimentos:
Por um lado (no caso do médico-propriamente-dito), um quase-desejo de ser ser enganado com o «não vai doer nada»; ao invés, no caso do "médico"-Ministro-das-Finanças, um desejo de saber a VERDADE...
O certo é que, no estado em que as coisas estão, também já não sei muito bem o que quero saber e o que prefiro ignorar!
Sempre gostei de contar com o que virá na sua realidade "real". Não gosto de pensos. :)
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