New Orleans Blues
NO dia em que cheguei a Nova Orleães a Casa Branca mandou começar a Guerra do Golfo, o que não foi uma coisa boa, nem para o mundo, nem para mim. O mundo ficou a conhecer melhor o gangster que queria tomar conta dele e eu perdi horas e horas no quarto do hotel a ver televisão por causa disso.
ANOS depois, agora que a ira do ciclone veio por a nu a face podre dos Estados Unidos, precisamente no que resta de Nova Orleães, vou buscar as minhas memórias desses dias. Olho demoradamente cada uma destas fotografias e revejo-me naqueles sítios. Guardo em cada imagem, intactos, os alaridos das ruas, os cheiros sensuais dos restaurantes, a agitação doce das multidões passando sob os balcões românticos da antiga Rue de l’Hospital, depois Gov. Nicholls St., e as vagas de blues saindo das portas sempre escancaradas dos bares de Bourbon St. Era mágico.
DEPOIS os diques cederam e cada vez mais, percebo cada vez menos. Aquela era a cidade onde a arte e a miséria tinham assinado um pacto de convívio, escrito nas ondas brandas do velho Mississipi. Porque havia de ser ali que a fúria dos ventos escolheria desvendar as desigualdades e as injustiças? Porquê ali?
Adapt. da Revista «24 Horas» de 17 Set 05
Texto de abertura de caderno 6 páginas
ANOS depois, agora que a ira do ciclone veio por a nu a face podre dos Estados Unidos, precisamente no que resta de Nova Orleães, vou buscar as minhas memórias desses dias. Olho demoradamente cada uma destas fotografias e revejo-me naqueles sítios. Guardo em cada imagem, intactos, os alaridos das ruas, os cheiros sensuais dos restaurantes, a agitação doce das multidões passando sob os balcões românticos da antiga Rue de l’Hospital, depois Gov. Nicholls St., e as vagas de blues saindo das portas sempre escancaradas dos bares de Bourbon St. Era mágico.
DEPOIS os diques cederam e cada vez mais, percebo cada vez menos. Aquela era a cidade onde a arte e a miséria tinham assinado um pacto de convívio, escrito nas ondas brandas do velho Mississipi. Porque havia de ser ali que a fúria dos ventos escolheria desvendar as desigualdades e as injustiças? Porquê ali?
Adapt. da Revista «24 Horas» de 17 Set 05
Texto de abertura de caderno 6 páginas
7 Comments:
curioso como o "Anos depois" descreveu Nova Orleães tal como eu a imaginava! A nova orleães do jazz, do blues, do mardi grass, do vodoo e da comida crioula, enfim a Nova Orleães de Anne Rice.Enfim, a cidade que já não existe e que dificilmente voltará a ser o que era, pois há cicatrizes que são graves demais para desaparecerem.
NEGROS, ONDE ESTÃO?
A América (e o resto do mundo) entrou em estado de choque com os pobres desalojados do Katrina. Negros, a maioria. Os jornais, as rádios, as televisões, os colunistas, os "pundits" apontam o dedo a uma pobreza americana, de raça negra, sulista, vítima da desigualdade, dos cortes orçamentais aos programas de combate à pobreza, dos cortes na Saúde e na Educação, dos cortes do welfare. Vítima do racismo e do esquecimento, da feroz desigualdade dos estados do sul, de maioria negra, em que os brancos
controlam o poder económico e social. Está tudo certo, é tudo verdadeiro. Mas, toda a gente sabe que existe uma classe média negra na América, com poderosas organizações de direitos civis. E que existe, tanto em Hollywood e Los Angeles, como em Chicago, como em Nova Iorque, um clube de milionários negros, poderosíssimos, que controlam o mercado da música rap que domina o mundo, controlam o merchandising da música rap, e controlam o mercado de raça negra consumidor desse merchandising (e não só, todos os miúdos brancos, de todo o mundo ocidental e abastado, copiaram a street fashion e os tiques dos rappers americanos. Yo!). Mas, alguém viu da parte desta gente, que se caracteriza pelo consumo conspícuo de moda de alta costura e logos, de diamantes, de roupas caríssimas, de iates e carros, de jactos privados, e de um estilo de vida ostentosos à boa maneira dos líderes africanos corruptos, alguém viu, dizia eu, um grande movimento de solidariedade e ajuda financeira aos seus irmãos negros do sul? Alguém viu P. Diddy, Lil Kim, Russell Simmons, Quincy Jones, Mary J. Blige, e os milhares de rappers milionários de Chicago e Nova Iorque e da Califórnia, fazer o que fizeram alguns actores e celebridades de Hollywood e ajudar, ou abraçar, um desgraçado que perdeu a família e os bens no Katrina? Alguém viu o reverendo Jesse Jackson, ou Eddie Murphy, ou inefável reverendo Al Sharpton, ou mesmo os boxeurs negros e bem de vida como Mike Tyson (e de Michael Jackson e da sua família nem é bom falar) levantarem a voz e a mão num gesto altruísta? Só Oprah Winfrey o fez, e tem feito, e continua a fazer. Ela é a negra mais bem sucedida da América e a que tem maior consciência social. O resto, não existe, ou existe egocentricamente. Corruptamente. Quando se culpa apenas a Administração Bush de tudo, e os brancos de tudo, de todo o racismo, deixa-se de lado o racismo de negros contra negros, o fosso entre ricos e pobres da mesma cor. Existe, e são poucos os que o saltam. Na América, como em África, quem menos ajuda os negros são os negros.
--
Clara Ferreira Alves
A Cartilha - Diário Digital 14 Set 05
EU vi o Rev Jessy Jackson e o milionário Quincy Jones - aqui citados - na CNN intervir de forma violenta e eficaz. E trazer para aqui o demente Michael Jackson é querer desvirtuar o debate. Na América há tantos negros racistas como brancos? E daí? Quem dirige o Estado nos EUA? São negros? Quem vive e manda, na Casa Branca, são negros? E quem falhou criminosamente, a tempo de prevenir a catástrofe, foram negros? A que despropósito vem esta lenga-lenga agora? Ontem mesmo o sr. Bush declarou ao seu país que confiava em Deus para compensar todo fracasso, que pela primeira vez admitiu. Em deus? Qual deus? negro? Por amor de Deus!!!
(esta mensagem é dirigida a quem teve e infeliz ideia de trazer para o blogue a infeliz crónica da Clara F. Alves)
Os blogues são (ou devem ser)espaços abertos, e as crónicas (supostamente) infelizes têm tanto direito à vida digital quanto os comentários que, por vezes, não o são menos...
C.E.
Só um momento! Mas quem disse que a crónica não devia ter sido publicada? Quem? Eu não. Limitei-me a contestá-la, não a censurá-la! Este misturar alhos com bugalhos cheira a esturro...
CFA: AQUI ESTAO OS NEGROS...
Sai de Portugal ha 10 anos para nunca mais voltar por causa do racismo (ou sera simplesmente irremediavel tacanhez de espirito ou pura e santa ignorancia?)...
Vejo que pouco ou nada mudou na cabeca de certas pessoas...
Sou negra e talvez seja impossivel encontrar uma pessoa mais critica das comunidades negras do que eu...
Mas, francamente, porque que certos jornalistas portugueses nao fazem o seu trabalho de casa antes de se meterem a escrever "cartilhas"??! Tenham la alguma integridade profissional, caramba!!! Ou sera simplesmente porque nao entendem Ingles? Se eh esse o caso, lamento, mas a informacao que ai vai abaixo nao existe em Portugues e eu nao sou tradutora!
NBC-TV's September 2 "Concert for Hurricane Relief" raised nearly $51 million for the victims of Hurricane Katrina. More donations will soon be pouring in from other fundraising events. On September 9, a one-hour, commercial-free telethon aired on eight national networks and more than 30 cable channels to 140 countries around the world. Performers on "Shelter From the Storm: A Concert for the Gulf Coast" included Garth Brooks, Kanye West, the Dixie Chicks, Alicia Keys, Rod Stewart, Paul Simon, Neil Young, Sheryl Crow, Mariah Carey, Mary J. Blige and U2. Proceeds will be donated to the American Red Cross and the Salvation Army. Also on September 9, BET (Black Entertainment Television) presented "S.O.S. (Saving Ourselves): The BET Relief Telethon" with performances or appearances by Stevie Wonder, Jay-Z, Diddy, Master P, Omarion, Rihanna, B
Top Artists Raise Millions for Hurricane Victims
By Mary Morningstar
Washington
10 September 2005
Michael Jackson has written a song called "From the Bottom of My Heart," which he plans to record to raise money for Hurricane Katrina relief efforts. Jackson is reaching out to other artists to join him on the project, as he did in 1985 for the "We Are The World" hunger benefit. Jackson released a statement that said, "It pains me to watch the human suffering taking place in the Gulf region of my country. My heart and prayers go out to every individual who has had to endure the pain and suffering caused by this tragedy."
David Banner, Q-Tip, Remy Ma, more in NY concert
*Following his star-studded benefit concert for Hurricane Katrina victims in Atlanta Saturday night, rapper David Banner is headlining another benefit show tonight in New York at B.B. King’s. The Mississippi rapper, whose Saturday night show for his Heal the Hood Foundation featured T.I., Nelly, Lil’ Jon, and others, will share the NY stage with Q-Tip, Remy Ma, Styles P, dead prez, and Dave Chappelle. Showtime stars at 10 p.m.
Twista’s Chicago Benefit Concert
*Chicago rapper Twista has called upon his fellow Chi-Town hip hop artists to perform a free concert that will serve as a platform for businesses and the public to donate food, clothes and money specifically for the victims of Hurricane Katrina. Da Brat, Do or Die, Shawnaa, Crucial Conflict and Bump J have been confirmed for the show, to be held at Chicago’s House of Blues on Sept. 19.
From the Big Apple to the Big Easy
*Fats Domino, the Neville Bros and Allen Toussaint are among the performers scheduled for a Sept. 20 benefit for Hurricane Katrina victims at Madison Square Garden. The New Orleans music legends will join Joss Stone, Lenny Kravitz, Earth Wind & Fire, Elton John, Rod Stewart and other artists for “From the Big Apple to the Big Easy." In addition to underwriting the show, Madison Square Garden will donate $1 million to Katrina-related fundraising efforts. Other acts on the bill include Jimmy Buffett, Stevie Nicks, Bette Midler, John Fogerty, Elvis Costello, Simon & Garfunkel, Loggins & Mussina, the Original Meters and the Dirty Dozen and Rebirth Brass Bands. Proceeds from both shows will go to the Bush Clinton Katrina Fund, Habitat for Humanity, the MusiCares Hurricane Relief Fund and the Children's Health Fund.
Jazz Jam in Brooklyn, NY.
*Brooklyn New York’s Fort Greene community will host a Jazz Jam on Tuesday, Sept. 20, from 7 to 11 p.m. at Night of the Cookers (767 Fulton St.). All proceeds will go to Habitat for Humanity International for the rebuilding of affordable homes in New Orleans.
International Association of African American Music Foundation Fundraiser
*Jill Scott, TI, Pretty Ricky and Michael Ealy are confirmed to attend the International Association of African American Music Foundation’s fundraiser for New Orleans Hurricane Katrina Victims on Sept. 24 from 11:30 a.m. to 4:00 p.m. at New York City’s Negril Village restaurant (70 W. Third Street – between Thompson Street and LaGuardia Place). Roy Ayers, Jean Carne, Slum Village, producer Young Lord, NYC radio personality, Egypt (Power 105) and author Teri Woods will also be on hand to mix, mingle and serve lunch to guest donors. A silent and live auction will include a Bahamas vacation with VIP passes to Kool & the Gang’s concert; a personalized voicemail message belted by Will Downing; plus items donated by Destiny’s Child, Jaguar Wright, E. Lynn Harris, Musiq and Eric Benet. Event attendance donations are $25 at the door and $25 for lunch. Proceeds will benefit a local New Orleans grassroots organization.
Mississippi Rising
*Morgan Freeman, Whoopi Goldberg and Debbie Allen are among the confirmed participants for "Mississippi Rising," a concert to be held Oct. 1 at the Coliseum at the University of Mississippi in Oxford to benefit the Mississippi and Louisiana hurricane recovery funds. The event is being organized by Mississippians Sam Haskell III, former worldwide head of television at WMA, and Lanny Griffith, partner in the Washington-based lobbyist firm Barbour Griffith & Rogers. Freeman, Ward, Archie Manning, John Grisham and Brett Favre will be honorary chairmen of the event. Other confirmed guests include Ray Romano, Sela Ward, Jason Alexander, Kathie Lee Gifford, Delta Burke, Gerald McRaney, Mary Haskell, Lance Bass, Marilu Henner, Kathy Ireland, Marilyn McCoo, Billy Davis Jr., Doris Roberts and Steve Azar.
ETC
ETC
ETC
Caro Medina Ribeiro
É possível dizer à senhora eu verifique as datas dos concertos, com excepção do dia 2. A ajuda veio tarde, e bem depois da outra ajuda. Mantenho tudo o que disse, acrescentando que a maioria dos artistas são brancos, ponto um, e
ponto dois que os negros só emprestam a sua presença e performance e são parcos em donativos em dinheiro. Quanto a racismo, existe dos dois lados, e
a senhora escusa d eser tão militante. Sou tudo menos racista, limito-me a verificar os factos, como, aliás, outros o fizeram na América. Como sempre, os concertos de solidariedade vieram a reboque da massa colectiva de desgosto, e trazem sempre uma componenete de reabilitação social de quem dá.
Veja-se Michael Jackson, que bem precisa reabilitar-se. A propósito, o concerto dele não se efectuou, por falta de comparência. Com excepção de
Oprah e de actores de Hollywwod, que, antes dos negros, acorrerem a New Orleans para ajudar. E já agora, se a solidadariedade negra é tão forte, como é que há tanta miséria nos bairros negros das cidades, e havia em New Orleans? Como há em Chicago, Los Angeles, Nova Iorque.P. Diddy e Russels
Simmons, Jay Z e outros, fazem fortunas a vender a brancos, e gastam conspicuamente,egoistamente.
A senhora escusa de se zangar tanto, só por ser negra. Isso não lhe dá autoridade suplementar, embora ela julgue que sim. Contra o racismo somos todos, obrigada.
CFA
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