E se um telejornal fosse apresentado por jornalista negro?
SEGUNDO o relato, tem havido cenas desagradáveis numa redacção de telejornal português: a minoria de raça negra dos jornalistas dessa redacção acha-se discriminada nos temas de reportagem que lhe são entregues. Em seu entender, os editores afastam-nos de certas reportagens (sobretudo assuntos relacionados com a imigração ou com política africana) e entregam-nos, exclusivamente, a jornalistas brancos. Segundo o mesmo relato, o assunto tem sido silenciado pelos outros media, incluindo jornais considerados de referência. Ou seja, em Portugal não se sabe que há uma televisão onde os jornalistas negros (ou de pele menos branca) estarão a ser racialmente discriminados, no exercício da sua profissão.
Esta história, que terá sido publicada por uma jornalista estrangeira que veio a Portugal passar férias em Junho, adiantava pormenores: nessa redacção de televisão trabalham apenas nove profissionais de raça não branca, todos portugueses nascidos em Portugal e licenciados em Jornalismo por escolas portuguesas. Apenas nove, um dos quais é um jovem de raça negra que apresenta regularmente telejornais e é, por isso, uma figura conhecida no país inteiro. A contestação terá ganho algum calor quando, há dias, um desses jornalistas foi retirado, à última hora, da cobertura do encontro de chefes de estado e de governo da CPLP em Bissau. Um editor tinha-o escolhido para o trabalho mas, na véspera da partida, terá sido substituído sem explicações. Acontece que o jornalista em causa é descendente de cabo-verdianos e acompanha, há anos, a vida política da lusofonia.
É evidente que não acreditei em nada disto. Nenhum português que vê televisão acreditaria. Em Portugal nenhuma televisão tem nove jornalistas não-brancos a trabalhar nas suas redacções e nunca ninguém viu um jovem jornalista negro a apresentar telejornais. Ponto.
Mas o absurdo desse relato fez-me reflectir sobre o facto de ele ser absurdo. Porque é que, num país aberto e democrático, onde os portugueses não-brancos têm todos os direitos de cidadania, não há caras de cor na informação televisiva – salvo escassas excepções? Um negro ou uma negra a apresentar telejornais seria uma hecatombe para as audiências? Por onde andam os jovens portugueses de raça negra, licenciados em jornalismo, em quantas redacções de jornais, de rádios ou de agência noticiosa? Não sei, mas dizem-me que a tal jornalista estrangeira andou por aí a farejar e, no seu artigo, terá escrito que são uma minoria escandalosa. Assim mesmo: escandalosa. E o título seria qualquer coisa como “Portugal - Racismo na TV”. Não li o artigo, não sei sequer se ele existiu, mas também é verdade que não teria dados para o contrapor porque, felizmente, em Portugal não se empregam profissionais de jornalismo em função de quotas rácicas e portanto essa estatística não existe – felizmente, repito. Ou seja, por uma boa razão eu não teria números para desmentir o escândalo daquela senhora.
… Mas fiquei cá a ruminar: e quantos serão, de facto, os portugueses negros jornalistas hoje admitidos nas nossas rádios, televisões e jornais? Em que proporção está a nação portuguesa fielmente reflectida nas redacções que trabalham para ela? Quantos são os homens e mulheres não-brancos, profissionalmente preparados, que estão em posição de influenciar decisões editoriais nos nossos media? Quantos jornalistas não-brancos conseguem hoje transportar para os poderes mediáticos a sensibilidade e a informação sobre a vida e a actualidade das suas comunidades de origem?
O relato que me fizeram sobre a tal suposta reportagem da tal suposta jornalista estrangeira (norte-americana, parece…) não passa de uma pedrada grosseira. Mas… que tal espreitar por debaixo do pedregulho?
Esta história, que terá sido publicada por uma jornalista estrangeira que veio a Portugal passar férias em Junho, adiantava pormenores: nessa redacção de televisão trabalham apenas nove profissionais de raça não branca, todos portugueses nascidos em Portugal e licenciados em Jornalismo por escolas portuguesas. Apenas nove, um dos quais é um jovem de raça negra que apresenta regularmente telejornais e é, por isso, uma figura conhecida no país inteiro. A contestação terá ganho algum calor quando, há dias, um desses jornalistas foi retirado, à última hora, da cobertura do encontro de chefes de estado e de governo da CPLP em Bissau. Um editor tinha-o escolhido para o trabalho mas, na véspera da partida, terá sido substituído sem explicações. Acontece que o jornalista em causa é descendente de cabo-verdianos e acompanha, há anos, a vida política da lusofonia.
É evidente que não acreditei em nada disto. Nenhum português que vê televisão acreditaria. Em Portugal nenhuma televisão tem nove jornalistas não-brancos a trabalhar nas suas redacções e nunca ninguém viu um jovem jornalista negro a apresentar telejornais. Ponto.
Mas o absurdo desse relato fez-me reflectir sobre o facto de ele ser absurdo. Porque é que, num país aberto e democrático, onde os portugueses não-brancos têm todos os direitos de cidadania, não há caras de cor na informação televisiva – salvo escassas excepções? Um negro ou uma negra a apresentar telejornais seria uma hecatombe para as audiências? Por onde andam os jovens portugueses de raça negra, licenciados em jornalismo, em quantas redacções de jornais, de rádios ou de agência noticiosa? Não sei, mas dizem-me que a tal jornalista estrangeira andou por aí a farejar e, no seu artigo, terá escrito que são uma minoria escandalosa. Assim mesmo: escandalosa. E o título seria qualquer coisa como “Portugal - Racismo na TV”. Não li o artigo, não sei sequer se ele existiu, mas também é verdade que não teria dados para o contrapor porque, felizmente, em Portugal não se empregam profissionais de jornalismo em função de quotas rácicas e portanto essa estatística não existe – felizmente, repito. Ou seja, por uma boa razão eu não teria números para desmentir o escândalo daquela senhora.
… Mas fiquei cá a ruminar: e quantos serão, de facto, os portugueses negros jornalistas hoje admitidos nas nossas rádios, televisões e jornais? Em que proporção está a nação portuguesa fielmente reflectida nas redacções que trabalham para ela? Quantos são os homens e mulheres não-brancos, profissionalmente preparados, que estão em posição de influenciar decisões editoriais nos nossos media? Quantos jornalistas não-brancos conseguem hoje transportar para os poderes mediáticos a sensibilidade e a informação sobre a vida e a actualidade das suas comunidades de origem?
O relato que me fizeram sobre a tal suposta reportagem da tal suposta jornalista estrangeira (norte-americana, parece…) não passa de uma pedrada grosseira. Mas… que tal espreitar por debaixo do pedregulho?
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