22.9.06

Hoje Acontece (*)

UM CIDADÃO inglês saía de um cinema quando o primeiro-ministro sueco Olof Palme foi assassinado, perto dele, em 1986. Dois jornais suecos, Expressen e Aftonbladet, acusaram-no de ser o provável criminoso. Nada disso se provou. O cidadão, Anthony White, que agora vive na cidade da Beira, em Moçambique, processou os jornais exigindo indemnizações por ofensa ao seu bom-nome. Mas os tribunais suecos não lhe deram razão e ele decidiu recorrer para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Na terça-feira o Tribunal de Estrasburgo proferiu, enfim, sentença: absolveu os dois jornais. Porquê? Porque – disse o Tribunal - os jornais tinham cumprido o seu dever de informar: “O interesse público na publicação dessa informação sobrepunha-se ao direito do queixoso na protecção da sua reputação.”
Discordo. A menos que haja pormenores que desconheça, o que resulta daqui é muito simples: amanhã vou ao cinema, à saída matam alguém e no dia seguinte leio num jornal o depoimento de um senhor que diz que fui eu o assassino. Estou feito.
O jornalismo não pode ser praticado assim e os tribunais não podem condescender, brandamente, com o papão do poder mediático. Antes de ser jornalista sou cidadão e não gosto mesmo nada deste precedente.
No entanto, ainda anteontem subscrevi um apelo ao bom-senso do Parlamento por causa da proposta de lei de Estatuto do Jornalista. Que traz coisas do tempo da “Outra Senhora”, como o texto dos jornalistas poder ser mutilado sem aviso por um qualquer editor idiota, ou quando é preciso mais espaço para um anúncio. Que é lá isso?
Nem a sentença do Tribunal de Estrasburgo nem esta muito questionável proposta de lei convidam a melhores tempos. Não, não.
(*) Publicado no «metro» de 22 Set 06

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olha o CPC! Por onde é que ele anda? No Jornal METRO? Porreiro mas, já não há lugar para ele na nossa televisão? Deixam um gajo desses em casa e põem uma data de nabos nos telejornais?

23 de setembro de 2006 às 19:25  

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