4.10.06

Quadratura do círculo

A EXPRESSÃO é tão famosa que se usa em conversas de rua e dá o título a um programa de televisão. Muitos tomam-na como sinónimo de absurdo ou de acção disparatada — pois será que alguém quer transformar um círculo num quadrado? Seria como ter rodas quadrangulares; os carros não poderiam andar.
Mas a expressão tem origem num problema muito mais interessante. E muito antigo. O primeiro ou um dos primeiros a discuti-lo foi o filósofo grego Anaxágoras.
Há vinte e cinco séculos, durante um período em que a amizade com Péricles lhe proporcionou o estatuto de preso político, entreteve-se a pensar numa forma de construir um quadrado com perímetro igual ao de uma circunferência dada. Para o fazer dispunha apenas de um compasso e de uma régua não graduada. E o problema ficou assim formalizado: como seria possível construir tal quadrado usando apenas esses meios?
Durante séculos os gregos tentaram resolver o enigma. Depois os matemáticos medievais. E os renascentistas. E os modernos. Em vão.
O problema ficou conhecido como um desafio inultrapassável. O que não queria dizer que fosse impossível. Apenas vão. Assim se lhe refere por exemplo Voltaire, que nas suas conhecidas Cartas de Inglaterra fala da «a quadratura do círculo, impossível em qualquer geometria», como sendo um «inútil objecto de procura dos Antigos». O filósofo, que nas mesmas cartas faz várias vezes a apologia da ciência e o elogio do empirismo e moderação dos ingleses, mostra um conhecimento invejável da história da ciência. O curioso, e Voltaire não podia sabê-lo, é que o problema não tem solução. O matemático alemão Lindemann (1852–1939) demonstrou-o em 1882. E talvez não haja maior prova do poder da matemática do que este, o de conhecer os seus próprios limites.
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Adaptado do «Expresso»

5 Comments:

Blogger raiva said...

Não é o perímetro, é a área!

4 de outubro de 2006 às 13:53  
Blogger raiva said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

4 de outubro de 2006 às 13:56  
Anonymous Anónimo said...

É o perímetro e a área!

4 de outubro de 2006 às 14:34  
Anonymous Anónimo said...

Sendo que o essencial da impossibilidade referida tem a ver com o número "pi", o problema (no que diz respeito à solução com régua e compasso) é semelhante, quer para as áreas quer para os perímetros.

Fica, pois, por esclarecer o problema histórico: a qual dos dois (área ou perímetro) é que se referia Anaxágoras?

Aparentemente, e como se fala de "círculo" ("quadratura do...") e não de "circunferência", seria o primeiro que estaria em causa.

No entanto, a descoberta do valor do perímetro da circunferência deve ter sido anterior à descoberta do valor da área do círculo.

Resumindo e concluindo: não faço ideia!

Ed

4 de outubro de 2006 às 15:29  
Blogger Unknown said...

odeio matematica

5 de agosto de 2009 às 02:32  

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