Pesadelo

OS MEUS LEITORES devem ter dado por isso. Uma noite destas, quem caísse na asneira de ir ver aos canais portugueses de TV o que estava a dar, fugia logo. Era de pesadelo! Num, falava o presidente da república, noutro recitava memórias um antigo primeiro ministro e, à mesma hora, no último, davam uma novela de fazer rir as pedras da calçada.

Eu, quando vejo números destes, penso logo, solidariamente, naquilo que os espanhóis e ingleses estão a perder por não serem portugueses e ponho-me a ver o mesmo que eles, intrigado com o modo como conseguem sobreviver a tamanho défice cultural e político.

Não é que nos outros dias o panorama da TV em Portugal seja melhor, mas com um “casting” como o daquela noite há poucas ocasiões. Claro que para não se assistir a boçais ordinarices sempre se pode desfrutar dum vivo debate sobre o celibato dos padres, duma elevada discussão acerca do défice e do produto interno bruto, ou fascinarmo-nos com finanças das autarquias e inconstitucionalidades contra as regiões. Não nos falta nada. Os espanhóis e ingleses não fazem ideia do que andam a perder.

«25ª HORA» - «24 horas» de 21 Nov 06