11.3.07

Às armas!

DERROTADO O SEU PP EM 2005, Paulo Portas declarou luto e saiu pelo seu pé. Mas, porque a coisa não tinha tanto a ver com o brio como com o cálculo, quis deixar gente sua a gerir o interinato e a promover o esquecimento. Só que, no Congresso, o velho CDS emergiu da letargia e Ribeiro e Castro, romanticamente só, surpreendeu tudo e todos: sabedor de que, na derrota, os senhores da guerra sucumbem melancolicamente à vagabundagem moral, afirmou princípios, estimulou remorsos e venceu Telmo Correia.
Não podendo gerir o interinato, os vencidos tinham, porém, os meios para se assegurarem de que ele não passava disso mesmo. Com o líder em Bruxelas durante a semana, sem poder autárquico próprio e com muitos dos seus quadros voluptuosamente rendidos à vida empresarial, o Parlamento é o único palco da expressão pública do partido. Portas está lá, e tem onze deputados. Ribeiro e Castro não está, e tem um. Os fins-de-semana (portugueses) do líder vão-se consumindo na remoção das minas que, durante a semana, os deputados instalaram. E, por isso, nem um nem outros perderam tempo a fazer a oposição possível.
Assim, de crise em crise, se chegou ao actual desafio de Portas para uma disputa em eleições directas que a direcção pretende fazer em congresso. Claro que vão longe os tempos em que o cavalheiro que dava a bofetada aceitava a escolha de terreno e armas do cavalheiro que a levava. E, por isso, o eleitorado, mais sensato do que os protagonistas, ignora imperialmente a argumentação jurídica e estatutária dos dois lados. Preocupa-se mais com saber se Portas ainda cheira à derrota de há dois anos, que é mazela de que Ribeiro e Castro não enferma. Ou se é um produto reciclado - mais puro, mais inodoro, mais centrista, menos PP - e capaz de, aquém do sonho de uma cisão no PSD, roubar-lhe os votos de um "lebensraum" mais promissor do que o "táxi" (ideia que, por ora, se revela mais temida no PSD do que adquirida no CDS).
Houve grande comoção quando, um dia, numa gaveta da República, até nova ordem foi guardado o socialismo. Mas, daqui até ao conselho nacional de Óbidos, nessa gaveta vai ser metido Jesus Cristo. Não haverá peito aberto nem floretes, mas tocaias e sovelas. Como numa lenda da Guerra da Secessão (que há quem diga ter sido adaptada à época), quando o comandante de um massacre sulista diz ao general Robert Lee: "Não, nós não perdemos a moral. Acontece é que encontrámos o inimigo."
«DN» 11 Mar 07

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