6.7.07

DIAS CONTADOS

O preço da decisão
Por Alberto Gonçalves
A BENEFÍCIO DA CANDIDATURA de António Costa e da popularidade do eng. Sócrates, o Governo adiou por seis meses a confirmação da Ota. Perante a dádiva, a oposição entrou em delírio, não sei se por convicção nos súbitos méritos da alternativa Alcochete ou por saudades de uma boa pândega.
No meio dos bizarros festejos, o dr. Campos e Cunha ressuscitou para defender a combinação da Portela com um novo, e menor, aeroporto. A hipótese, que o Governo obviamente nem coloca, parece sensata. Porém, como nesta matéria ninguém evita um toque de excentricidade, o antigo ministro de Sócrates acrescentou logo que é preciso decidir até ao fim do ano, pois "começa a ser um pouco embaraçosa, até em termos internacionais, a incapacidade do país para tomar decisões".
Os "termos internacionais" são um conceito vago. Talvez o dr. Campos e Cunha tenha informações seguras de que nas ruas de Paris e de Chicago os avanços e recuos da Ota suscitem farta galhofa. Ou de que nos corredores das altas instâncias, da ONU e da NATO à UE e à FIFA, circula uma quantidade de anedotas alusivas sem paralelo na própria DREN.
De qualquer modo, eis um excelente motivo para nos despacharmos. Por interessantes que sejam as reflexões acerca dos solos, dos ventos, do relevo, dos acessos e, não esquecer, das verbas, tais minudências perdem importância quando comparadas com o que de facto conta: a imagem do país no estrangeiro. E se o estrangeiro nos dá seis meses para escolher a localização do aeroporto, convinha ultrapassar polémicas e chegar depressa a um consenso. Vital é não ficarmos mal lá fora.
E não se vê razão para nos limitarmos ao ramo aeronáutico. Podíamos adiantar serviço e poupar embaraços futuros, decidindo em quinze dias tudo o que houver para decidir nos próximos anos. A regionalização? Ouça-se o povo, mas decida-se. O casamento de "gays"? Ouça-se o povo, os noivos, a Opus Gay e a Opus Dei, mas decida-se. A legalização da bestialidade sexual? Ouça-se o povo, os perpetradores, os veterinários e os animais, mas decida-se. Uma candidatura às Olimpíadas de 2044? Ouça-se o povo, os fundistas do Sporting e decrete-se a construção de dezasseis novos estádios, mas, pelo amor de Deus, decida-se: os olhos dos outros estão postos em nós.
Não falha: o atávico pavor do ridículo leva os portugueses a um ridículo maior. Estranhamente, esse não os embaraça. Nem em termos internacionais, nem, o que nos sai mais caro, em termos nacionais.
«DN» de 17 de Junho de 2007 - [PH]

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