10.9.07

Pensando e "des-pensando"...

Para melhor se perceber o que adiante se diz e pergunta, será conveniente estar a par de algumas das intenções concretas de Maria José Nogueira Pinto (MJNP) para a Baixa de Lisboa [ver aqui]. Pelas suas implicações, e ao contrário do que possa parecer à primeira vista, o assunto está longe de dizer respeito apenas à capital.
*
A REACÇÃO DE MJNP contra os comerciantes chineses (por enquanto só os comerciantes, só os chineses, só os da Baixa e só os de Lisboa - mas o bichinho está lá, com o rabo de fora, para muito mais do que isso...) merece ser analisada com cuidado e tempo.
No entanto, e para já, aqui ficam algumas dicas avulso, para «pensar e des-pensar», como dizia uma saudosa tia minha:

1 - Há, nisto tudo, uma grande semelhança com o que recentemente se passou nos EUA (embora em maior escala) a propósito da invasão da indústria japonesa. Quando os americanos se queixavam de que "eles compravam tudo" (o que era verdade), a resposta nipónica era sempre a mesma: «Se não querem que compremos, porque é que vendem?»
2 - Se bem que não seja grosseira como a de A. J. Jardim, a reacção de MJNP vem na mesma linha. A. J. J. falava também dos indianos - lá chegaremos, lá chegaremos...
3 - As reacções do Poder contra minorias bem-sucedidas são recorrentes na História, e não só na de Portugal: a dos judeus é a mais conhecida (também eles empurrados para bairros próprios); mas também os Templários (aniquilados) teriam muito que contar... Deram todas mau resultado, como se sabe.
4 - As chinatowns americanas (que MJNP aponta como exemplo a seguir, em Lisboa) não foram fruto do extremo racismo da sociedade americana da época e um óbvio meio de defesa de uma minoria - porventura ainda mais explorada do que a negra?
5 - Estará MJNP disponível para aceitar que, na China, os portugueses que lá trabalham e investem recebam um tratamento semelhante?
6 - Ao invectivar a mão-de-obra barata e a exploração infantil chinesa, MJNP aceitará que o mundo civilizado aplique o mesmo critério a algumas (ou à maioria?) das nossas exportações?

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27 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Maria José Nogueira Pinto é uma grande mulher.Pena é que não haja mais pesoas como ela. Talvez assim Portugal saísse da "cepa torta".
Força MJNP

João G SB

10 de setembro de 2007 às 18:15  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Todos os partidos têm grandes homens e grandes mulheres. Não é isso que está em causa neste post, mas sim uma pretensão que abriria um estranho precedente:
Amanhã haveria zonas obrigatórias para comerciantes paquistaneses? Outras para indianos?

O comércio na Baixa está moribundo muito antes de haver chineses. O problema é outro (ou outros), e a sua abordagem é complexa.

Atirar a culpa para aquela comunidade trabalhadora é "conversa de barbeiro e taxista".
É, como se diz no post, repetir o que, na Idade Média, se fazia com os judeus que prosperavam.

De MJNP (de facto, uma grande mulher) espera-se mais.

10 de setembro de 2007 às 18:33  
Anonymous Anónimo said...

Vale a pena começar por ler, com atenção, as declarações de MJNP.

De facto, eu tb esperava dela um pouco mais do que essa "conversa de porteira", do género «o mal é dos pretos» (chineses, neste caso).

Ed

10 de setembro de 2007 às 18:57  
Anonymous Anónimo said...

Os 6 pontos deste post dizem o essencial, e mesmo as perguntas são certeiras afirmações.

Se há comunidade que não cria problemas, que é trabalhadora, que paga as contas e as rendas a tempo, que (e muita gente não o sabe) até dá emprego a portugueses, é a chinesa.

Os portugueses (nomeadamente os pequenos comerciantes) só têm a aprender com eles - no que toca a preços, horários, actividade dirigida 100% ao interesse do consumidor, simpatia, etc.

Além disso, com os seus preços baixos, exercem uma forte pressão anti-inflaccionista.

Mas, como sempre quando o assunto é comércio, os consumidores não são tidos nem achados.

10 de setembro de 2007 às 19:20  
Blogger R. da Cunha said...

O post é pertinente. Se também comungo da opinião de que MJNP é uma mulher determinada, não creio que o problema das "lojas chinesas" desemboque na resolução do comércio tradicional. Este é que tem que procurar novas soluções. Queiramos ou não, a "globalização" está aí e os chineses não são parvos. Como bem diz, as "chinas-towns", como os "litles-portugal" ou "litles-itália", nos EUA ou no Canadá, têm origem diversa e contextos diferentes. Ou talvez não, que sei eu?

10 de setembro de 2007 às 22:00  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

As armas da comunidade chinesa são "terríveis":

Capacidade de trabalho sem limites.
Capacidade para estar a milhares de quilómetros de casa, numa terra que não lhes diz nada.
Espírito de entreajuda de toda a comunidade.
Investimento de longo-prazo - muita paciência e nenhuma pressa.
Apagamento (a arte de não criar atritos nem confusões na sociedade onde estão).

Junte-se, a tudo isso, um apoio do governo chinês - que decerto existe, não fazendo mais do que a sua "obrigação". Assim o nosso soubesse apoiar os emigrantes portugueses!

10 de setembro de 2007 às 22:27  
Anonymous Anónimo said...

Quase todos, ainda, se esforçam por aprender as palavras essenciais para comunicar com os clientes. E - acreditem - para eles é algo de muito difícil.

10 de setembro de 2007 às 22:41  
Anonymous Anónimo said...

As "lojas chinesas" para além de venderem artigos baratos e de muito baixa qualidade, importados, para o efeito, da China, praticam horários de trabalho que nenhum trabalhador português aceitaria. Para além disso, na maioria dos casos, esses establecimentos são a residência dos seus tabalhadores, que aí dormem e comem o arroz (única coisa) que compram no supermercado mais próximo (o resto é-lhes fornecido pelos outros chineses, fechando círculo económico). Esta gente não contribui, com nada de positivo, para a economia nacional! Nem impostos pagam!
Não tenho nada contra os chineses que, aliás, considero pessoas muito simpáticas e afáveis - e conheço vários. Mas em termos económicos, as lojas ditas "chinesas" são o pior que poderia acontecer ao "comércio convencional". Comparados com elas, as GRANDES SUPERCÍCIES são, "café pequeno" - como dizem os brasileiros!
Não sou, não fui e, espero, nunca serei apoiante das posições da MJNP (que, no entanto, considero uma pessoa altamente competente) mas não posso deixar de realçar a sua coragem de assumir uma posição, que, na minha opinião está certa, mas é politicamente incorrecta!

11 de setembro de 2007 às 01:05  
Anonymous Anónimo said...

Infelizmente, há CRETINOS, que afirmam que "os pequenos comerciantes só têm a aprender com eles"!. Os pequenos comerciantes não têm direito a ter um horário de trabalho! SÓ OS CRETINOS É QUE TÊM! Os pequenos comerciantes, como não vendem produtos importados da China, produzidos com mão-de-obra escrava, terão de vender os seus produtos abiaxo do preço de custo para competir com os preços das lojas chinesas,... ou para satisfazer OS CRETINOS que acham que a economia portuguesa depende dos cêntimos que eles poupam quando vão comprar aos chineses!
Quando quiserem devolver um artigo numa loja chinesa, por ser de má qualidade, só o podem fazer por troca, isto é, devolves uma porcaria mas tens de levar outra porcaria! Se um pequeno comerciante fizer o mesmo, chamam-lhe ladrão e pedem o livro de reclamações!
Finalmente, se o pequeno comerciante não pagar os seus impostos porque a concorrência dos chineses está apor a sua sobrevivência em causa e não lhe sobra dinheiro para os pagar, passa a ser "criminoso" e o seu nome aparece na internet!
Já agora, MEUS GRANDES CRETINOS, em que banco é que os chineses fizeram os empréstimos para abrir os seus comércios? Eu respondo! NAS MAFIAS CHINESAS QUE OS SUPORTAM E OS FORNECEM! É esse o modelo que os pequenos comerciantes portugueses devem seguir?
Valha-nos NOSSA SENHORA para tanta burrice!

11 de setembro de 2007 às 01:32  
Anonymous Anónimo said...

As guerras do século XXI são, em grande parte, guerras comerciais.
Portugal aderiu à globalização, tendo algumas das suas indústrias (nomeadamente a têxtil) beneficiado de um período de adaptação de 10 anos, que já terminou.
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Quando há discussões em torno do Comércio, políticos, autarcas e governantes escutam os grandes, os médios e os pequenos comerciantes, e agem em conformidade.
Em geral, só não se preocupam com o interesse dos consumidores.
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Se as lojas chinesas (e já se esqueceram das indianas e paquistanesas?) existem é porque satisfazem uma necessidade.
Se proliferam, é porque o fazem de forma cada vez mais eficaz.
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Vendem produtos de má qualidade!
É verdade. É precisamente por isso que a indústria portuguesa (e a ocidental, em geral) aposta na qualidade e não no preço.
Os chineses, na China, compram produtos ocidentais por isso mesmo.
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Usam mão-de-obra barata!
Sim. Cada um usa as armas que tem. Os vietnamitas ainda trabalham por menos do que os chineses.
Portugal também joga com mão-de-obra barata nas suas exportações.
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Trabalham muito!
É verdade. Isso é defeito?
Os portugueses, por esse mundo fora, fazem o mesmo.
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Praticam longos horários!
Sim, na minha rua têm exactamente os mesmos horários que os supermercados.
De qualquer forma, compete às autarquias fazer respeitar os horários legais.
Os comerciantes portugueses, por esse mundo fora, fazem o mesmo.
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Pagam mal aos empregados!
Quais empregados? Quase todos trabalham por conta própria.
Os comerciantes portugueses, por esse mundo fora, fazem o mesmo.

11 de setembro de 2007 às 10:19  
Anonymous Anónimo said...

Uma pergunta de simples resposta:

Há quanto tempo se ouve falar da decadência da Baixa? E há quanto tempo existem as lojas chinesas?

Todos sabemos a resposta, pelo que a "invasão" chinesa é uma CONSEQUÊNCIA e não uma CAUSA, e o erro de MJNP é estar a trocar ambas.

A procura das verdadeiras CAUSAS da decadência do comércio tradicional (e não só na Baixa, e não só em Lisboa!), tem de ser feita noutro lado - a frio, com inteligência.

O resto é conversa-fiada que a nada leva.

11 de setembro de 2007 às 10:27  
Anonymous Anónimo said...

Os chineses, em Portugal (mas não só), não ganham a vida a traficar droga, nem a "arrumar" carros, nem a praticar a mendicidade profissional, nem a assaltar residências, nem a gamar carteiras no metro, nem a praticar car-jacking, nem a extorquir dinheiro a patrícios seus.

São organizados e gostam de trabalhar, duas qualidades que certos portugueses não lhes perdoam.

11 de setembro de 2007 às 10:47  
Anonymous Anónimo said...

Há um outro aspecto que não tem sido abordado:

Se - e é uma verdade sabida de todos - a generalidade dos produtos chineses «são baratos mas de fraca qualidade», porque é que, então, têm tanto sucesso?

Porque em tempos de crise económica o raciocínio do comprador é o inverso:

«São de fraca qualidade, mas são baratos».

Numa decisão de compra, o que conta é a relação qualidade/preço, e quando os bolsos das pessoas estão quase vazios (como por cá sucede) a tónica é posta no segundo. É isso que, desde tempos imemoriais e em todo o mundo, leva as pessoas às feiras.

Mas o que atrás se diz está certo:

As lojas chinesas são uma consequência de outra crise, mais profunda e antiga. Trocar as causas pelas consequências é o melhor caminho para não se resolver nada.

11 de setembro de 2007 às 11:34  
Anonymous Anónimo said...

Então aqui fica mais uma "achega":

Em todo o lado e em todos os tempos, se há quem compre e quem venda, a troca comercial acaba por se fazer (à luz do dia ou clandestinamente).

Além disso, «o comércio tem horror ao vazio», pelo que a decadência do comércio tradicional inevitavelmente iria atrair outro tipo de comércio para ocupar o seu lugar.

Se não forem chineses, serão outros quaisquer. O problema está a montante, e esperava-se de MJNP que, como mulher inteligente, não trocasse as causas pelas consequências.

Se o comércio da Baixa tiver horários que sejam feitos no interesse dos consumidores, se os empregados forem afáveis, se as lojas forem agradáveis, haverá lugar para todos. Mas, no comércio (que, hoje em dia, é uma guerra mundial), quem tem unhas é que toca guitarra.

Aos outros, resta espernear, insultar e - numa versão bem portuguesa - pedir o apoio do Estado, pois então!

11 de setembro de 2007 às 11:54  
Anonymous Anónimo said...

Um problema destes pode encarar-se de forma restrita ou alargada.
Podemos analisá-lo ao nível (apenas) da Baixa de Lisboa, ou ao nível do comércio mundial.
E podemos fazê-lo (apenas) ao nível de hoje (2007) ou a nível histórico (migrações, etc).
*
Esta reacção de MJNP pode estar muito certa mas vem com uma dúzia de anos de atraso:
Portugal há muito que aceitou os acordos (todos e mais algum!) de comércio internacional - para o bem e para o mal, e é com eles que vamos ter de viver.
O nosso país teve de abrir as portas a outros de mão-de-obra [ainda mais] barata (como a Índia e a China), se quis beneficiar do inverso (exportar para esses países).
*
Claro que a CML pode (e deve) usar a legislação ao seu dispor como instrumento de ordenamento da Baixa.
Mas faça-o, por favor, sem falar em chinatowns, que nasceram devido ao mais abjecto racismo!
*
Já agora: porque é que já ninguém fala das «Lojas dos 300», que, há anos, também invadiram tudo?
O dono delas ia (ou vai) ao Oriente fazer as compras. E os produtos eram (ou são) baratos, não só devido à mão-de-obra barata como, também, devido às grandes quantidades envolvidas. A economia de escala, nas compras (e depois na distribuição e no retalho), tanto funciona para ele, como para o Belmiro de Azevedo, como para os chineses.
E quem não sabe (ou não consegue) organizar-se assim, hoje em dia, não tem muito futuro. E o problema não tem só a ver com chineses nem com indianos.
*
O certo é que, de uma população de 1200 milhões, cerca de 200 milhões de chineses saíram, recentemente, do nível internacional de pobreza.
A China encomenda, mesmo, manufacturas a outros países asiáticos (nomeadamente do sudeste) onde a mão-de-obra é ainda mais barata.
E uma nova classe de consumidores chineses surgiu recentemente, pelo que podemos assistir à grande ironia:

Os portugueses pelintras a comprar, em Portugal, roupa e calçado nos chineses, e a nova burguesia chinesa a comprar roupa e sapatos de marca, portugueses, na China!

11 de setembro de 2007 às 17:09  
Anonymous Anónimo said...

O problema já não é "se gostamos ou não gostamos" que seja assim. O problema já não é saber "se está bem ou está mal".

Hoje em dia, com a globalização, a grande questão que se coloca é saber-se "se pode ser de outra maneira".
Talvez possa, a longo prazo. Mas, a curto e médio prazo, o ideal é "aprender a dançar conforme a música".
E, numa sociedade extremamente competitiva como a nossa, há os que aprendem a dançar, e os que preferem ficar a berrar.
Estes estão no seu direito, claro, mas não vão longe.

R.

11 de setembro de 2007 às 17:33  
Anonymous Anónimo said...

É sabido que os chineses vivem a vida deles e não levantam problemas aos anfitriões. Dos africanos e dos ciganos, como se sabe, não podemos dizer o mesmo.
Mas se a comunidade chinesa não nos incomoda, nem por isso devemos deixar de ponderar alguns aspectos que se afiguram pertinentes.

Por um lado, é de lamentar a deliberada atitude de não se integrarem na comunidade anfitriã. Isto não é saudável e dificilmente se pode aceitar que a situação se eternize.

Por outro lado, já aqui foram feitos comentários que vão directos a um aspecto que nos deveria fazer meditar. O estabelecimento destas comunidades chinesas, se não tem, como alguém aqui alertou, o financiamento de dinheiros da droga e das máfias chinesas, tem com certeza o alto patrocínio do próprio governo chinês. É legítimo interrogarmo-nos acerca da forma como é possível pagar as lojas em que eles se instalam, compradas ou alugadas, com as receitas obtidas na venda de produtos de tão baixo preço. O que se tem como certo é que o governo chinês tem um papel importante nesta diáspora, que apoia e incentiva. Com que propósito? Há matérias em que alguns europeus se têm revelado muito ingénuos. Já aconteceu com Hitler...
JO

11 de setembro de 2007 às 17:37  
Anonymous Anónimo said...

JO

«...é de lamentar a deliberada atitude de não se integrarem na comunidade anfitriã».

Acho que a barreira da língua (mais do que a dos hábitos, comida, etc) é gigantesca. Não só a falada, como a escrita.

------

«... que se tem como certo é que o governo chinês tem um papel importante nesta diáspora, que apoia e incentiva»

Sim, e estão isentos de impostos, em Portugal, pelo menos durante algum tempo.
Mas - pergunta-se - não fará o governo chinês a sua obrigação ao apoiar os seus cidadão, a 10.000 km de casa?

Mas, de facto, a estratégia pode ir mais longe.
Os orientais, ao contrário de nós, raciocinam a looooongo prazo.
Nós queremos lucros logo. Os chineses e os japoneses não têm pressa.

O livro «Sol Nascente», de Michael Crichton, é extremamente elucidativo, descrevendo em detalhe a bem sucedida ofensiva industrial japonesa sobre os EUA.

Muito possivelmente, estamos perante o equivalente comercial.
Mas as escalas e as consequências serão comparáveis?

A outra hipótese é mais simples de aceitar:

Com 1200 milhões de bocas para alimentar, pode ser que o governo prefira gastar "uns trocos" para exportar algumas delas, aproveitando para escoar produtos que têm de ser produzidos, vendidos e consumidos para alimentar a máquina industrial.

A China já é a 2.ª maior potência económica mundial, cresce a um ritmo de 2 dígitos, e em breve ultrapassará os EUA.

MR

11 de setembro de 2007 às 18:02  
Anonymous Anónimo said...

Em relação à não-integração, de que fala JO:

Eu vivi algum tempo em Macau, estive demoradamente em Hong-Kong (durante os dois regimes, o inglês e o chinês) e algum tempo na China.
E agora ponho o problema ao contrário:
Imagine-se que os chineses se queixavam que eu não me integrava. Teriam razão, mas não seria por mal.
Tudo, ali, é diferente: língua, hábitos, religião, cheiros, comida - até o trânsito!
A tendência é fazer, lá, o que os chineses fazem cá: procurar a companhia de "iguais". Quando damos por nós, estamos "fechados" nesse círculo protector.

-

Quanto aos apoios estatais:

Nós também temos (ou tínhamos) o ICEP, cuja função é (era) apoiar as exportações.
E esse apoio não se faz com cuspe, mas sim com dinheiro, muito dinheiro.
Os chineses, se calhar, vão mais longe: apoiam as exportações e os vendedores delas.

Procuram conquistar mercados? Só mostra que perceberam mais depressa os desafios do século XXI, do que muitos outros, que ficam à espera das "Zezinhas" desta terra!

M.

11 de setembro de 2007 às 19:46  
Anonymous Anónimo said...

E esta?

(www.tsf.pt)

--
«O presidente da Associação de Comerciantes e Industriais Chineses em Portugal não vê a proposta da antiga vereadora com maus olhos.
Ouvido pela TSF, Choi Man Hin, desvaloriza a polémica e lembra que em todas as grandes capitais existe uma Chinatown e por isso até pode ser bom.
"Não é uma discriminação, até pode ser bom, tudo depende da forma como se realizará o projecto", defende.
O presidente da Associação de Comerciantes e Industriais Chineses em Portugal diz que depende do local, considerando que uma eventual Chinatown não poderia ficar longe do centro de Lisboa.

11 de setembro de 2007 às 22:52  
Anonymous Anónimo said...

Caro M.

Eu também vivi em Macau. E os chineses certamente não lamentaram nem criticaram a minha passagem por lá. Posso dizer, sem falsas modéstias, que planeei e dirigi o processo mais profundo de reestruturação da rede eléctrica do território. Foi sob a minha direcção que em Macau as instalações eléctricas dos edifícios começaram a fazer-se segundo as regras e regulamentos vigentes em Portugal.
No campo pessoal, fiz amigos, fui visita de casa de alguns, já vieram visitar-me a Portugal. Quando deixei a empresa ainda fiquei por lá uns meses. Os meus antigos subordinados chineses cumprimentavam-me na rua. Foram tratados como pessoas e retribuiam.
Por isso estou à vontade para falar dos chineses : são tão bons ou tão maus como os portugueses. O enquadramento e as circunstâncias em que as pessoas estão envolvidas é que determinam muitos dos comportamentos. Evidentemente, o governo chinês não me dá confiança. E só conheço, em Portugal, duas pessoas que acreditam no governo chinês : Sócrates e Cavaco.

Jorge Oliveira

12 de setembro de 2007 às 11:08  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro Jorge,

Independentemente de um caso ou outro (como, talvez, o P. Reis), achas que a comunidade portuguesa, em Macau, se integra(ria) na comunidade chinesa local - ao mesmo nível que gostarias que, em Portugal, sucedesse o inverso?

Eu, quando lá estive, mal conseguia pedir a comida (ou até explicar ao taxista que queria ir para o aeroporto!) pois o chinês de Macau não percebia o inglês nem o português.

A barreira da língua, no que tocava ao chinês-médio, era intransponível.
E, sem língua, não há integração possível.

12 de setembro de 2007 às 13:01  
Anonymous Anónimo said...

Medina

Atenção a um aspecto fundamental : a comunidade portuguesa em Macau é constituída, em boa parte, por funcionários em comissão de serviço, por três anos, eventualmente mais. São pessoas de passagem, por natureza. Não é expectável que procurem integrar-se na comunidade anfitriã. Por exemplo, o chamado grupo de Macau, constituído pelos socialistas lá colocados na sequência da vitória de Mário Soares, em 1986, esses não estavam em Macau para se integrarem. De forma alguma. Os objectivos eram outros. Fundação Oriente e outras coisas que não vale a pena trazer aqui para não ficarmos mal dispostos.

Mas também há portugueses que foram para lá cumprir o serviço militar, há dezenas de anos e por lá ficaram. Claro que também houve quem para lá fosse há centenas de anos.... Estão integrados. Com família constituída. E a falar o cantonense. Escrever é que não, porque chinês escrito ou se aprende aos cinco anos ou fica-se analfabeto.

É sabido que os portugueses sempre se integraram com facilidade nas comunidades locais. Desde que arranje uma boa mulher nativa, qual é o português que não se integra...? Em Macau deram origem aos denominados “macaenses”, ou seja, mestiços português/chinesa.

Jorge Oliveira

12 de setembro de 2007 às 18:46  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Jorge,

Ou seja: aceitas que quem se desloca por (cerca de) 3 anos não tem preocupações de integração.
É verdade, e o número de anos até pode ser mais, porque a pessoa está a pensar em voltar.

Muito provavelmente, estes comerciantes chineses também não pensam estar muito tempo po cá.

Falei há dias com uma senhora que os conhece bem, e ela disse-me que, quando o negócio não corre bem num lado, vão para outro.
Mesmo que não mudem de país, presumo que mudem de rua ou até de terra.
Nessas condições, a integração real não é fácil.
Como, se calhar, também não a desejam...

12 de setembro de 2007 às 19:01  
Anonymous Anónimo said...

Sobre este assunto os CRETINOS continuam a falar “de cadeira” (segundo os brasileiros) ou de cátedra, como dizem os portugueses.
Trabalhar doze horas por dia, não ter vida familiar e social, passou a ser o novo “standard” da sociedade ocidental! Vivam os chineses e os vietnamitas! Bem-vindos sejam! Venham-nos ensinar o caminho da ESCRAVATURA!
Eu gostava de ver estes CRETINOS, que afirmam isso, a fazerem aquilo que defendem, como uma coisa perfeitamente normal. Estes CRETINOS trabalham por conta de outrem, não se preocupam em saber de onde vem o dinheiro que todos os meses lhe vai parar à conta bancária! Experimentem, SE PARA TAL TIVEREM CORAGEM, o que duvido, a abrir um negócio próprio, para saber o que é preocupar-se, todos os meses, em saber onde encontrar o dinheiro para pagar aos empregados (que têm de ter horário de 40 horas semanais, senão queixam-se à Inspecção do Trabalho), aos fornecedores, à Segurança Social, às Finanças – que se estão “burrifando” se os chineses fazem concorrência desleal, ou se as Grandes Superfícies preferem pagar multas e abrir aos Feriados, porque ainda assim ficam a ganhar.
Viver dentro do estabelecimento comercial, passará a ser um sinal de economia e bom gosto! Não é uma necessidade extrema para fazer frente ao endividamento que têm para com os seus “donos”, a quem têm de comprar tudo e que, dessa forma os mantêm “controlados”! Quanto mais deverem, melhor! Este é o modelo a seguir pelos empresários portugueses! (Quando os portugueses vão para Espanha e ficam sujeitos a este tipo de tratamento, pede-se logo a intervenção do MNE.) Se forem chineses, tudo bem, estão a ser (bem) apoiados pelo governo chinês!
É profundamente ridículo! Mas é perfeitamente esclarecedor sobre os motivos porque Portugal é o país MAIS ATRASADO da Europa! É uma questão de INTELIGÊNCIA, não de ESPERTEZA!
A globalização terá de ser um passo rumo ao futuro e ao bem-estar do mundo! Não um retrocesso à Idade Média! Quem defende o trabalho escravo nos países do extremo oriente, como forma de pagar menos uns cêntimos em produtos de qualidade duvidosa, está a por em causa, e a muito curto prazo, a sua estabilidade laboral e social. DEPOIS NÃO SE QUEIXEM!
O pequeno comércio vai continuar a fechar, o desemprego vai continuar a aumentar (exponencialmente), os portugueses ESPERTOS (ou CRETINOS?) terão, cada vez mais, de emigrar, sujeitar-se a trabalho sem regras, e talvez (?) começar a compreender que “quem semeia ventos, colhe tempestades”.
Os Neo-Liberais chamam a isso, as regras do mercado! E HÁ QUEM ACREDITE!!!

13 de setembro de 2007 às 00:06  
Anonymous Anónimo said...

É verdade que os portugueses também usaram o mão-de-obra baixa para exportarem! Quais portugueses?
Os donos dos Ferraris do Vale do Ave, ou trabalhadores que foram para o desemprego (e que agora, provavelmente, estarão a trabalhar em aviários na Inglaterra) quando as fábricas fecharam por causa da concorrência do trabalho escravo dos chineses? Não me consta que tenha havido leilões de Ferraris, de Mercedes, de BMW,... Só Monte Carlo tinha mais Ferraris que o Vale do Ave!
É DISSO QUE ESTAMOS A FALAR? SALVE-SE QUEM PUDER? Então o melhor é abrir um negócio de armas. No Texas as regras eram claras! Quem fosse mais rápido sobrevivia! Traduzido para aqui e agora, quem souber roubar melhor enriquece. Os HONESTOS são para abater!
São as regras do mercado!

13 de setembro de 2007 às 00:29  
Anonymous Anónimo said...

Voltando à questão levantada pela Maria José Nogueira Pinto, respeitante à criação de uma chinatown, estou em completo desacordo.
Em conformidade, teria de estar de acordo com a criação de uma "ciganotown", de uma "indianotown e de coisas semelhantes.
Claro que não me agradaria ver a Baixa de Lisboa transformada numa chinatown, mas para o evitar há regras práticas aceitáveis. Basta ver como nos centros comerciais se evita a proliferação de lojas do mesmo ramo. E a Baixa de Lisboa não passa de um gigantesco centro comercial.
JO

13 de setembro de 2007 às 09:00  

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