A paciência dos pacientes

Por C. Medina Ribeiro

MEIA-VOLTA-DUAS, a propósito disto ou daquilo, Mário Lino vem dizer ao mundo que determinadas SCUT vão deixar de o ser, passando a ter portagens; e, como bom governante que é, não se fica por aí, e avança com datas concretas.

O que se segue é bem sabido: a "ameaça" não se confirma, e um par de dias depois a data é alterada para uma outra qualquer, com igual probabilidade de ser respeitada - e todos ficam felizes, a começar pelas populações abrangidas.

Ora tudo isso me faz lembrar o que, há um par de anos, me sucedeu quando fui ao Hospital de S. João por causa de um quisto nas costas:
Quando eu já estava indefeso e de barriga para baixo, semi-nu, o médico pegou na lanceta e, dando-me uma palmadinha amigável nas costas, avisou-me em termos que nunca esquecerei:

- Olhe que vai doer... E vai doer um bom bocado!

Soltei uma imprecação que aqui não posso reproduzir e, é claro, se ainda fosse a tempo, teria fugido dali. Mas, para meu pasmo, tudo se processou sem dores nenhumas.

Ao sair da sala de operações, ainda tonto e mal refeito do susto, perguntei a uma enfermeira, que por ali estava, porque é que o médico agira assim. Sorrindo, explicou-me:

-Dantes, mesmo que não fosse verdade, dizia-se aos pacientes que não ia doer nada, para os descontrair. Hoje há quem faça ao contrário, e o doente acaba por ficar agradavelmente surpreendido.

E aqui temos, pois, a explicação possível para a saga das SCUT, uma nova versão do polícia mau/polícia bom:

Enquanto Durão Barroso e José Sócrates prometeram que não iam aumentar os impostos e depois foi o que se sabe, Mário Lino segue a receita do cirurgião do Porto...

Quanto aos pacientes... só lhes resta justificar tão adequado nome...