13.11.07

Romantismo ecológico

Por Nuno Crato
ABRIU ESTA SEMANA no Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque, uma nova exposição dedicada à água e ao seu impacto no ambiente. Como seria de esperar conhecendo o museu, é uma exposição magnífica. E como vem sendo hábito, dá um grande destaque aos problemas ecológicos, como meio de «despertar uma consciência social mais vasta».
Mas há quem comece a criticar esta insistência de muitas iniciativas museológicas recentes, que tende a remeter a informação e a ciência para segundo plano. Segundo Edward Rothstein (NYT) e outros comentaristas nova-iorquinos, a mensagem que atravessa a exposição acaba por ser doutrinária e completamente previsível, chegando a ser retrógrada. Essa mensagem reforça outras habitualmente patentes em noutras exposições: a culpa é nossa, a culpa é do progresso. É parte da verdade, mas apenas parte. E pouco adianta. Há inúmeros registos de catástrofes ecológicas a que a humanidade foi estranha, tal como há inúmeros casos de catástrofes causadas pelo subdesenvolvimento. Por exemplo, a ancestral lenha usada em regiões pobres da Ásia é causa de poluição atmosférica severa no Índico; a produção de bio-combustíveis pode empobrecer a agricultura de países menos desenvolvidos; alguns métodos de agricultura da Antiguidade provocaram a exaustão de solos.
Sobretudo, os problemas são demasiado graves para ter sentido sonhar com um retorno romântico ao mundo pré-moderno.
É fácil culpar o progresso; mais difícil é encontrar soluções para a poluição e a degradação dos recursos naturais. Se há alternativas às catástrofes ecológicas que não sejam o regresso à barbárie, só o progresso científico e tecnológico as poderá criar.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 10 de Novembro de 2007

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1 Comments:

Blogger Oscar Maximo said...

Se por progresso se entende o mesmo dito por economistas, ou seja, o crescimento, não há dúvida que a culpa é do progresso. O chamado crescimento sustentado é um oximoro, sustentado por longo tempo só pode ser um regime de estacionaridade.
Há um principio (Occams Razor) que vai no sentido de usar a explicação mais simples; ajuda, por exemplo, a evitar o "overfit" em indução estatística.
A explicação mais simples é esta:
o numero de humanos há muito que excedeu a capacidade do planeta.
Deve haver um gene que impede as pessoas de adoptarem essa ideia, senão vejamos um ecologista a falar: a pegada humana é N planetas - em vez de simplesmente dizer - a população excede N vezes o recomendável.

14 de novembro de 2007 às 01:54  

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