11.12.07

Vamos todos assobiar que pode ser que ninguém repare

Por João Miguel Tavares
COMO É MESMO aquele provérbio? Passou como cão por vinha vindimada. Sim, é mesmo esse. Foi assim, como cão por vinha vindimada, que a Polícia Judiciária e alguma comunicação social passou pelas notícias que diziam que o laboratório de Birmingham - no qual a PJ depositara a última réstia de esperança para resolver o caso Maddie - não fora capaz, após quatro meses de trabalho, de encontrar provas que sustentassem qualquer ligação dos pais da criança inglesa ao seu desaparecimento e muito menos à sua morte.
Nos últimos tempos, estivemos presos aos focinhos de dois cães pisteiros e a umas alegadas amostras de ADN. Agora, já nem sequer há isso. Agora, não há nada de nada - a polícia portuguesa não faz a menor ideia do que aconteceu a Madeleine McCann e é tão provável que este caso venha a ser resolvido como os pinguins começarem a voar. E no entanto, este ADN igual a zero, que é a informação mais importante em meses, não deu manchetes, nem comunicados, nem Prós e Contras, nem, já agora, um breve pedido de desculpas ou uma singela justificação.
Durante meio ano, andámos para aqui enfiados num lamentável Portugal-Inglaterra em conversa de salão. E agora, que se sabe quem perdeu, os investigadores enfiam a cabeça na areia. Só que há perguntas que não podem deixar de ser feitas. Afinal, o que é preciso acontecer mais para chamar incompetente, com todas as letras, a quem conduziu o processo na PJ? O que é preciso para que alguém peça publicamente desculpa pelos milhões e milhões de euros que este caso já custou ao País? E, de caminho, o que é preciso para que a comunicação social portuguesa faça uma análise séria do seu papel na tragédia e active mecanismos que a impeçam de se voltar a comportar como uma mesa de pingue-pongue, despejando boatos a mais e informação a menos?
Nunca deixará de me espantar a leveza com que nesta terra se assobia para o ar. Se repararem bem, quando um doutorado em portugalês (essa bela ciência que consiste em aproveitar os defeitos da pátria em proveito próprio) é apanhado em falso, ele não procura encontrar demasiadas justificações para o que fez - o que tenta é empatar o suficiente para dar tempo à borrasca para partir sem se molhar em demasia. É a atitude "deixa lá que isso passa". Profissional e com provas dadas. Suponho que agora seja essa também a estratégia dos polícias à frente deste caso: vamos mas é estar caladinhos que daqui a nada já ninguém se lembra. E tendo em conta a forma como Maddie se vai retirando dos jornais, a táctica parece boa. Na PJ já só se sonha com o silêncio dos arquivos.
«DN» de 11 de Dezembro de 2007 - c.a.a.

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3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não há a certeza de que tal seja exactamente assim. Ninguém conhece, concretamente, o processo e nem sequer é seguro dizer-se que as análises de ADN não foram concludentes (aliás, tanto quanto julgo saber, ainda decorrem na base de uma técnica sofisticada que só o "Forensic" domina). Vamos com calma.

11 de dezembro de 2007 às 15:41  
Blogger Blondewithaphd said...

As far as I'm concerned this is another case that will fade and vanish into thin air, just like so many other cases before. There will never be convincing evidence, there will always be shadows, there will always be contradictions. In the end, there will be nothing.

11 de dezembro de 2007 às 19:46  
Blogger Contacte-nos said...

Pedir desculpas porquê?
Por terem investigado junto e com outras polícias internacionais tão misterioso crime (de que tipo ainda é uma incógnita)?
Mais importante para mim e como bem refere no texto é o papel dos jornalistas no caso, não me parece ser correcto atirar as culpas do empolamento do caso para cima da PJ, bem pelo contrário, sempre foram alvo de critica por falarem de mais ou de menos enquanto deviam era estar sossegadinhos a fazer o trabalho para que são pagos.
Coitados de nós se o ego jornalístico fizesse prova de alguma coisa.

12 de dezembro de 2007 às 14:35  

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