17.1.08

Fala quem sabe...

MUITO SE TEM DISCUTIDO, ultimamente, a situação no BCP e a (suposta?) promiscuidade entre o partido no governo e a Administração da instituição; a ideia defendida em todos os textos que tenho lido é que o PS "assaltou o banco".
Talvez tenham razão, mas palpita-me que, se fosse vivo, La Fontaine talvez analisasse esse casamento do poder político com o poder financeiro com o mesmo espírito com que escreveu a fábula das duas panelas, que aqui se relembra numa adaptação cujo autor desconheço:
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Panela de ferro propôs à de barro
Que juntas fizessem pequena excursão;
Mas esta escusou-se, julgando prudente
Ficar no seu posto, juntinho ao fogão.
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"Um toque (diz ela) reduz a pedaços
Meu todo argiloso, tão frágil e inerme;
No entanto, a senhora não teme os embates,
Pois é protegida de rija epiderme."
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PANELA DE FERRO:
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"Prometo-te amparo; irei afastando
Os corpos que danos te possam causar;
Porei de permeio, passando por eles,
Meu bojo que o embate lhe dá de afrontar."
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Tentada da oferta, panela de barro
Ao lado da sócia começa a jornada;
Três pés arrastando, coxeiam, tropicam,
E - tem-te, não caias - lá vão pela estrada.
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Encontram-se, esbarram a cada momento,
Sofrendo a de barro, que em risco se viu;
Mal andam cem passos, ao muito, a de ferro,
A outra a mil cacos no chão reduziu;
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E nem a de barro podia queixar-se.
Do forte a amizade não queiras jamais;
Aos grandes ligado terás esta sorte:
Procura os amigos no rol dos iguais.
-oOo-
No fundo, trata-se da questão colocada por Nuno Brederode Santos na sua crónica «À beira das doze passas» [v. aqui], especialmente no derradeiro parágrafo. Dito por outras palavras: quando a malta da massa se junta com a rapaziada da política, quem é que, de facto, costuma controlar quem?

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