Portugal - País sem olfacto
Por C. Barroco Esperança
A população de parte do concelho de Porto de Mós não pode beber nem cozinhar com água da rede pública desde anteontem, devido a uma descarga clandestina de efluentes de uma suinicultura, que atingiu um furo de captação de água.
SE O GOVERNO PRETENDE FAZER a eliminação térmica dos resíduos industriais perigosos através de um método cientificamente testado – a co-incineração – não faltam rivais que se lhe oponham. Basta a glória efémera de aparecerem na televisão, a possibilidade de fingirem coragem ou a oportunidade de serem apreciados no regresso a casa.
A certos zeladores do ambiente, alguns sem nunca terem lido um livro sobre a matéria ou sequer um artigo científico, satisfá-los ouvir o líder do partido ou o presidente da Câmara a debitar inanidades. Basta isso para acusarem os governantes de insensatos, corruptos e criminosos.
Têm uma pituitária tão rudimentar como o senso crítico, um amor aos lixos do tamanho do ego e um gosto pela exibição pública que estarrece.
Não vi nem ouvi tais zeladores do ambiente a condenarem as descargas da suinicultura e da avicultura que, com metódica malvadez e criminosa obstinação, vão envenenando os lençóis freáticos, tornando irrespirável o ar e reduzindo o País a uma chiqueiro.
As multas compensam, os autarcas têm mais faro para os votos do que para as pocilgas e os interesses locais, mesquinhos e provincianos, impõem-se aos interesses nacionais e à saúde das populações.
A nossa aptidão para a arruaça e o horror à reflexão acabam por transformar Portugal numa lixeira a céu aberto.
Etiquetas: CBE
2 Comments:
Uma pequena nota técnica.
Os furos de captação de água para consumo humano geralmente têm para cima de 150 m de profundidade, sendo a água captada a diferentes profundidades, geralmente sempre para lá da Cota - 50 m. As boas práticas de construção de furos mandam que os primeiros 20 metros do furo sejam cheios com calada de cimento de modo a evitar contaminações de águas superficiais.
Se uma descarga de uma suinicultura contaminou a captação então é devido a pelo menos três motivos:
1.- Porque o furo se encontrava mal construído;
2.- Se o furo está bem construído então não foi uma descarga, mas sim muitas descargas ao longo de muitos anos;
3.- Não existe estação de tratamento e correcção da água antes da sua distribuição pública.
Obrigado pelo seu comentário que ajuda a compreender o cataclismo ecológico que, desde há anos, se abate sobre os habitantes de várias aldeias do distrito de Leiria.
Enviar um comentário
<< Home