15.1.08

Alta tensão - Comentário ao 'post' anterior

SERIA MUITO INTERESSANTE que alguém dissesse claramente às populações afectadas (e que querem que as linhas de AT sejam enterradas), o seguinte:
«Meus caros, as radiações dos telemóveis (que todos vocês usam) não ficam atrás das provocadas pelas linhas de A.T., e vocês metem esses aparelhos a poucos MILÍMETROS do cérebro - para já não falar da radiação das antenas retransmissoras. Assim, e ainda antes do enterramento das linhas, vamos proceder à desactivação imediata das redes de telemóveis nas mesmas zonas. Seguir-se-á a proibição dos micro-ondas, evidentemente».
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Falando a sério: o problema em causa (no que toca às linhas de AT) anda a ser estudado há dezenas de anos e em todo o mundo. São estudos estatísticos de longo prazo e, nomeadamente, tem-se procurado ver se há alguma correlação entre os campos eléctricos (a que as populações estão sujeitas) e a leucemia.
Até agora (como, aliás, sucede com os telemóveis), não se encontrou qualquer correlação.
Assim, apenas há que respeitar as distâncias de segurança (estabelecidas há muitos anos e no mundo todo) entre as linhas eléctricas e as pessoas que podem estar próximo delas.
Tudo o resto é jogar com a ignorância das populações - eventualmente usando-as como arma-de-arremesso em lutas político-partidárias mais ou menos paroquiais.
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Pelo meio, aposto que ninguém quer abordar o caso das casas clandestinas que foram construídas por debaixo dessas linhas. Conheci, nos arredores de Lisboa, algumas em cujos terraços quase que se podia estender roupa nos cabos de 60kV!
Aí, não havia lugar a quaisquer palpites nem suposições - havia certezas, a começar pela identidade dos responsáveis que, por acção ou omissão, permitiram esses verdadeiros crimes.
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NOTA: o cartoon que aqui se vê foi um dos desenhados por José Abrantes para ilustrar as «Aventuras de Salvador, o Consultor», publicadas na revista Valor durante mais de um ano. Podem ser lidas [aqui] e, em formato PDF, também [aqui].

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3 Comments:

Blogger Sepúlveda said...

AInda falta tocar outra questão, para além das radiações. É o ruído. Estou convencido que essas linhas (ou ligações nos postes) emitem ruído suficiente para incomodar de dia e de noite.
Talvez como os viadutos e autoestradas colados a certas casas/prédios, como em Algés, por exemplo.

16 de janeiro de 2008 às 20:19  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Ruídos, trânsito, fumos, campos electromagnéticos... Tudo isso é o preço que pagamos por aquilo a que chamamos "Civilização".

Na impossibilidade de vivermos numa ilha ou no deserto, a solução é haver normas que regulem os valores admissíveis para esses inconvenientes que, felizmente, são quantificáveis e podem ser medidos. E havendo essas leis ("normas" nacionais e internacionais), o essencial é, pois, que sejam cumpridas.

No que toca à EDP: pelo que sei (trabalhei com ela desde 1973 até 2003), confio plenamente nos seus técnicos. Se alguma "razão de queixa" eu alguma vez tive deles foi devida ao seu excesso de rigor em matéria de segurança e de cumprimento de todas essas normas e regulamentos.
A empresa não está minimamente interessada em criar problemas às populações, para além dos inevitáveis devido ao facto de a electricidade fazer parte das nossas vidas...

16 de janeiro de 2008 às 20:53  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Crónica de Carlos Fiolhais publicada no "Público" de hoje:
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De Norte a Sul do país muita tensão tem havido por causa das linhas de alta tensão. Na periferia ocidental de Lisboa protestos populares levaram ao fecho de uma nova linha da Rede Eléctrica Nacional (REN). O Tribunal Constitucional negou provimento a um recurso interposto pela REN. Esta empresa chegou entretanto a acordo com a Câmara Municipal de Sintra para enterramento dessa linha, com os custos, que não são pequenos, suportados pela autarquia, isto é, pelos locais. Noutros sítios do país – nomeadamente Guimarães, Batalha, Almada e Silves – tem havido lutas semelhantes contra linhas existentes ou a existir. Já houve greves de fome junto à Assembleia da República. Há aproveitamento por parte de forças políticas, com destaque para o Bloco de Esquerda, cujo líder chegou a afirmar que este seria "o primeiro grande movimento popular do século XXI”. Se o comunismo era os sovietes mais a electricidade, o pós-comunismo há-de ser os sovietes contra a electricidade...

Afirmam os cidadãos em protesto que há uma relação de causalidade entre as radiações electromagnéticas emitida por instalações eléctricas, em particular as linhas de alta tensão, e alguns cancros. Terão razão? Tornando curta uma história que pode ser alongada, a resposta é não. O melhor conhecimento proporcionado pela ciência até à data diz que não existe essa relação. Mais, nem sequer está provada qualquer relação entre a exposição à radiação electromagnética e os males cancerosos que infelizmente afligem a humanidade. O facto de uma pessoa sofrer, por exemplo, de leucemia não significa que a causa da doença se encontre no poste de alta tensão mais próximo. Claro que também não está provado que uma causalidade desse tipo não exista de todo, mas essa prova é impossível. A ciência, neste como em muitos outros casos, dá probabilidades e não certezas. Por isso, não se podem construir linhas por cima das casas ou casas por baixo das linhas: há regras.

A Sociedade Americana de Física, a maior associação de físicos do mundo, divulgou em 1995 um parecer sobre o assunto, que voltou a divulgar em 2005, por não terem surgido alterações de monta. Diz lá claramente: “A literatura científica e os relatórios de revisão de outros painéis mostram que não há nenhuma ligação consistente e significativa entre cancro e linhas eléctricas. A literatura inclui estudos epidemiológicos, pesquisa de sistemas biológicos e análise de mecanismos teóricos de interacção.” E mais adiante: “Os custos da mitigação e litigação relacionados com a ligação entre linhas eléctricas e cancro subiram a milhares de milhões de dólares e ameaçam subir mais. O desvio de recursos para eliminar uma ameaça para a qual não há uma base científica convincente é perturbador. Problemas ambientais mais graves são negligenciados por falta de fundos e da atenção do público e o peso dos custos que recai nas pessoas não é comensurável ao risco, se é que este existe”. Eu, que também sou sócio, assino por baixo.

Não tenho interesses na REN nem conheço quem tenha. Nem sequer tenho qualquer simpatia por essa empresa, que bem podia ser mais selectiva no mecenato científico. Para dizer a verdade, até fiquei a antipatizar com ela depois de saber que vai dar 37 milhões de euros a um centro em formação na Faculdade de Farmácia de Lisboa para fazer um estudo “pioneiro” sobre o assunto (informação do último “Expresso”). A REN? É parte interessada, quer certas conclusões. Estudo pioneiro? A questão foi há muitos anos levantada em vários países e as conclusões são, em suma, as que estão em cima. Suspeito que essa verba não será subtraída aos lucros da REN, mas sim acrescentada nas despesas, o que significa que será paga por nós, com o agravamento dos custos da electricidade. Ora eu não quero pagar para isso, não quero pagar para saber o que já sei. Na Faculdade de Farmácia? Pode-se sempre saber mais do assunto, mas não deve ser na Farmácia. Já alguém, com humor, sugeriu que fosse na Faculdade de Letras, porque assim as conclusões viriam mais bem escritas.

18 de janeiro de 2008 às 12:02  

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