21.3.08

E para quando a avaliação dos papás?

Por Ferreira Fernandes
O CAROLINA Michaëlis, que já teve o belo nome de liceu, não serve os miúdos do bairro do Aleixo, no Porto. Não, aquele vídeo (...) não mostra gente com desculpas fáceis, vindas do piorio. Pela localização daquela escola, quem para lá vai vive às voltas da Boavista e os pais têm jantes de liga leve sem precisar de as gamar.
Os pais da miúda histérica que agride a professora de francês estarão nessa média. Os pais do miúdo besta que filma a cena, também.
Tudo isso nos remete para a questão tão badalada das avaliações. Claro que não me permito avaliar a citada professora. A essa senhora só posso agradecer a coragem. E pedir-lhe perdão por a mandar para os cornos desses pequenos cobardolas sem lhe dar as condições de preencher a sua nobre profissão.
Já avaliar os referidos pais, posso: pelo visto, e apesar das jantes de liga leve, valem pouco. O vídeo mostrou-o. É que se ele foi filmado numa sala de aula, o que mostrou foi a sala de jantar daqueles miúdos.
«DN» de 21 de Mar 08 - c.a.a.
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NOTA (CMR): o vídeo em causa, que está disponível [aqui], foi, para mim, tão chocante que não consegui vê-lo até ao fim. Nasci ali perto, em Cedofeita, e conheci bem o Liceu em causa porque várias pessoas da minha família foram lá professoras, com particular destaque para a minha saudosa tia Maria Emília Medina, que lhe deu 40 anos da sua vida (a maior parte dos quais como vice-reitora), e adorava o que fazia.

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10 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Acerca deste caso, vale a pena ler a opinião de Daniel Oliveira, no ARRASTÃO (http://arrastao.org/).

O post intitula-se «Uns têm, outros não», e aborda outro aspecto do problema:

A professora não está (ou não foi) preparada para enfrentar a realidade difícil de uma turma como aquela, e desceu ao nível dos putos.
A escola também mostra não estar preparada. Numa situação normal, a aula seria interrompida, chamava-se um funcionário que pusesse a garota na rua, e a aula prosseguia (independentemente do que depois viesse a suceder).

21 de março de 2008 às 09:51  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Lembram-se quando, há algum tempo, a TV mostrou as imagens de uma câmara oculta?
E lembram-se da reacção oficial - a condenação por «violação de privacidade»?!

E quando o PGR decidiu privilegear a luta contra a violência nas escolas e a senhora ministra, em vez de concordar (ou, no mínimo, estar calada), achou por bem vir a público "desvalorizar"?

21 de março de 2008 às 10:03  
Blogger hkt said...

As escolas estão feitas e pensadas para alunos "normais" não para alunos como estes. O problema é que cada vez mais (em todos os grupos sociais) temos alunos "destes". As escolas estão preparads para pais "normais" mas a maioria dos pais deixaram de ser "normais". O masmo se diz para os curricula... a escola está a ser construída sobre um logro...
Já agora quanto à normalidade do "funcionário que pusesse a garota na rua"... bom, as escolas têm poucos funcionários, não raro têm que recorrer a POC's, os funcionários têm pouca formação e por vezes são também eles impotentes face a isto (uma simpática cinquentona, não serve para muito numa situação destas).
A indisciplina/violência é um mal que afecta a maior parte das escolas e que todos se têm empenhado em esconder por motivos diversos.

21 de março de 2008 às 12:23  
Blogger António Balbino Caldeira said...

Caro Carlos

A recordação da crítica da ministra ao Procurador-Geral da República, que realçou a necessidade de pôr um limite ao problema da violência nas escolas (http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=882784 ) é sua, portanto, escreva sobre ela, quando puder. Linkarei.

Filho de professores, marido de professora, irmão de professora, sou também professor há 13 anos. Nunca pus um aluno fora da sala, nem foi preciso. Sei, todavia, que o ensino superior é diferente do secundário e ainda mais do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, e conheço bem os problemas sociais que desaguam na escola: crianças e jovens divididos pela cisão dos pais, desemprego, droga, etc..

Li o que escreveu o Daniel Oliveira. No limite, o professor ideal dá sempre a volta a uma turma. Mas o problema é que os Sebastiões da Gama são poucos para o nível de indisciplina e violência dos jovens e é, como na engenharia, com a resistência do elo mais fraco do sistema que o Governo se tem de preparar: o professor que não consegue impor a sua autoridade na sala de aula perante alunos agressivos. Os outros, os ideais (cada vez mais raros neste ambiente de conflito) não precisam de regulamentos de disciplina, nem da imposição por funcionários corpulentos (em vez das frágeis auxiliares de acção educativa), muito menos do Ministério da Educação. Os demais, a grande maioria dos que sentem a sua autoridade degradar-se pela utopia e falsificação do sucesso de uma política fantasista, precisa de outro governo. E nós, pais e cidadãos, também.

Chega de delírio permissivo batoteiro do sucesso (estatístico) educativo!

Isto já lá vem de trás, desde que a utopia permissiva tomou conta do Ministério da Educação. Mas o paradoxo do autoritarismo socratino com permissividade (a memória da passagem administrativa, o desmerecimento da assiduidade e da avaliação dos alunos, etc.) na escola encheu o copo dos professores e do País. O povo quer outra escola: mais exigente.

A escola não pode resolver os problemas sociais, esses têm de ser resolvidos a montante com uma política mista de tolerância zero dos delitos dos jovens e promoção de infra-estruturas e actividades desportivas, artísticas e culturais e recreativas nos bairros e zonas problemáticas.

As tentativas neo-rousseanianas de retorno ao bom selvagem tiveram meio-êxito: não estamos a tornar bons, mas estamos a fazer selvagens.

21 de março de 2008 às 13:54  
Blogger Musicologo said...

A situação está longe de ser nova e inédita. Já há largos anos que ouço relatos em primeira mão de alunos que se gabam de chamar nomes e fazer 30 por uma linha aos professores e sairem impunes.

A minha experiência como docente mostrou-me turmas muito atinadinhas e fantásticas, mas também, turmas com elementos altamente problemáticos que constantemente estavam a ir para a rua com falta disciplinar. Nessas turmas havia um problema:

Esses alunos não distinguiam o recreio da sala de aula. Era tudo uma arena, um campo de batalha.

E isso, sim, é que precisa de ser repensado.

21 de março de 2008 às 18:47  
Blogger Maio said...

A herança de Sócrates

Numa tentativa clara de desvalorização do lamentável acontecimento ocorrido na Escola Secundária de Carolina Michaelis, no Porto, que foi amplamente noticiado pelas televisões e pelos jornais mas está longe de ser um caso isolado — basta pesquisarmos no You Tube e contaremos por dezenas os vídeos sobre casos de indisciplina e violência nas salas de aula e noutros espaços das nossas escolas — o senhor Primeiro-Ministro e a Ministra da Tutela remetem-se ao silêncio e resguardam-se atrás do secretário de Estado da Educação.
E o que faz Valter Lemos? Tenta sacudir a água do capote afirmando, sem qualquer pudor, a maior das mentiras: que "o Governo, ao fazer aprovar o novo Estatuto do Aluno, deu às escolas um instrumento para reforçar a autoridade dos professores" e combater os casos de violência escolar! "Esquece" o senhor secretário de Estado que todos sabemos (ele também) que o que o Ministério da Educação fez foi desautorizar e humilhar a classe docente, que se vê, cada vez mais, impotente e desprotegida para conter o mau comportamento dos alunos e, o que é mais grave, para defender a sua integridade física e moral das agressões não apenas de alunos mas, pior ainda, de pessoas que, de pais e encarregados de educação, apenas têm o nome.
Bem pode o Governo tentar, irresponsavelmente, varrer o lixo para baixo do tapete que não vai consegui-lo. É lixo a mais!
O que é já claro é que esta política educativa, assente numa sanha reformista que privilegia o número em vez da pessoa, a estatística em vez da realidade, o produto em vez do processo, não vai dar certo. Pelo contrário, causará danos de tal monta e de tal forma irreversíveis na actual geração jovem que minarão os alicerces da nossa futura sociedade.
Esta é uma das mais graves heranças que Sócrates nos vai legar. Maldito seja, por isso!

Resistir é preciso
Cantigas do Maio

21 de março de 2008 às 20:04  
Anonymous Anónimo said...

Faltava ainda esta anedota, a crédito de alguém do Ministério da Educação que ainda não sabe o que é o YouTube:

Entretanto, uma mãe preocupada contactou a DREN por e-mail, alertando para a existência deste vídeo, e recebeu como resposta as mesmas palavras proferidas aos jornalistas, mas com um pormenor: «Vamos proceder à retirada do filme do portal YouTube por violação do direito à imagem».

21 de março de 2008 às 21:18  
Blogger josé ricardo said...

Duas palavras para a professora: agiu correctamente!

j. ricardo - www.rescivitas.blogspot.com

21 de março de 2008 às 22:25  
Blogger maria_maia said...

filho de peixe...

talvez
[esta leitura] nos ajude a compreendermos um pouco melhor esta situação e outras idênticas...

25 de março de 2008 às 00:18  
Anonymous Anónimo said...

Maria Maia,

o post da sinistra que refere (e que tem referido [;-)]) é eventualmente uma brincadeira de alguém. Para ser franca não sei ... Não foi comigo, recebi por e-mail. Tem realmente piada se o enquadrarmos numa tragédia cómica. O ridículo pode ser uma excelente fonte de inspiração e.g. a figura da própria Ministra, ex libertária, funcionária, ao que consta do jornal A Batalha e exímia em 'apupos' e carantonhas (aí pode nem ter culpa nenhuma!!!).
Enfim ... finalmente (I), queria apontar o grande problema aglutinador: uma sociedade, um mundo desvirtuado, desvalorizante da cultura, das artes, da própria ciência. Esvaziado de Humanidade.

'Reprise' (finalmente II) - Não é a adolescente (os adolescentes, no caso), não são os pais nem os professores quem deve ser absolutamente responsabilizado. É simplesmente o ser-Humano, que está doente, viciado, dependente, fraco, sôfrego.
Temos, todos, um enorme problema... Teremos, TODOS, de o resolver. Não contemos, pois, com bonecos e mangas de alpaca. Não vai ser o sr. Bush, Sócrates, Gates nem o Papa que o vão resolver.
Bla bla bla ... parece-me que falei pelos cotovelos (mas sem dor alguma)!
Um bom fim-de-semana para todos e na mesma para quem tiver tido a pachorra de me ler, coragem.
Moriae

29 de março de 2008 às 19:13  

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