25.3.08

O Túnel da Matemática

Por Nuno Crato
DEPOIS DE DÉCADAS DE MAUS RESULTADOS, os Estados Unidos estão a ponderar uma inflexão no ensino da matemática.
Há dois anos, uma comissão nacional de matemáticos, psicólogos e educadores começou a trabalhar para produzir uma análise do estado do ensino e para distinguir as indicações pedagógicas que se fundamentam em dados científicos das que se baseiam apenas em profissões de fé românticas.
O estudo acaba de sair (www.ed.gov). Para além da sua seriedade e profundidade, destaca-se o respeito pelos dados e a consideração daquilo que a psico-pedagogia científica tem produzido. A comissão inclui críticos de longa data da chamada matemática vaga («fuzzy math»), como o matemático Hung-Hsi Wu, de Berkeley, psicólogos experimentais críticos do construtivismo, como David Geary, de Missouri e estudiosos que têm criticado o menosprezo dos conteúdos curriculares na formação de professores, como Liping Ma, da Carnegie Foundation. Mas inclui também educadores como Deborah Ball, de Michigan, e «Skipp» Fennell, presidente do National Council for Teaching of Mathematics (NCTM). Esta é uma organização que defendeu repetidamente métodos construtivistas radicais e insistiu no ensino centrado no aluno e na descoberta pelos estudantes, rejeitando amiúde a necessidade de memorização e de mecanização dos algoritmos tradicionais das operações.
Por tudo isto, sendo aprovadas por unanimidade, as conclusões do relatório final deste Painel são uma boa surpresa. O relatório insiste no ensino organizado, no esforço continuado e na destreza nas operações elementares.
O respeito pelos dados e pelos resultados científicos da psicologia acendeu uma luz ao fundo do túnel.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 21 Mar 08

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