8.4.08

Ciências da Educação

Por Nuno Crato
ESTUDAR A EDUCAÇÃO É NECESSÁRIO, mas muito difícil. No recente relatório do painel norte-americano sobre o ensino da matemática (www.ed.gov/MathPanel), insiste-se repetidamente que os estudos existentes não são conclusivos sobre um conjunto de aspectos cruciais do ensino da matemática. Afirma-se, por exemplo, que os estudos existentes não permitem defender o chamado «ensino centrado no aluno» (p. 45). Afirma-se que não há dados conclusivos sobre as vantagens de ensinar matemática com recurso sistemático a problemas reais (p. 49). Afirma-se, ainda, que não há dados científicos que permitam apontar vantagens no uso da máquina da calcular no ensino elementar e recomendam-se restrições ao seu uso (p.50).
A modéstia e as precauções do estudo são elucidativas. E o conjunto de trabalhos de suporte, avassalador. O mais impressionante é que este painel adoptou as suas recomendações por unanimidade e reuniu durante dois anos alguns dos melhores especialistas norte-americanos. São nomes conhecidos em todo o mundo. Entre eles não se incluem apenas matemáticos e professores. Incluem-se também psicólogos e alguns dos grandes especialistas mundiais daquelas áreas que, em Portugal, se chamariam ciências da educação.
Ler este relatório é um estímulo ao rigor. Percebe-se como é fácil cair em conclusões precipitadas e como muitas das ideias construtivistas defendidas por pessoas que se dizem especialistas em educação são apenas convicções românticas ou especulações infundadas. Por vezes são coisas piores, são pseudociência.
Não há nada pior para aquelas que possam ser verdadeiras ciências da educação do que a pseudociência.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 5 Abr 08

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4 Comments:

Blogger Rui Fonseca said...

Felicito-o pelo prémio que lhe foi recentemente atribuido. E permita-me dizer-lhe do meu orgulho em ter passado por uma escola que conta no seu curriculum com nomes de pedagogos como Bento Caraça e Nuno Crato.

Dito isto, atrevo-me a dizer-lhe que, para além das questões pedagógicas que se enleiam a propósito do ensino da matemática, há uma que não vejo geralmente referida e, acerca da qual, me tenho entretido de vez em quando a escrever nas minhas palavras cruzadas: a questão do estímulo da procura de conhecimentos de matemática (e de aritmética, já agora).

É um facto comprovado que os indivíduos reagem a estímulos.
Há, geralmente estímulos, para a aprendizagem da matemática? Penso que, geralmente, não há.

Para além daqueles,poucos, que nasceram com intuição para a procura do saber matemático, há muita gente que não se interessa pela matemática pela simples razão de não lhe exigirem conhecimentos dela.

Há dias fui a uma farmácia e uma jovem farmacêutica não sabia fazer o troco de 41 cêntimos para os 5 euros que eu lhe tinha dado. Tinha a máquina a variada e ficou aterrorizada. E pediu-me ajuda. Parece mentira, mas é verdade.

É frequente verem-se jovens nas lojas a fazer as contas pelos dedos e a enganarem-se, umas vezes contra o cliente (que reclama) outras vezes contra o patrão (que se esqueceu de lhes perguntar se sabiam contar). Quando me recordo da facilidade com que as analfabetas peixeiras na praça calculavam a velocidade electrónicas, penso que a escola às vezes também faz mal às pessoas...

O maior empregador, o Estado, submete os candidatos a provas e, nomeadamente de matemática? Creio que nunca.

Mesmo as empresas privadas dão geralmente preferência a uma cunha que a uma boa nota a matemática.

Ainda, recentemente, responsáveis pelas principais empresas de recrutamento de pessoal lamentavam a emigração de cerca de 1/5 das pessoas qualificadas deste país para o estrangeiro. Um deles, lamentavelmente, dizia que este país não é para cientistas.

Lamentavelmente, é capaz de ter razão.Ainda que haja algumas honrosas excepções.

8 de abril de 2008 às 15:28  
Blogger Rui Diniz Monteiro said...

"Toda a virtude assenta na justa medida, e a justa medida baseia-se em proporções determinadas." (Séneca)

Não teremos, por vezes, que passar pelo excesso e pela falta para que possamos encontrar a justa medida daquilo que pretendemos?

Todas estas teorias de que fala, que fui pondo em prática ao longo dos meus anos de professor do ensino básico, só pecavam quando absorviam unilateral e totalitariamente a aula.

O facto é que, quando comecei a atingir a tal justa medida, obtive 2 grandes benefícios:
a) foram atraídos para a matemática a maior parte dos alunos que tinham desistido dela, alguns já há anos;
b) os alunos tinham um sucesso invejável nos exames, bem como no secundário (dizia-me um, já neste ciclo de ensino, depois de um 100% na prova global do 10º: lembra-se de quando nos obrigava a pensar nas suas aulas? Pois agora eu percebo tudo).

(Professor de Matemática do 3º ciclo durande 15 anos e que há 2 anos foi "chutado" para a Educação Tecnológica sem apelo nem agravo)

8 de abril de 2008 às 17:07  
Blogger Rui Fonseca said...

Volto para, em sequência do meu comentário, acrescentar-lhe uma pergunta: Ouvi-o há dias, e tenho lido também comentários seus no mesmo sentido, que os alunos do secundário chegam mal preparados ao ensino superior, nomeadamente em matemática.

Ora as Universidades comportam-se como os empregadores: Não são exigentes ou não o são suficientemente com os candidatos.

Se fossem, eles seriam obrigados a aplicar-se. Se tivessem de passar por um exame de admissão deixaria de existir a queixa da má preparação no secundário porque só entrariam os convenientemente habilitados. Ou não será assim?

Se não há exigência como pode esperar-se aplicação generalizada?

8 de abril de 2008 às 21:28  
Blogger Américo Tavares said...

Penso que o problema é complexo e por isso de difícil resolução. É difícil motivar quem não gosta de Matemática. Acresce que dificilmente os alunos do básico aprendem qualquer coisa desta disciplina na Televisão ou em família: pode-se falar, por exemplo, das invasões Francesas durante a refeição com os pais, mas raramente ou nunca se falará sobre, por exemplo, Geometria.
Conclusão: se não for na escola, onde é que os alunos vão aprender Matemática? Uns muito poucos ainda o poderão fazer por auto-didatismo, mas a generalidade não tem a motivação para esse empreendimento.
Sobre as exigências que as Universidades deveriam colocar aos seus candidatos, concordo totalmente com Rui Fonseca.

Américo Tavares


NOTA: se por acaso este comentário for considerado anónimo, aqui deixo o meu e-mail: acltavares@sapo.pt.
O meu site/blogue é
http://problemasteoremas.wordpress.com/

e a página pessoal no sapo,
http://americotavares.com.sapo.pt/

Sobre mim poderá consultar esta página do meu site/blogue
http://problemasteoremas.wordpress.com/sobre-mim/

Américo Carlos L. Tavares
Queluz

Nota: estas informações servem apenas para que não haja dúvidas de que não se trata de um comentário anónimo. Não pretendo criar falsos "links" ao meu site (sítio)/blog(ue).

9 de abril de 2008 às 08:45  

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