Dificuldades para deficientes
Lisboa (e o Porto, e outras cidades portuguesas) torna-se difícil, impossível, para velhos e aleijados. Apesar das fórmulas politicamente correctas com que cobrimos estes estados de vida, o da velhice e o da incapacidade, não cobrimos a cidade de "facilidades para deficientes" nem para incapacitados, seja pela idade, a doença ou o acidente. Há uns anos estive incapacitada durante alguns meses devido a uma ruptura de ligamentos num joelho e a uma operação. Com dificuldades em andar, carregando duas muletas, lembro-me de tentar atravessar a Avenida da Liberdade num dos semáforos sem conseguir. Sem asas nos pés, o tempo entre a luz verde e a vermelha para os peões é curtíssimo, e os carros parecem um bando de animais deitando fumo e escarvando no chão antes da investida. Muda o sinal e fica-se entalado a meio da Avenida entre dois sentidos, com as tangentes dos automóveis e os insultos dos automobilistas portugueses que, como toda a gente sabe, não são um modelo de cortesia. A primeira pessoa que me chamou a atenção para este problema foi a Helena Roseta, quando ainda não era (nem sabia que viria a ser) vereadora da Câmara Municipal. Espero que faça alguma coisa para modificar o estado das coisas.
A juntar ao domínio dos carros sobre as pessoas na cidade, temos as colinas e as calçadas portuguesas em altos e baixos, com pedras descalçadas, montinhos de brita, pilões de aço e carros estacionados, episódios vários de incúria e repressão que dificultam a passagem das pernas lentas e das cadeiras de rodas. Os velhos têm medo de atravessar as ruas, e têm pânico de cair. Junte-se ainda a inexistência de transportes especiais para deficientes, de táxis especiais para deficientes (que poderiam e deveriam existir) e de rampas e acessos nos edifícios e lugares públicos. A cadeira de rodas, em Portugal, e a deficiência, são uma condenação ao imobilismo, à solidão, ou ao internamento em instituições especiais. São também uma condenação à pobreza ou à pedincha quando se trata de gente sem recursos, ou incapacitada pelas centenas de acidentes de trabalho por falta de segurança, que as companhias seguradoras ignoram e tratam como dispensáveis, recompensando a perda das pernas ou dos braços, da visão ou da audição, ou de qualquer parte do corpo, com montantes irrisórios. A vida de um deficiente pobre vale muito pouco, se for um trabalhador imigrado estrangeiro vale nada. A família que cuide dele, é a racionalidade dominante. "Teve azar, coitado" é o comentário piedoso.
Etiquetas: CFA
4 Comments:
E o Estado continua a primar por dar "bons" exemplos.
Experimente este email: mnaa.depcom@ipmuseus.pt. A mailing list é enviada através deste email.
Pechisbeque,
Obrigado.
A sua informação foi reencaminhada para a autora da crónica (como, aliás, sucede sempre com os comentários feitos aos textos de autores convidados)
E ainda:
CFA agradece, e informa que, entretanto, já foi contactada pelo MNAA
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