Homenagem a Fausto Correia
Por C. Barroco Esperança
FOI UM CIDADÃO SINGULAR, no espírito de tolerância, sentido da fraternidade e princípio da ética republicana. Era o intelectual estimado por Miguel Torga e Fernando Vale e foi, sobretudo, o homem que viveu impetuosamente porque sabia que não há vida para lá da morte. Por isso era excessivo. Na forma e na substância.
Viveu depressa. É sempre rápida a viagem que começa com o primeiro vagido e acaba com o último suspiro, mas foi muito curta a dele. Podia ter esperado pelo presidente da Câmara que Coimbra desejava e merecia. Mas não quis e o Fausto, na paixão da vida, no desprezo das análises e no gosto das tertúlias, foi fazendo a vontade à morte.
O político de rara intuição e sagacidade foi o alquimista dos afectos que transformou os conhecidos em amigos e estes em admiradores, construindo a imensa cadeia de dilectos sem os quais não saberia viver.
Era o mais destacado político de Coimbra quando a vida o abandonou numa manhã, em Bruxelas. Sendo cidadão do Mundo era um homem de Coimbra onde regressava sempre ao convívio dos amigos. Cá voltou, por entre lágrimas de pesar, na derradeira viagem.
Em Celas, no seu Café habitual, a tertúlia nunca mais foi a mesma. Falta-lhe a seiva que a nutria, a paixão da vida, o afecto de quem foi a mais sólida referência e o cimento. Morreu, traído pelo coração, aquele coração grande, abnegado e solidário. Coimbra ficou de luto e Portugal mais pobre.
Deixou o largo, que atravessava a caminho do Café e dos amigos, agora com o seu nome. Desde 4 de Julho. Imagino-lhe ainda o sorriso travesso a olhar a placa que não viu no Largo em cuja toponímia entrou demasiado cedo. Vi descerrá-la. Lembrei-me do último café que tomámos a poucos metros e abalei com a multidão que assistiu ao acto.
Deram-lhe o nome ao largo porque faltou tempo para lhe entregarem Coimbra.
Etiquetas: CBE
2 Comments:
Caro Carlos
Não sabe quanto me emocionou. O Fausto foi meu camarada de lutas diversas, polítics e outras, mas, sobretudo, meu Amigo. Na última vez que estive em Coimbra para apresentar o
me(a)u «Morte na Picada» fui de propósito ver a placa do largo. E, confesso: com quase 67, uma vida vividíssima e aventuras diversas e muitíssimas - cairam-me pela face umas quantas lágrimas, as desavergonhadas. Muito obrigado.
Um abração
Caro Antunes Ferreira:
Somos dois, dos muitos, que sentimos uma perda irreparável.
É a vida... de que apenas resta a memória. Enquanto formos.
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