20.8.08

Pequenas e vãs excitações

Por Baptista-Bastos
A AUSÊNCIA DE MANUELA FERREIRA LEITE na Festa do Pontal fez estremecer de ira os dois terços de militantes do PSD que nela não votaram. Ofegante de indignação, Mendes Bota ainda foi tentado a escrever uma xácara pungente, sob o tema espesso e trágico do abandono. Mudou de ideias e proferiu dilaceradas metáforas acerca da "cisão" e do intransigente destino daqueles (ou daquelas) que escolhem a solidão como irreversível "razão de ser".
Ângelo Correia, orador oficial, não esteve com meias-medidas. Servindo-se da eloquência que fez dele uma espécie de incorporação ornamental de todos os valores, de todos os princípios e de todos os padrões fundadores do PSD - Ângelo, inclemente e esbaforido, acusou a ausente de "criar o vazio". Por seu turno, uns dias antes destes funestos episódios, Santana Lopes, o fatal Santana, blogou a excitação ideológica numas frases cruéis, embora trôpegas, que deixaram de rastos a grande faltosa: "Até pode nem falar. Mas deve estar junto daqueles que se dispõem, numa altura tão difícil para mobilizações, a estar juntos pela bandeira partidária, com a história que simboliza e as causas que representa.
"Estava a pátria estarrecida, eis senão quando surge António Borges. Grave, solene e fúnebre como um caixeiro de praça de uma loja de caixões, Borges, que gosta muito de dizer coisas, disse, lapidar, e acima de qualquer argumento: "A Festa do Pontal é uma festa para quem quiser passar uma noite divertida." Inferiu-se, desta atroz afirmação, que a dr.ª Manuela não gosta de "passar uma noite divertida", e que a natureza do encontro no Calçadão da Quarteira se reduz a um concentrado de futilidades. Notoriamente, o dr. António Borges é uma concessão à gaffe e cada intervenção que faz mais acentua a ideia de que, sobre estar no lugar errado, não tem jeito nenhum para a função.
Nessa mesma noite, uma das televisões exibiu um filme retrospectivo, no qual se via e ouvia Sá Carneiro a vituperar Ramalho Eanes, por "usurpação de poderes". A multidão, apopléctica, gritava como se estivesse a partir para uma guerra santa. O extraordinário dr. Borges, cujas confusões começam a pertencer ao anedotário político português, é a favor e contra a reunião no Pontal. A favor dos folgazões, bem entendido. Mas também contra quem lá vai por entender pouco sério os que apreciam "uma noite divertida". Não se percebe nada. Mas o dr. Borges não está ali para explicar: sim para complicar.
O alvoroço criado por estes desgraçados acontecimentos fez esquecer um relevante facto político: o novo visual do dr. Nuno Rogeiro.
O estimável comentador político apresentou-se à puridade desprovido das enormes guedelhas, que haviam sido grisalhas, agora pintadas de negro, e aparadas no moderno corte "à búlgaro".
«DN» de 20 de Agosto de 2008

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1 Comments:

Blogger R. da Cunha said...

Cortante. Que lâmina tão afiada!

20 de agosto de 2008 às 19:09  

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