26.9.08

900

Por João Paulo Guerra
Segundo contas do Diário de Notícias há 900 processos por corrupção pendentes em Portugal.
MAS O NÚMERO PECA certamente por defeito para uma estatística da criminalidade de colarinho branco em Portugal. 900 são os processos abertos e pendentes por corrupção. Há depois os processos entreabertos, os entrelinhas, os entreactos, os encobertos, os geralmente muito nublados, os nebulosos, os fechados, os engavetados. Em Portugal só não haverá processos por corrupção nos sectores da sociedade e do Estado que não foram convenientemente investigados.
E depois, corrupção é uma maneira de dizer. Porque há processos para todas as modalidades que a mente humana em geral, e a portuguesinha em particular, engendrou para meter a mão no saco do Estado e no bolso dos contribuintes: corrupção propriamente dita, peculato, participação económica em negócio, branqueamento de capitais, gestão danosa, prevaricação, fraudes, crimes fiscais, crimes de tecnologias informáticas. Para um cardápio completo seria questão de espreitar para baixo dos tapetes do Estado, que é para onde se varre a porcaria acumulada.
Infelizmente, as notícias perdem com muita frequência o rasto dos seus conteúdos. Pois seria muito interessante e educativo saber-se, daqui por uns tempos, o destino dos 900 processos por crimes económicos pendentes neste momento em Portugal. Quantos chegaram a julgamento? Quantos deram condenações? Quantos não deixaram rasto? Um dia terá que fazer-se uma memória das instituições criadas em Portugal para prevenir e combater a corrupção, da antiga Alta Autoridade cujos arquivos estão sepultados numa sub-cave da Torre do Tombo, ao futuro Conselho de Prevenção. E, já agora, uma estatística da sua eficácia.
«DE» de 24 de Setembro de 2008 - c.a.a.

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