Dez meses que não mudaram Lisboa
Por Manuel João Ramos
DADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS, tentei fazer o melhor que pude. Durante dez meses, apresentei diligentemente propostas e requerimentos, li dossiês, alvitrei aqui e ali, votei de modo a ter o menor peso possível na consciência. Recusei o carro com motorista acoplado, mantive-me afastado de recepções, festas e cerimónias, não vesti o típico fato e gravata negros, e não reuni uma vez sequer com banqueiros, empreiteiros ou sindicalistas. Durante dez meses, senti o serpentear dos infecciosos mecanismos de desresponsabilização colectiva que fazem a rotina diária da mais disfuncional, mastodôntica e inimputável autarquia do país.
Excepto num ou noutro caso, restringi o meu contributo propositivo aos problemas de mobilidade e segurança viária da cidade. Perorei o menos possível, numa vã tentativa de evitar que as reuniões do executivo camarário se prolongassem para além das dez horas. E nunca deixei de anotar e desenhar em caderno próprio a viagem que fiz à volta do mundo da administração local lisboeta em 304 dias.
Em todo este tempo, correndo das aulas para as reuniões camarárias, e destas para casa, volta-não-volta às duas horas da madrugada, uma pergunta perseguiu-me continuamente: “O que estou eu a fazer aqui?”.
(...)
Texto integral [aqui]
3 Comments:
Desconfio que nem o Preste imortal conseguiria salvar a CML, assim o que poderemos nós nesta mortalidade?
Que tal uma revolução, para começar?
Desde o dia em que o post foi colocado interroguei-me porque MJR o escreveu, porque me pareceu que seria bem mais profundo do que poderia parecer à partida. Estando afastado geograficamente de Lisboa. hoje, dia 10/09/2008 acho que percebi esse porquê... e acho que não me enganei. Fez bem, caro MJR: os princípios não se compram nem se vendem.
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