Muzak...
Por António Barreto
AS FESTAS DE NATAL E DE FIM DE ANO são sempre um ponto alto numa das misérias mais nefastas dos séculos XX e XXI: o barulho! Televisões, rádios, buzinas de carros, altifalantes nas ruas, árvores de Natal sonorizadas, foguetes, apitos de toda a espécie: as forças do mundo unem-se neste propósito desumano e incompreensível que é o de fazer barulho. Como se este fosse uma expressão da alegria, um sinal de felicidade ou um sintoma de satisfação. Como se os decibéis fossem a medida exacta do bem-estar! Não há canto e recanto que escape. Casas particulares, comércios, ruas, alto das montanhas, monte alentejano e escarpa duriense: em todo o sítio chega o barulho da festa, a estridente manifestação de que alguém está vivo e pretende assinalar a todos a sua condição. Ainda não percebi exactamente se as pessoas têm medo de passar desapercebidas, se querem afugentar o diabo que trazem nelas ou se simplesmente querem dar nas vistas. Uma coisa é certa: fazem barulho. Ou não se importam que outros o façam. Tem-se a impressão de que um indivíduo tem receio da solidão e do silêncio. Que já não quer ouvir os ruídos naturais da vida, nem sequer ser ouvido. Que a própria voz humana é incómoda.
(...)
Texto integral [aqui].
Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue, o Jacarandá
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1 Comments:
"Triste sina!"
O último lamento é a legenda perfeita para a fotografia que revelou. Uma fotografia tirada com olho de peixe, que nos enreda num circuito sem saída.
E que não nos ajuda nada.
O que mais me impressiona na maior parte dos críticos, analistas, comentadores, e demais autoridades na abordagem da realidade portuguesa, é o gosto pela fotografia dos espaços deprimidos, da humanidade esfarrapada, das nossas incapacidades colectivas, da nossa impotência de ousadia, das nossas alarvidades, da nossa pequenez no corpo e na alma.
É um modismo que acompanha a tendência nas artes plásticas e que, se os artistas antecipam o futuro, nos carregam desde já com pesados fardos de angústia.
E a fotografia para ali fica exposta como ferida a escorrer os fluidos do corpo agonizante.
Sem que ao fotógrafo ocorra colocar uma fotografia ao lado do mundo possível que ele concebe.
Há sempre uma ponte, um caminho a percorrer, entre o mal e o bem, quaisquer que sejam os sentidos que estes extremos assumam.
Que se espera de um sociólogo que se indigna com a fotografia de um extremo, Que nos mostre o outro para vislumbrarmos o caminho. Não?
Imagine-se que o cronista é um médico a exibir-nos radiografias de corpos infectados. Que se espera dele? Que indique o tratamento.
Ou seremos sociologicamente intratáveis?
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