Esmolas
Por João Paulo Guerra
Portugal recebeu 12,5 milhões de euros da União Europeia para matar a fome aos seus “carenciados” e com esse dinheiro vai comprar alimentos para distribuir por instituições de solidariedade. E assim vai a coesão no espaço europeu e em Portugal.
BEM SE SABE QUE HÁ POBRES e pobreza que não podem esperar pelos efeitos de políticas e reformas e que a fome dos muito pobres exige uma resposta imediata. O que é extraordinário é que duas décadas e muitos triliões de euros depois da integração europeia Portugal precise de estender a mão à caridade dos parceiros para socorrer um quinto da sua população.
Há países da União que tinham economias bem mais atrasadas que aquela que Portugal apresentava nos anos 80, que passaram entretanto por crises financeiras e apertos orçamentais, mas que ultrapassaram os problemas. A Irlanda e a Finlândia, países tantas vezes aludidos quando se trata de prometer este mundo e o outro, perceberam que melhor que dar esmola aos pobres é dar-lhes formação para o futuro. Hoje estão milhas à frente do Portugal que, tal como dissipara o ouro do Brasil, malbaratou os fundos de Bruxelas e hoje pede esmolas. Ou seja: em alguns países europeus os fundos estruturais foram investidos para criar riqueza; em Portugal foram distribuídos para fabricar “ricos” num país desigual. A questão é que a educação, o sucesso escolar, a formação não são susceptíveis de ser inaugurados para efeitos mediáticos. Mas o betão, mesmo com derrapagens e obras a mais, isso sim.
Portugal, país do primeiro-mundo rico, tem hoje dois milhões de cidadãos que necessitam de ajuda alimentar. Com a persistência da política anti-social, mitigada por esmolas, daqui por uns anos terá três milhões.
«DE» de 19 de Setembro de 2008 - c.a.a.
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1 Comments:
Curiosamente, foi essa a quantia que um banqueiro da nossa praça ofereceu a um seu filhinho. Uma atitude compreensível num banqueiro que é muito religioso, mas também tão distraído que confundiu os sacos das esmolas…
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