Cabazes

Por João Paulo Guerra

O Tribunal Constitucional encerrou de vez uma longuíssima pendência jurídica.

POR UNANIMIDADE, o TC validou as escutas telefónicas dos processos do “Apito Dourado” e daqui para cima não há recurso. Juristas que empenharam a sua reputação e instâncias da justiça que hipotecaram a sua credibilidade ficam a partir de agora com menos argumentos, e com crédito reduzido, para prosseguir a defesa de casos de adulteração da verdade desportiva, vulgo batotice. Ou seja: há um ror de processos pendentes relacionados com o futebol em que escutas telefónicas constituem essencial elemento de prova e que agora poderiam seguir em frente, fazendo-se justiça. Mas calma: estamos em Portugal, país de mais excepções que regras. De maneira que haverá sempre mais um alçapão para contornar e protelar o rigor das leis, até à prescrição dos factos.

No mesmo dia em que se conheceu o acórdão, os jornais noticiaram que mafiosos russos terão “comprado” a Taça UEFA do ano passado para o Zenit de Sampetersburgo. A notícia terá surpreendido todo o mundo, excepto Portugal, país de fenómenos, onde alguém até já viu um porco a andar de bicicleta. Se a Máfia russa “comprou” ou não a Taça UEFA isso será caso para a justiça investigar e julgar. Mas o que é certo é que mafiosos detidos em Espanha ter-se-ão gabado ao telefone de tal proeza e os telefonemas foram escutados.

Por cá, como é sabido, não se compram títulos ao telefone. O mais que os telefonemas sob escuta revelam são transacções de cabazes de “fruta”. Ainda recentemente, no Tribunal de Gondomar, lá veio a “fruta” de novo à conversa sobre o nacional-futebolismo. De maneira que, para além de doutos acórdãos, o que mais conta em Portugal são manhosos procedimentos. E assim, em verdade vos digo que mais fácil será, lá fora, o Zenit ficar sem a Taça que, por cá, alguém ter que prestar contas pelos cabazes de “fruta” que deu ou recebeu.

«DE» de 3 de Outubro de 2008 - c.a.a.