A crise financeira e a recessão
Por C. Barroco Esperança
COM A MESMA FACILIDADE com que os excelsos peritos mundiais provocaram o terramoto nos mercados financeiros, garantem agora os especialistas que a tempestade já passou.
Compreende-se a piedosa intenção de tranquilizar os cidadãos que sofrem a borrasca e esperam sobreviver à intempérie, mas está instável o tempo e incerto o futuro.
Vale a pena recordar, perante o caos assustador dos mercados financeiros, a reacção dos principais dirigentes mundiais. Bush ficou em estado de choque, tal como no longínquo 11 de Setembro, até que o seu secretário de Estado, co-responsável pela tragédia, propôs o plano de 700 mil milhões de dólares que chumbou no primeiro exame, passou com deficiência no recurso e não resolveu o problema. Era um xarope amargo, criado por Henry Paulson e vendido por Bush, responsáveis pela doença, a pagar em prestações suaves pelas próximas gerações de contribuintes.
Na Europa, enquanto os cúmplices da tragédia, recolhiam magníficas recompensas e as vítimas começavam a perder empregos e poupanças, os principais dirigentes políticos pareciam baratas tontas a hesitarem entre o salve-se quem puder e a resposta concertada dos Estados.
Foi perante a ansiedade e desorientação que apareceu um plano coerente e exequível, da autoria do melhor ministro das Finanças das últimas décadas, o inglês Gordon Brown, que, com a rara intuição da senhora Angela Merkel, foi acolhido pela União Europeia e copiado por outros países e pelos EUA.
Nicolas Sarkozy e Durão Barroso, oportunistas agarraram o comboio do êxito, embora de futuro incerto, e rumaram aos EUA para viajarem de jipe, conduzidos por Bush. Ficou a foto dos dois agentes funerários em visita a um coveiro com contrato a prazo.
Foi o último acto de vassalagem que prestaram ao xerife do Texas.
Etiquetas: CBE
2 Comments:
Percebo bem onde quer chegar mas penso que o raciocínio é forçado.
Sarkozy e Barroso são os actuais responsáveis pela presidência da UE e pela presidência da Comissão; Bush vai ser presidente, quer se queira quer não, até princípios de Janeiro e não seria pensável que a dupla europeia contactasse qualquer dos dois candidatos.
Havendo urgência no estabelecimento de intervenções coordenadas no mercado de capitais parece que não há alternativa senão falar com o xerife incumbente.
Poderia ser o xerife a vir à Europa? Poderia, mas não penso que se alterasse significativamente a questão. Afinal se a reunião for necessária o importante é que se faça.
Ou não?
Estimado leitor:
A sua análise está, do meu ponto de vista correcta. Move-me alguma animosidade em relação aos dois defensores da invasão do Iraque. Sarkozy que, na altura não era poder, também a defendeu.
O assunto é, porém, diferente e o Iraque só remotamente é responsável pelo caos financeiro.
No entanto penso que a Europa devia ter uma voz independente e é mais necessária a unidade europeia para responder à crise do que a habitual subserviência a Bush.
Era Bush quem devia ter vindo à Europa, de facto, ou tratavam os assuntos por outras vias e com técnicos. Depois disso é que os políticos tomam as decisões.
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