O PSD e o abismo
Por C. Barroco Esperança
O PSD ENCONTRA-SE no seu pior momento depois das legislativas em que Santana Lopes conseguiu a maioria absoluta… para o PS.
A sondagem que lhe atribui 26,3 por cento, aquém das últimas legislativas, transporta a memória para o eclipse do partido da Democracia Cristã, em Itália, onde as rivalidades internas e os sucessivos escândalos foram mais poderosos do que a bênção do Vaticano.
Em Portugal, até os casos do BCP e do BPN rivalizam com o do Banco Ambrosiano e não é pelo facto de a corrupção ser transversal a diversos partidos que a constelação de membros de Governos do PSD ligados a fraudes, lavagem de dinheiro e outros crimes pode deixar incólume a imagem do partido. A presidência do BPN, onde graves crimes fiscais terão sido praticados pelo governante que tutelou a pasta dos Assuntos Fiscais e concedeu inexplicáveis perdões, assume o carácter de uma obscena metáfora.
O plano inclinado em que resvala o maior partido da oposição é inquietante para o PSD, delicioso para os ódios intestinos e um forte lenitivo para Marques Mendes e Luís Filipe Meneses, mas é preocupante para o País, sem oposição à direita, e para o Governo que não pode contar com propostas alternativas.
Manuela Ferreira Leite é sem dúvida uma pessoa honesta e com sentido de Estado mas carece de estratégia, ideias políticas, programa e alguma coerência. Não pode rivalizar no voto de silêncio com freiras carmelitas, durante quase 40 dias, e compensar com uma torrente de declarações, contrariadas por membros do PSD, e, a seguir, por ela própria.
MFL não pode condenar a política do PS sem dizer qual é a sua, enfurecer-se com o aumento do salário mínimo e desdizer-se a seguir, ser contra todas as obras públicas e negar-se a apontar quais as que cancelaria.
E não pode, se quiser salvar o PSD, dizer que nunca votaria em Santana Lopes – medida de elementar higiene política –, e deixar no ar a hipótese de abençoar tal candidatura à câmara de Lisboa, por mais desprezo que a cidade lhe mereça.
Em tal desnorte não surpreende que se junte ao PCP e ao BE na contestação à avaliação dos professores, instituída num Governo do PSD, cavalgando a onda de medo e descontentamento dos docentes.
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