20.1.09

Retrato da educação

Por Alice Vieira
Público: Esta é a segunda greve de professores, este ano lectivo. Em que é que estas acções influenciam a qualidade da escola pública?
AV: Os professores têm um calão muito próprio e gostava que um professor e a senhora ministra da Educação se sentassem e me explicassem o que é que é a avaliação? O que é que os professores têm que fazer? Para eu perceber! Os professores dizem que têm muitas fichas para preencher. Que tipo de fichas? O que é que a ministra quer fazer com aquilo?
Público: Sente que a opinião pública tem as mesmas dificuldades em compreender o que se passa?
(...)
Texto integral [aqui]
NOTA (CMR/AV): dado que esta entrevista está a ser divulgada em vários blogues (embora, em certos casos - como sucede no «Da Literatura» -, apenas tenham sido afixados excertos), decidiu-se premiar, com o livro cuja capa aqui se vê, o autor do melhor comentário que venha a ser feito, aqui, até às 20h do próximo domingo.
Actualização (26 Jan 09/10h50m): de acordo com a opinião dos dois elementos do júri, foi decidido atribuir o 1.º prémio a João e o 2.º a 'Fartinho da Silva'. Assim, pede-se a ambos que, nas próximas 48h, indiquem as moradas para sorumbatico@iol.pt. João receberá o livro indicado, e 'F. S.' receberá um outro, surpresa. Obrigado a todos!

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9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Excelente!

Bravo!

Cumprimentos

21 de janeiro de 2009 às 00:08  
Blogger João said...

Enquanto professor estagiário (ou estagiário como professor, melhor dizendo), sou avaliado por todos os gestos que faça em todas as aulas. Sou avaliado por conhecimentos científicos e pelo comportamento dentro da sala de aula, desde o relacionamento com os alunos (que eu acho importantíssimo e fundamental para um bom clima), até aos gestos que faça (a forma como gesticulo, se coloco as mãos nos bolsos, se cruzo os braços, etc.). Não me assusta essa avaliação, como não me assustaria uma avaliação futura se fosse justa. E mesmo nesse caso, não me assusta, porque estou ciente da função que é ser EDUCADOR.
Há vários aspectos que temos que tomar em atenção quanto ao futuro da educação em Portugal. Esse futuro não é bom, principalmente quando a maior parte dos professores da velha guarda caminha para a reforma, sobretudo, pelo "cansaço" a que são submetidos. Estas reformas precoces vão fazer com que próximas gerações de professores não coabitem com os mais velhos (muitos deles, grandes mestres no ensino da aprendizagem), o que desde logo pode ser problemático para professores mais novos.
Outro aspecto é a formação dos professores, que a Drª. Alice Vieira referiu. Actualmente as universidades, através dos seus catedráticos professores, tendem a formar pessoas más, rancorosas, vingativas e desumanas. E nada pior do que ter um aluno que ao passar para o outro lado leva essa bagagem da universidade.
Um professor nunca deveria esquecer que um dia foi aluno, mas deve saber exigir o essencial para o desenvolvimento do aluno enquanto pessoa na sociedade.
Tudo isto para dizer que a Avaliação, que tanto se fala agora, é uma causa de um acumular de situações penosas no ensino. E, muitas vezes, originadas por professores de ocasião, porque a vida assim proporcionou, e não por aqueles que o são por vocação, por amor à profissão de professor/educador.
Se, por exemplo, sempre invocam que candidatos a médicos deveriam fazer testes para conhecer a sua verdadeira apetência para a medicina, porque não fazer o mesmo a professores? Não fazer o que a Ministra quer, depois de licenciados, querendo etiquetar os professores.
Porquê insistir em estragar o ensino a favor das estatísticas? Será que não há outras estatísticas que deveriam ser melhoradas como, por exemplo, as da segurança? No entanto, eu nunca vi um juiz ser severamente achincalhado, tampouco avaliado, por frequentemente soltar criminosos.
Talvez quando eu estiver cansado do ensino, alguém se lembre de dignificar os professores, como outrora faziam, e como é merecedor. Pois a sabedoria do mundo nasce num professor.
Peço desculpa pela extensão, mas como é um assunto que particularmente me interessa acabei por me alongar.

21 de janeiro de 2009 às 12:08  
Blogger Sobolas said...

Exigi-mos explicações Sr.ª Ministra, esclarecimentos de dúvidas, objectivos a atingir e o porque desta metodologia.

Já é tempo de Portugal entender exactamente o que se passa, e o que se fará!

21 de janeiro de 2009 às 16:01  
Blogger Fartinho da Silva said...

Relativamente a esta entrevista, considero que não vai ao cerne da questão.

O cerne da questão tem a ver com os conceitos de escola, professor, aluno e encarregado de educação. Infelizmente o país andou nos últimos vinte anos a brincar ao ensino.

A escola foi transformada numa espécie de centro de guarda e entretenimento de crianças e jovens, na qual é proibido ENSINAR, ESTUDAR e APRENDER.

Para se perceber bem ao ponto a que se chegou, no novo Estatuto da Carreira Docente a palavra ENSINAR não aparece ao longo do texto...!

Portanto, relativamente à escola é absolutamente necessário recentrar a sua missão naquilo que a mesma sabe fazer muito bem: TRANSMISSÃO DOS CONHECIMENTOS E DA CULTURA conquistados com tanto sacrifício pelas gerações anteriores.

Relativamente ao professor, hoje o professor é assistente social, psicólogo, sociólogo, administrativo, animador e quando sobra algum tempo ensina umas coisas, que não podem dar muito trabalho aos alunos!

Assim é necessário recentrar a missão do professor naquilo que ele sabe fazer muito bem: ENSINAR.

Em relação ao aluno, hoje o aluno é tratado de forma infantil e é visto pela tutela, pelos imensos burocratas e pelos "cientistas" e "especialistas" da educação como um autêntico imbecil porque consideram que nada de muito difícil lhe pode ser ensinado porque pode ficar qualquer coisa como traumatizado ou pior ainda pode ficar com aversão à escola!

Desta forma é necessário perceber de uma vez por todas que os alunos têm que ESTUDAR, têm que RESPEITAR o professor e os outros alunos.

Na escola actual, o encarregado de educação é visto como alguém cujo educando foi nacionalizado pelo Estado. Portanto é alguém passivo que nada tem a dizer ou a fazer em relação à educação do seu filho!

Relativamente ao encarregado de educação, é absolutamente necessário que o Estado perceba de uma vez por todas que tem que ser ele o responsável pela EDUCAÇÃO do seu educando, como é óbvio e evidente.

Para se perceber bem o delírio a que se chegou na escola pública, um professor do 1º Ciclo do Ensino Básico tem EXACTAMENTE o mesmo Estatuto da Carreira Docente que um professor do ensino secundário....!

Mas este não é o único delírio, hoje TODOS os exercícios de Matemático no 3º Ciclo são constituídos no seu enunciado por laranjas, maças, piscinas, ipod, etc.. Ou seja a abstracção é vista pela tutela como algo a evitar!

Depois de ter enunciado alguns dos aspectos que transformaram a escola pública num dos principais factores de exclusão social do país, não posso deixar de dizer que não acredito que no actual sistema político alguma coisa de muito significativa seja alterada, senão vejamos, alguém acredita que algum governo faça as tais reformas que o sistema necessita? Repare-se na impopularidade das mesmas:

- Recentrar a missão da escola naquilo que sabe fazer: a transmissão dos conhecimento e da cultura conquistadas pelas gerações anteriores;
- Recentrar a missão do professor naquilo que sabe fazer: ENSINAR;
- Recentrar a missão do aluno naquilo que supostamente deveria fazer: ESTUDAR;
- Recentar a missão do encarregado de educação naquilo que sabe fazer: EDUCAR;
- Separar as carreiras de professores do primeiro ciclo da dos professores do 2º ciclo, 3º ciclo e secundário;
- Devolver a autoridade à escola e ao professor;
- Criar exames nacionais exigentes e rigorosos aos alunos de dois em dois anos a todas as disciplinas;
- Avaliar os professores tendo em conta o resultado dos seus alunos nos exames;
- Criar escolas profissionais EXIGENTES;
- Reduzir de forma dramática o tamanho absolutamente grotesco do Ministério da Educação e de todos os seus inúmeros tentáculos;
- Reduzir de forma dramática o número de Escolas Superiores de Educação existentes em Portugal;
- Acabar com a brincadeira nas restantes Escolas Superiores de Educação - onde prevalece a forma em relação ao conteúdo;
- Terminar com os cursos "via ensino" nas Universidades.

Estas reformas que ninguém ousará colocar em prática são essenciais para por a escola pública ao serviço do país, mas quantos votos perderia o governo que as colocasse em prática? Quantas pessoas de esquerda saltariam a terreiro gritar: "Fascistas"?

Uma coisa posso dizer: filho meu na actual escola pública, nem pensar; é que o meu filho irá competir numa economia global com espanhóis, suecos, finlandeses, alemães, austríacos, belgas, holandeses, polacos, etc., etc., e como tal não se pode dar ao luxo de andar a brincar às experiências pedagógicas de meia dúzia de iluminados!

21 de janeiro de 2009 às 17:20  
Blogger Fartinho da Silva said...

Peço imensa desculpa pelas gralhas, reparei apenas agora...

21 de janeiro de 2009 às 19:58  
Blogger mariazita said...

Excelente, de facto. Sobretudo vindo quem vem - Alice Vieira é viúva de Mário Castrim. Para quem não saiba, julgo que uma pesquisa no Google esclarecerá, pelo menos em parte.

O "politicamente correcto" ou o "medo" de chamar os "bois pelo nome" conduziu a este estado de coisas. As impunidades, de cima a baixo, também têm ajudado.

França, Inglaterra e Espanha viveram já esta situação na educação - em França e Inglaterra foi muitíssimo grave.

Resolveram os 3 países responsabilizar os pais, podendo até resultar em prisão. Nós por cá vamos encolhendo os ombros, até um dia.

Penso que os professores, após a conturbada fase de avaliação, terão que ser respeitados e, para isso, têm que se dar ao respeito.
E não é seguramente indo dar aulas de calções ou com vestuário transparente a deixar ver o fio dental...

Há um 'pequeno/grande pormenor' que me deixa perplexo: todos os colégios privados exigem uniforme ou bata; porque é que não é assim no ensino básico público?

As escolas transformaram-se em desfile de marcas, do vestuário ao estojo e à mochila!
Há inclusivamente crianças e jovens que se recusam a ir à escola se não tiverem tudo de marca. E os pais, a quem não sobra dinheiro no fim do mês, vão na conversa.

A bata não será muito mais democrática?
Responda quem souber.

22 de janeiro de 2009 às 20:26  
Blogger João Silva said...

"E, muitas vezes, originadas por professores de ocasião, porque a vida assim proporcionou, e não por aqueles que o são por vocação, por amor à profissão de professor/educador."

Só quero deixar uma pequena achega: os melhores professores de física, por exemplo, são aqueles que gostam mesmo de física e não de "educar"!
A degradção da escola é sintomática da falta de gosto pelo conhecimento.

E agora vou ler "Os Maias", que o livro não se lê sozinho.

23 de janeiro de 2009 às 19:57  
Blogger Mg said...

Como nota prévia, importa referir que não considero os funcionários públicos, e, neste particular, os professores, como a causa de tudo quanto de mau temos por cá.
Há, obviamente, muitos bons professores (funcionários públicos, entenda-se), e aqueles que são muito maus.

No entanto, esta problemática dos professores confunde-se, e muito, no meu entender, com a problemática geral que afecta os funcionários públicos.
São, regra geral, funcionários que nao têm patrão (se considerarmos a lógica subjacente ao sector privado), que nunca foram avaliados (ou, se o foram, a avaliação consistiu na tradicional "chapa cinco") e que, ao longo dos anos, foram adquirindo uma série de hábitos e
de "direitos" que tornam muito complicada a introdução de um sistema de avaliação que premeie e distinga aqueles que, de facto, sao bons professores (e, acima de tudo, bons educadores) daqueles que não o são.

Como qualquer aluno, também eu os tive: bons e maus!
Aqueles que, por vezes, até extravassavam as suas funções de ensino, abraçando, quando necessário, as de psicólogo e assistente social e os outros, que, após pedirem a um meu colega de sala que não conversasse com o do lado, e, não obtendo qualquer consequência desse pedido, pura e simplesmente cruzavam as pernas, puxavam do jornal desportivo do dia e davam a aula como leccionada.

Isto, meus amigos, não pode acontecer!
E não pode acontecer porque, quer os bons, quer os menos bons (e mesmo os maus) seriam, aos olhos do Estado, e para efeitos de retribuição salarial e progressão na carreira, considerados como iguais.

Chegados aos 55 ou 60 anos, venham de lá os meus 1500 euros de reforma, porque o meu dever está cumprido!

Há que haver regras e há que haver uma clara distinção entre estes funcionários do Estado (pagos com dinheiro de todos nós), mediante uma avaliação do desempenho das suas funções.

Dirão, então, aqueles que não concordam com esta temática: "nós até queremos avaliação, só não queremos esta avaliação!"

Pois bem, como quem não sabe tende a informar-se junto dos que o poderão saber, tive o cuidado de falar com alguns professores e o mais curioso (ou talvez, até não...) é que nenhum professor me soube dar um exemplo concreto do que estava disposto a aceitar em
matéria de avaliação.

Parece-me, pois, que "sei que não quero esta avaliação, mas também não sei a que quero: o melhor mesmo é deixar ficar tudo como está, nem que para isso não dê mais aulas até ao final do ano".

O problema não é o professor que não quer ser avaliado, o assistente administrativo que, por
portas travessas, consegue estar de baixa médica durante um ano, ou a técnica da Repartição de Finanças que, durante a hora em que lá estive a tratar de assuntos pessoais, passou três quartos desse tempo a falar com uma amiga que já não via há alguns meses (como, apesar de relativamente distantes de mim, falavam em tom suficientemente elevado, dou, desde já, os parabéns à filha da amiga que, finalmente concluiu o curso de enfermagem). O problema é, julgo eu, a quantidade de "vicios" que se vão instalando ao longo dos anos e que tornam um espirito de mudança quase impossível de concretizar.

O facilitismo, o deixa-andar, por vezes o desleixo e a falta de brio, e o comodismo que muitas vezes nos caracterizam são, sem sombra de dúvida, o principal entrave a uma reforma mais profunda na Administração Publica.

Querem usufruir de ADSE, querem 100% do salário mesmo em situação de doença, querem 100% do salário aquando da reforma, progressão automática na carreira, querem isto e querem aquilo, mas nunca, jamais, em tempo algum (oh heresia das heresias!!!) querem ser avaliados...

Mesmo que os exames dados aos alunos sejam integralmente copiados pelo docente do ano anterior, mesmo que a matéria não seja dada nem a 70% do previsto, mesmo que não esclareçam devidamente as dúvidas dos alunos, ou, simplesmente, não mostrem estrutura mental e intelectual
para leccionar.. Mesmo assim, os direitos sim, mas a avaliação não!!!

Qualquer dia, terá o meu filho 16 anos e serei eu a dar-lhe as aulas porque os professores estão constantemente em greve e, para cúumulo dos cúmulos, ainda serei por eles avaliado!

Quando um aluno se esquece de um livro em casa, não faz os trabalhos solicitados pelo professor ou fala demasiado com o colega do lado, é-lhe marcada falta. Quando se diz a um professor, pago com dinheiro de todos os contribuintes, que este passará a ser avaliado, vai
para a rua fazer greve, pois não está disposto a submeter-se a tal tratamento!

E enquanto andamos nestas brincadeiras do faz-de-conta-que-me-estou-a-manifestar-porque-estou-a-ser-espoliado, os restantes países da União Europeia cavam um fosso cada vez maior em relação a nós!

E andamos nisto!

Não concordam? É simples! Vão dar aulas para o sector privado, ou, simplesmente, demitam-se e abracem uma outra profissão.

Vejo-os a falar, a gesticular, a esbracejar e a berrar como se os levassem à guilhotina, mas não vejo ninguem a abandonar o sector publico, a favor do privado.

Porque será?

(perdoem-me o desabafo e leiam estas linhas tendo em atenção o que disse no inicio deste meu
"testamento")

25 de janeiro de 2009 às 19:54  
Blogger Fartinho da Silva said...

Os comentários de Mg são um hino à demagogia e ao populismo. Mg parte do pressuposto que os professores devem ser "e, acima de tudo, bons educadores" e até "Aqueles que, por vezes, até extravassavam as suas funções de ensino, abraçando, quando necessário, as de psicólogo e assistente social".

Mg, chega mesmo a afirmar que os professores não querem ser avaliados, que os mesmos cruzam as pernas e lêem jornais, que recebem 1500 euros, que se reformam com 55 anos, que conseguem "baixas" de um ano, que são facilitistas, que usufruem (vejam lá) de ADSE, que até usufruem de 100% da reforma (deve ser um escândalo), que possuem um sistema automático de progressão. Concluiu mesmo que devido às greves dos professores, qualquer dia terá que ensinar o filho... compara deveres dos alunos com deveres dos professores....!

Mas a expressão mais demagógica e populista á a seguinte: "E enquanto andamos nestas brincadeiras do faz-de-conta-que-me-estou-a-manifestar-porque-estou-a-ser-espoliado, os restantes países da União Europeia cavam um fosso cada vez maior em relação a nós!"

Portanto para Mg, a culpa do atraso português deve-se aos professores só falta mesmo afirmar que a extinção dos dinossauros se deveu aos... professores!

Depois compara sector público com sector privado!

Caro Mg, se o sector privado fosse tão bom como tenta fazer crer a nossa economia não estava anémica vai para 8 anos, ou será que estava? Pensando melhor, a culpa é dos... professores!

25 de janeiro de 2009 às 20:46  

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