19.1.09

Furtar

Por João Paulo Guerra
Há 28 detidos por corrupção e peculato nas cadeias portuguesas
SÓ FALTAM, POIS, 4.999.972 presos para completar o meio país que anda a enganar ou mesmo a roubar outro meio. Falando sério. Os portugueses pactuam com a corrupção, como concluíram os autores de um livro recentemente publicado, e a vista grossa dos poderes à alta criminalidade económica assume foros de completa indecência.
Um dos casos mais chocantes em matéria de combate à corrupção foi a reviravolta que as propostas do ex-deputado João Cravinho levaram até se tornarem num pacote de inocuidades, sem efeito prático. Tive oportunidade de escrever sobre o assunto uma reportagem que deu manchete no Diário Económico. Todos os especialistas que ouvi depositavam confiança na iniciativa legislativa de Cravinho. Mas a iniciativa morreu e a prevenção e combate à corrupção ficou a zeros.
(...)
Texto integral [aqui]
Passatempo com prémio (CMR): Em colaboração com J. P. Guerra, será premiado o autor do melhor comentário feito a esta crónica até às 2oh do próximo dia 22, quinta-feira; v. comentário-1.
Actualização (23 Jan 09/12h30m): ouvida a opinião do júri (que, desta vez, incluiu o autor da crónica), foi decidido premiar Pagamico, Mg (primeiros, ex-aequo) e Alex-HAL. Pede-se-lhes, pois, que nas próximas 48h escrevam para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio dos livros. Obrigado a todos!

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9 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Durante muito tempo, pensou-se que «A Arte de Furtar» tinha sido escrita pelo Padre António Vieira - tenho até o 'facsimile' da página de uma velha edição onde isso está escarrapachado.
O certo é que parece que não foi, mas, como bem podia ter sido, o prémio será um exemplar dos famosos «Sermões».

Como alternativa (ou como prémio adicional), e dado que o tema é a 'Justiça' (ou, melhor, a falta dela...) haverá um livro de BATMAN: «LIGA DA JUSTIÇA - Mudanças»

19 de janeiro de 2009 às 17:15  
Blogger Pagamico said...

Para mim que até estou a ficar misantropo, o problema não é meio país que anda a enganar ou mesmo a roubar outro meio. O problema é cada meio querer estar do lado que engana e rouba.
Um abraço

19 de janeiro de 2009 às 21:40  
Blogger Mg said...

Em tempos idos (mas com significado ainda bem vivo e actual) o Zeca dizia que eles comem tudo e não deixam nada. Vampiros que se movimentam em ambientes escuros e que, por instinto de preservação da espécie, preferem encobrir as tramóias dos seus, em vez de se preocuparem com os que os rodeiam, mas que (desprivilegiados ou honestos??) não possuem asas como as suas.
Hoje como eu, e amanhã comes tu.
Até um dia, em que não restará uma única gota de sangue para dividir por quem quer que seja.
Mas nesse dia, já será tarde demais....

20 de janeiro de 2009 às 13:28  
Blogger JSA said...

Num livro que estou a ler sobre a mentalidade sérvia (e escrito por um sérvio), há uma parte que se poderia aplicar a Portugal. Nela se fala de ter as coisas a funcionar porque "se conhece alguém, desde os tempos em que esse alguém ainda não era ninguém".

O problema da corrupção tem que se atacar desde os níveis mais baixos. Note-se o caso dos médicos de província. Estes ficam frequentemente nas aldeias ou vilas de fora das cidades onde prefeririam exercer porque podem acrescentar aos rendimentos todos os produtos que os aldeões vão deixando. Uma garrafinha de vinho, uma galinha, uns legumes, etc. São apenas "atenções", é um facto, mas são corrupção, na realidade, uma vez que é assim que conseguem manter esses médicos na provícia.

Como resolver isto? Não é fácil, é verdade. O problema é essencialmente estrutural. A corrupção existe porque o país vive de um sistema económico simples: obras públicas. Enquanto estas existirem, a economia do país mexe-se. Mas devido a este sistema as obras públicas acabam por ser fonte de corrupção e influências, as quais acabam por percolar pelo sistema abaixo.

A corrupção começa no topo, mas tem os seus fundamentos na base. Infelizmente não tenho uma solução real.

PS - há uma nota extra. Menos casos de corrupção não significa que estes não existam. Pode significar simplesmente que são melhor organizados.

21 de janeiro de 2009 às 09:32  
Blogger Unknown said...

De Crimes de Colarinho Branco está o nosso país cheio!
É inacreditável a inoperância da nossa máquina legislativa, que só tem força para criar leis, ficando a sua aplicação por realizar...
Tive um professor que dizia que o Legislador sofria de incontinência legislativa. Criava leis e mais leis! Tantas leis, que às tantas já não se orientava no meio delas! Ora quem não se orienta e não domina, jamais poderá realizar uma aplicação correcta das mesmas! Por este motivo e tantos outros, estamos da forma que estamos, toda a gente faz o que quer e o que bem lhe dá na gana, e se aparece um indesejável que se apercebe, toca a abrir a algibeira para o calar, ou então trocam favores, que fica mais barato!
É triste ver que a corrupção está infiltrada em todo o lado, até na justiça, possivelmente. Tenho cá a minha ideia que os casos mediáticos nunca dão em nada por algum motivo... os fortes estão sempre protegidos pelos logos braços da corrupção. O símbolo da justiça é uma mulher vendada, com uma balança numa mão e uma espada na outra.É por isso que se diz que: "A Justiça é Cega!". A questão que deixo em aberto é se é mesmo cega, ou se muitas vezes se deixa cegar?

21 de janeiro de 2009 às 22:18  
Blogger Sobolas said...

Nunca poderemos baixar os braços a Luta contra a Corrupção.
Rodeados de Corruptos, compactuando com eles...em nome de um "Bem Estar", de um Estatuto de Poder e Social mais "elevado".
Tudo em nome das aparências.
Essa é a realidade Portuguesa, que se ensina na Vida e nas Famílias.
Pudera que se acabe por aliar a fraudes e crimes..afinal mais vale cair em graça que ser engraçado.

A Corrupção deverá ser combatida nas escolas, desde a primeira infância, abrir os olhos ao povo para os verdadeiros valores... e faze-los ver que juntos podere-mos acabar com a Fantochada..que Nós próprios admitimos no nosso País e que acabamos por ser participantes..activos ou passivos.

As leis existem, temos de torna-las vigentes e fortes, aplicando-as sem dó, sem cegueiras, sem bolsos recheados e principalmente sem medos.

Saúdo todos que a combatem, Saúdo-o Sr. João Paulo Guerra.

22 de janeiro de 2009 às 10:42  
Blogger Carlos Antunes said...

"Vergonha é roubar e ser apanhado", já me dizia o meu avô.
Mas no tempo em que ele o dizia, roubar era uma evidência simples... Ou se estava com o objecto roubado ou não.
Hoje em dia, o verdadeiro crime dá-se numa sala a meia luz com alguém a transforma 5's em 8's e 1's em 7's (ou algo ainda menos mitificado, alguém acrescenta um 0 no topo de uma folha de cálculo e no final já ganhou uns milhões de euros).
Para provar isto já não bastam as evidências, é necessário passar pelas alegações de "erro informático", "não estava ao corrente" ou (a minha favorita) "estou noutro país, apareço para o julgamento quando este for justo".
Sejamos francos, hoje em dia burlar tornou-se na reinterpretação das teorias evolutivas de Darwin, a subsistência do mais apto, sendo que o mais apto é aquele que melhor rouba sem que se dê por isso ou que pior rouba mas que nega infinitamente.
Não há mais consciência no que toca a estes actos.
Talvez fose importante ensinar consciência às pessoas, mas agora o que verdadeiramente importa é a subsistência e até isso é mal interpretado para que cada um garanta os seus piores interesses...
Então o que contam estas 28 pessoas? Contam estatisticamente para dizer que se faz, apesar de tudo, algo contra estes casos.
Mas somente isso, uma porta de escape para a não humilhação total (embora a ridicularização seja inevitável) e para usar como contra-argumento e manobra de distracção por aqueles que ainda estão à espera da sua oportunidade de furtar o que puderem!
Depois já todos desconfiam de todos e até mesmo os que não "metem ao bolso" só não o fazem porque não podem, porque todos o querem fazer na mentalidade do vizinho do lado.
Nem que seja uma caneta, de certeza que o tipo mais honesto já meteu ao bolso!
E pronto, cá andamos nós, entre as evidências de quem pode e a inocência de quem ainda não percebeu que não pode.
Bastava criarem-se critérios sérios, justos e inescapáveis para a tribuição de empregos, subsídios e contratos e isto sempre melhorava um pouco.
Mas isso dá trabalho, incomoda e não é visível (não dá votos, leia-se).
Portanto, mais vale prender 28 e fazer alarido do que não prender ninguém e acabar de vez com a corrupção...
E nós lá vamos sobrevivendo, que eu não venço, não posso e não tenho ainda nada de meu...


PS - E não nos esqueçamos que da forma como as prisões andam atafulhadas, se prendessem mais destes corruptos, lá ia ser uma chatice dos diabos! É que o ladrão de carros não gosta do mau ambiente que causam os corruptos na comunidade prisional...

22 de janeiro de 2009 às 15:15  
Blogger Susana Ricardo said...

Aqui há uns meses fui ver um filme português intitulado Arte de Roubar.
Estava à espera de ficar hora e meia a ver envelopes a trocar de mãos, conversas cifradas em produtos de mercearia e telefonemas para estações de televisão feitas de países tropicais.
Afinal aparecem dois bandidos de arma na mão a invadir uma mansão...
Bom sinal para o Cinema Português, suponho, que já passou do velho neo-realismo à ficção "pura e dura"...

22 de janeiro de 2009 às 16:11  
Blogger mariazita said...

Na sua sabedoria, Honoré de Balzac afirmou um dia:
«As leis são como as teias de aranha, que aprisionam as moscas pequenas e deixam passar, livremente, as grandes!»
Para quê tantos "inquéritos, tantas farsas sob nomes bonitos, simulando tomadas de atitudes consideradas dignas dum Estado Democrático de Direito, quando apenas servem para distrair-nos e fazer-nos gastar o dinheiro que nos falta para comer e vestir, comprar medicamentos e os livros dos filhos..?

22 de janeiro de 2009 às 19:28  

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