6.2.09

Os 80 anos de Tintin

Por Joaquim Letria
QUIS SER JORNALISTA porque Tintin me convenceu de que os jornalistas eram aventureiros, viajavam muito e tinham sede de justiça. Eu acreditei que ser correspondente algures no mundo, viver emoções, percorrer muitos países, ter um amigo rico e grande bebedor, que dizia muitas asneiras, era o melhor para andar com cantoras de ópera gordas e namoradeiras, cientistas despistados, um cão esperto, polícias burros, sherpas simpáticos, sempre em movimento por enigmáticas cidades, diferentes continentes envolvidos em conflitos, atravessados por guerras e revoluções.
Este meu amigo, que me convenceu do que não existe, fez agora 80 anos, não envelheceu, não se inscreveu nos Repórteres Sem Fronteiras nem se sindicalizou. Ninguém lhe conhece namoradas nem tendências gay. Nunca o abandonei por ilhas, ceptros, lótus azuis, bolas de cristal, templos secretos, voos longínquos, viagens à Lua e o Tibete em paz. Mas já ninguém quer ser jornalista por causa dele.
«24 Horas» de 6 de Fevereiro de 2009

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